Sulafat

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AVISO DE GATILHO

O capítulo a seguir contém cenas que podem não ser adequadas a todos os públicos (catástrofes naturais).

Jungkook acorda deitado na própria cama. Está debaixo dos cobertores, os pés descalços, a luz forte do sol de Pukat reluzindo através da janela. Não se lembra de mais nada do que aconteceu desde o interrogatório. Por um momento, cogita se tudo aquilo foi  mesmo de verdade. É de manhã e está acordando em seu próprio apartamento, onde devia estar. Nenhum objeto parece ter sido tirado do lugar, a câmera e a bolsa estão sobre a escrivaninha como lembra de ter deixado. Os vidros da janela se encontram fechados, como de costume. Por todo o cômodo, não há nenhum indício de que nada anormal ocorreu. Tinha sido tudo um sonho?

Não. Essa é a resposta dada pela leve pontada de dor que sente no lado direito do pescoço quando se mexe para levantar. É provavelmente onde injetaram sejá-lá-qual-substância pra que ele desmaiasse de novo. Passa a mão pela nuca tentando aliviar a tensão, e vai para frente do espelho. Está usando a mesma roupa de quatro dias atrás e, olhando com bastante atenção, consegue ver um pequeno pontinho vermelho na lateral do pescoço, a marca de uma agulha.

Sua última gota de sanidade o manda ir à procura do telefone. Sabe que foi real, mas o desejo gritante de que aquilo não tivesse realmente acontecido o faz querer duvidar. Desbloqueia o aparelho. Não há nenhuma ligação perdida, nenhuma mensagem estranha ou de número desconhecido. O quão bons aqueles caras eram?! Jungkook podia jurar que até o nível da bateria era o mesmo de quando mexeu no celular pela última vez. Apesar de tudo, a data exibida num branco brilhante no topo da tela não o deixa mentir para si mesmo: quatro dias haviam se passado.

Jeon suspira em frustração, joga o celular na cama e passa as mãos pelo rosto. Tinha sido sequestrado, mantido preso por dias e aparentemente agora era obrigado a ser algum estranho tipo de informante.  Definitivamente o tipo de coisa que precisa ser repetida várias vezes em voz alta até ser assimilada, completamente digerida. Talvez fosse legal poder acreditar que a parte mais difícil seria mesmo não contar pra ninguém.

Depois da pequena crise de choque de realidade, vai direto para o chuveiro. Toma um banho quente e longo. Deseja poder ficar ali tempo o suficiente pra acabar com a água do mundo inteiro, o calor das gotas contínuas acariciando-lhe a pele e junto ao vapor anestesiando seus pensamentos. Há vários afazeres esperando por ele, porém.

Mesmo que as coisas no Kizur não estejam tão intensas ao ponto de exigirem matérias diárias, Jungkook costuma fazer coberturas semanais e ajudar na edição de outras coisas. Depois de quatro dias inativos, não consegue nem imaginar a quantidade de trabalho que o espera. Aliás, por que não pensaram nisso? Questiona a si mesmo. Por que não arranjaram alguém pra fazer todo o trabalho dele enquanto o mantinham detido e bombardeavam-no de perguntas? Acha que é o mínimo que deveriam ter feito. Se pudesse, exigiria um atestado de impossibilidade de trabalhar por ter sido sequestrado pelo exército.

Ele precisa de cafeína antes de começar a pensar em voltar para a rotina normal. De cafeína e de alguma comida que ajude a melhorar seu humor. Vai até a cozinha e faz tudo no automático. Pega no armário a caneca preta de sempre, abre a geladeira e antes de mais nada se serve um pouco de água gelada. Enquanto mata a sede, a visão de algo diferente na superfície branca do refrigerador faz o piloto automático parar de funcionar.

Em meio a alguns lembretes e contas não pagas grudadas na geladeira com imãs de super-herói, um bilhete que o jornalista não reconhece, numa letra que não é a sua. "Tenha um bom dia" Ao lado da frase, uma carinha sorridente.

Um arrepio percorre o corpo de Jungkook. Ele não escreveu aquilo e era o único a entrar no apartamento. A explicação do bilhete então se torna óbvia.

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⏰ Última atualização: Jan 26, 2021 ⏰

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