Conhecer Maya desde quando eram bebês dava a Megan o privilégio de conhece-la melhor do que qualquer um, e ainda assim, se surpreendia com certas reações e atitudes tomadas por ela. Quem quer que as visse juntas notava com facilidade quem era a cabeça da relação, mas aparentemente, até as pessoas mais calmas e pacientes como a morena se deixavam levar pela raiva. E foi em uma tarde de começo de primavera que a mais velha se pegou lembrando de uma fatídica noite, cerca de um ano antes, quando o ódio foi instaurado na relação entre a melhor amiga e o primo de seu namorado.
— Tá rindo de que? – A garota surgiu, voltando da cozinha com duas canecas de double-double em mãos, estendendo uma para Megan enquanto se sentava no sofá, alcançando o controle da televisão.
Ela recebeu a caneca com um sorriso contido, fazendo-se de desentendida por alguns instantes antes de tomar um gole da bebida.
— Estava me lembrando do dia em que o Chris destruiu suas expectativas sobre ele. – Riu fraco, umedecendo os lábios e ganhando como resposta uma encarada digna de prêmio.
Conhecer Maya desde o princípio também dava a Megan o dom mágico de saber como reagir a todas as ações dela; como reagir as explosões de raiva, as crises de ansiedade, as crises de choro, aos dias ruins, a quase todas as manifestações dos sentimentos de sua melhor amiga. Conhecia Maya melhor do que qualquer outra pessoa no mundo seria capaz, e as vezes saber tanto sobre alguém não era tão bom, porque por mais que conhecesse cada detalhe, as vezes sentia que não era o suficiente.
Anos antes, era mais fácil de lidar com as explosões de raiva porque a mais nova simplesmente explodia em choro, também. Com o passar dos anos, infelizmente, ela adotou o costume nem um pouco saudável de ficar quieta sem querer falar com ninguém – embora fosse uma exímia tagarela.
Mas momentos como aquele faziam com que ela se esquecesse de qualquer insegurança existente naquela amizade. Era divertidíssimo conseguir olhar para Maya e enxergar a raiva pintada em vermelho escarlate toda vez que alguém mencionava Christian. E ela quase sempre tinha alguma implicância ou retórica, como se se preparasse para esses momentos.
— O dia que você e o Lucian transaram com a porta aberta depois do show e a dona Julieta apareceu na casa deles, pegando vocês no ato? – Respondeu arqueando uma sobrancelha, em um espaço de tempo tão curto que Megan quase se engasgou com a bebida em sua caneca, sentindo as bochechas arderem com a lembrança. Sem a olhar, Maya concluiu em um tom tão sarcástico quanto amargo. – Ah, sim. Me lembro bem da ocasião.
E eram respostas como essas que motivavam os Mancinelli e as amizades da garota a continuar com as implicâncias, quase como se fosse um desafio do tipo "qual lembrança será relembrada, hoje?". Maya desconfiava de que eles faziam de propósito, e isso a tirava mais do sério do que qualquer implicância do moreno.
Era fácil sentir um ódio genuíno por ele – ele não se esforçava o mínimo em ser gentil com ela. Nunca se esforçou, desde o primeiro dia em que se viram, há quase dois anos. Aquela altura, ela sentia que estariam fadados a se odiarem pela eternidade, uma vez que ela também já não fazia mais questão nenhuma. Se ele não tinha porquê ser legal com ela, ela também não tinha porquê ser legal com ele, e levariam aquilo daquele jeito até se cansarem. Ou até terem corda.
— Você ensaia essas coisas na frente do espelho? – Megan se virou para ela, tomando o controle de sua mão e colocando em uma série de vampiros, a contragosto da amiga, que a encarou confusa. – Não, é sério. Você ensaia essas coisas no espelho? Porque é impossível que seu cérebro acesse informações tão antigas com tanta rapidez. – Explicou em um tom agudo, fazendo com que a outra risse anasalada.
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Highway to Hell
RomanceInferno. Um substantivo bastante comum a todos, tendo como principais atribuições a habitação dos mortos, e o local para onde as almas pecadoras se destinam após a morte de seus corpos físicos, onde são submetidos a penas eternas. Felizmente...