𝓭𝓪𝓷𝓼 𝓵𝓪 𝓼𝓪𝓵𝓵𝓮 𝓼𝓸𝓾𝓼 𝓵𝓪 𝓵𝓾𝓷𝓮 𝓷𝓸𝓾𝓼 𝓪𝓿𝓸𝓷𝓼 𝓭𝓪𝓷𝓼𝓮

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A lua estendia-se como enxoval matrimonial ao redor de nossos corpos pálidos fundidos pela insaciável vontade de ter-se. O véu outrora ocultava seu rosto de mim, mas agora era o que trazia à luz seus olhos de cigana que tanto me perscrutava.

Seu busto parco inflava vezes e vezes, como se respirar não fosse o ato mais importante no momento e então subitamente lembrasse que precisava disso para viver. E eu bem conhecia a sensação. Afinal, toda a peça que tinha sala nos palcos e apenas a lua como solitária platéia já fora encenada em tantas épocas. O final já é conhecido por todos — menos pelos amantes enfeitiçados e amaldiçoados pelos próprios sentimentos.

Oh! Quanto azar perdura sobre a vida! Contudo não é mais deprimente viver infinitamente sem amor do que morrer por ele?

E não há hesitação em seus atos delicados, porém sei que existe preocupações em sua mente.

"Estamos presos no eterno âmbar de pertencer um ao outro."

"Estaremos mortos antes do pôr do sol."

"Querida, já estamos mortos há muito tempo."

Aquele sorriso mais valia que as noitadas que passava eu, errante pelas ruas parisienses.

"Romeo" o sussurro doce jaz em meus ouvidos e deleita-se na minh'alma.

Estava ela totalmente entregue à mim e eu à ela. Nossos corpos justapostos, ironicamente, nunca dantes tão livres. Palavras nunca ditas ou inventadas foram proferidas como num culto sagrado. Meu âmago ardia em pura brasa pelo fogo alimentado pela venustidade daquele rosto esculpido por anjos.

Compus canções e toda a noite conspirava para enriquecê-la com o piano de garrafas quebradas e o ritmo do coaxar e cricrilar dos animais, que conferiam a perfeita sinfonia que dediquei à minha musa, esta que nua dançava à luz da lua.

O silêncio então recaiu sobre nós como uma mortalha quando o sol despontou. O beijo dourado selou nosso amor para sempre. As faces que outrora denotavam medo e hesitação agora adquiriram um tom de tranquilidade plena. E nossos peitos em perfeita sintonia — não havia o que temer.

O futuro era inexistente. Nada existiria depois daquilo, já estavam mortos. Mas o amor não fora a causa de nosso tão precoce fenecimento. O próprio ato de amar que era a morte. E bem longe de Verona, a sentença permanecia imutável — Romeo e Juliett dilapidados pela vida amarga de rivalidades de sangue, dormiam no berço de amor enlaçados um ao outro, eternamente.

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⏰ Última atualização: Jan 23, 2021 ⏰

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✦ la ballade secrète de Roméo et JulietteOnde histórias criam vida. Descubra agora