O início de um sonho

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"Há sempre um passado que com marcas vai traçar..."

—Rosa de Saron

Acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. "

- Joel 3.1

Uma garota ingênua que achava que ser feliz era seu destino. A pele clara, um pouco magra, cabelos não muito longos e pretos, olhos claros como o céu, uma cor que era tão intensa que parecia única e quem a olhava encantavam-se. Essa sou eu, Giovanna Bhélline Collins que em seu passado carregava o sobrenome Garcia. Nascida no dia 14 de maio de 1982. Uma menina que levava a felicidade no olhar e que, caminhava sempre disposta a lutar pelo que queria. Tudo era normal, uma vida comum como a de qualquer outro da minha cidade. No entanto, minha mãe e eu éramos muito pobres, a ponto de passar necessidades. Não tive a oportunidade de ter a regalia que muitos obtiveram. Minha casa precisava com urgência de uma reforma, quando chovia, as goteiras molhavam tudo e quando o verão chegava, aquilo tornava-se um forno. Não tinha celular, nem uma TV que pegasse os canais em boa qualidade, nem computador e nem sequer o quarto dos sonhos. Meu estilo de roupa não era muito voltado para a moda, não me importava muito em combinar cores. Meu cabelo, sempre preso. Não tinha muitos amigos, minha infância havia sido um tanto conturbada, os dentes tortos, os óculos quebrados e remendados, pois minha não tinha condições de concertá-los e por não ter quase nada, sofri bullying durante muitos anos na escola.

Primeiro ano do ensino médio, nunca havia repetido sequer um ano letivo, apesar das dificuldades em casa, fazia de tudo para ser uma aluna dedicada sempre conseguia tirar notas altas em todas as provas e bimestres. Nas minhas horas vagas, lia um bom livro da biblioteca da escola. E era uma lei ir à igreja aos sábados para o grupo de jovens e aos domingos para as Missas. Cresci sozinha, sem irmãos e nem primos, apenas com meus dois e únicos amigos. Sofia e Miguel.

Sophia tinha cabelos pretos e longos, olhos castanhos claros e tinha quinze anos. Morava duas quadras depois da minha casa, sua família não era rica, mas não chegavam a passar necessidades. A mãe dela, era vendedora. E o pai, era entregador.

Miguel, já tinha dezoito anos e havia acabado de tirar a carta de motorista. Aqueles olhos verdes dele, eram o seu charme. Era alto e tinha cabelos castanhos claro. Ele era a espécie de menino popular na escola, a mãe dele havia abandonado ele ainda recém-nascido. E ele morava com a avó desde os cinco anos de idade. O pai dele, morava no Rio de Janeiro era maestro de uma das maiores orquestras da cidade. E acabou se casando com uma violinista e mudou-se para lá. Ele quis, levar Miguel junto a ele, mas a criança já estava apegada demais a avó para partir.


Juliane Garcia, como para todo filho, era a pessoa que eu mais confiava e amava, independente de tudo. Alta, tinha cabelos longos e olhos pretos, magra e tinha quase quarenta anos. Durante todas as tardes assim que chegava da escola cuidava da casa, por ser filha única, arrumava tudo, cozinhava, lavava a roupa para quando ela chegasse do trabalho pudesse descansar. Ela trabalhava em uma casa bem distante da nossa, cuidando de crianças de um casal. Meus dias eram assim, solitários, cansativos, parados e até mesmo, tristes e deprimidos.

Minha vida inteira perguntava onde meu pai estava e só ouvia ela dizer: "Ele nos deixou e construiu outra família". Crescer ouvindo isso não foi fácil, ainda mais quando chegava os dias dos pais e me batia aquela solidão em ver minha melhor amiga comprando presente, enquanto eu, ficava imaginando o dia em que veria pela primeira vez o meu "herói". No chegar da adolescência, já não me importava mais quem era ele. Aquela inocência de criança, aquela saudade e vontade, destilou-se ao tempo.

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