Sobre Nós

O despertar

A sala de jantar do exército estava cheia naquela noite, e notava-se de longe o entusiasmo da tropa de exploração perante o vinho que raramente era concedido em dias normais como aquele. Armin estava em uma dessas mesas, ao lado de sua velha amiga Mikasa, que estava nesse momento muito instigada com a história que Eren estava contando aos seus amigos.

Armin estava vagando em pensamentos, mal notando o que seus amigos falavam, quando de repente notou que não tinha reparado em quem comia do seu outro lado, e que só se atentou a isso devido a rapidez que a pessoa levava os alimentos à boca, como se fizesse tempo que essa pessoa não comesse nada. A pessoa estava com parte da cabeça tampada com o uniforme, por isso ele não conseguia ver seu rosto. Então Armin olhou para as mãos da pessoa que mexiam na comida, eram mãos bem delicadas, e a partir daí ele concluiu que se tratava de uma mulher. Em uma tentativa de descobrir quem era a dona daquelas mãos, Armin gentilmente tocou os ombros daquela mulher, que rapidamente indagou:

- O que você quer? - disse Annie em um tom de surpresa. Seus olhos mostravam o quanto ela estava surpresa ao perceber que era Armin que estava ao seu lado. Na mesma hora em que percebeu, suas bochechas coraram instantaneamente. - Ah, Armin! É você... Estou de volta. Como tem passado?

Armin estava igualmente surpreso e ruborizado, quando notou que a mulher ao seu lado era Annie.
-Annie... Então você saiu do cristal, depois de dois anos...- Disse Armin, em uma tentativa de parecer o mais normal possível, sem demonstrar tanto o efeito que a presença de Annie causava nele.

Annie, ainda corada, respondeu:
-Sim, Hange descobriu uma forma de despetrificar o cristal, e me tirou de lá. Sai a pouco tempo, e como estava com muita fome ela me mandou pra cá...
-Entendi... Annie, nesse tempo todo que você ficou presa ao cristal, você tem alguma memória? Você ouviu alguma coisa? Lembra das visitas que teve? - perguntou Armin, claramente demonstrando estar nervoso

Annie ficou extremamente envergonhada com aquela pergunta, pois se lembra que a única visita que recebia recorrente era de Armin. Ela nunca entendeu o motivo que o fazia estar todos os dias contando histórias pra ela, e conversando sobre as mais diversas coisas, mesmo não obtendo resposta alguma dela. Mesmo sem poder se mover e falar dentro do cristal, Armin sempre falava com ela. Com seu jeito doce, sempre perguntava por ela...

-Sim... Eu tenho essas memórias... Lembro de você lá... - Annie fala isso enquanto coloca uma mecha de cabelo para trás.- Me diz, Armin, qual o motivo de você estar lá todos os dias? Por que falava comigo? Não havia ninguém melhor com quem conversar, afinal eu não podia lhe responder. E mesmo assim você ia... Me diz, me faça entender, qual o motivo disso?

Nesse momento, um turbilhão de pensamentos passou na mente de Armin. Ele respirou fundo e disse:
-Annie, você não percebe? Não está claro? Mesmo com a garota que vigiava você vivia tirando sarro de mim por isso?
Annie ficou tão corada que não conseguiu manter seus olhos no de Armin. Ela se virou, abaixou a cabeça e respondeu:

-Nao, eu não entendo... Não entendo porque uma pessoa boa como você se importaria com alguém como eu...
-Annie, eu não gosto desses rótulos sobre o que define uma pessoa ser boa ou não. E eu também cometi graves erros, não sou essa pessoa boa que você acha que sou. Eu também conheci o inferno de ter matado pessoas. E eu não te vejo como uma pessoa má, muito pelo contrário... Há tanto que eu gostaria de lhe dizer... - Armin deu uma leve pausa, colocou suas mãos no queixo de Annie e delicadamente virou o rosto dela para ele, para que ela pudesse olhar nos seus olhos enquanto dizia isso, e continuou
- Sabe, Annie... Tem coisas que eu gostaria de te falar, que há muito tempo eu guardo, e que esperei todos esses dois longos anos pra ter a oportunidade de dizer. Você me ouviria?
-Sim.. -sussurou Annie, afastando um pouco seu rosto das mãos de Armin, pois não queria que ele visse o quão envergonhada ela estava por essas palavras

-Entao, mais tarde, quando todos estiverem em sua cama, me encontre lá fora, perto do lago. Há algumas coisas que eu gostaria de lhe dizer- finalizou Armin, deixando a mesa.

** FIM DO PRIMEIRO CAPÍTULO