— Sofie, por favor... Tome cuidado! – minha mãe pediu, colocando as mãos delicadas em meus ombros, como se pudesse me transmitir sua preocupação através do toque, alertando-me sobre os possíveis perigos que teria se não me cuidasse.— Pode deixar mãe. Não serei imprudente, até porque... Preciso voltar inteira para a competição! – sorri para ela, em uma tentativa de dispersar seus receios. Não tinha motivos para temer.
Minha mãe, sempre fora muito protetora. Cuidava de mim e do meu irmão como verdadeiras peças de vidro, completamente frágeis e delicadas, capazes de se estilhaçarem em um único baque. O que não era verdade e ela sabia muito bem disso. Sabia também que uma hora ou outra, teria que nós deixar seguir nossos próprios caminhos. E era isso que eu estava fazendo, seguindo o meu.
Iria passar o final de semana na cidade vizinha, onde ficaria com minha tia e uma prima. Elas me proporam a hospitalidade assim que souberam da minha aprovação na faculdade, que ficava a poucos quilômetros de sua casa. Como faltavam apenas quinze dias para o início das aulas, decidi viajar até lá, para finalmente organizar algumas coisas. Toda a papelada estava pronta, o que me faltava era literalmente frequentar a universidade.Eu estava ansiosa, não sabia como seria minha adaptação e só descobriria quando estivesse lá. De certa forma, minhas expectativas eram boas, mesmo que tudo tendesse a não ser como eu idealizava. Essa era a merda de esperar demais por uma coisa: você provavelmente vai se frustrar. Mas eu não queria isso! Não queria deixar minha imaginação fértil me levar a situações impossíveis. Pretendia ser pé no chão, focada em coisas reais. Mesmo que isso fosse muito difícil.
Não pretendia ficar lá até às aulas começarem, pois teria uma competição de natação, esporte o qual eu amava praticar e sem modéstia, eu era muito boa.— Ei, Sofie! Não vai se despedir do seu irmãozinho? – Caleb perguntou, chamando minha atenção, abrindo os braços e vindo em minha direção.
Sorri genuinamente, correndo para abraça-lo. O calor de seu corpo me dava a sensação de familiaridade e o contato apertado, também causou um aperto em meu coração, que já era capaz de sentir a saudade corroendo. Era muito estranho passar alguns dias longe da minha família, eu estava com eles o tempo inteiro! Dentre tantas preocupações, tinha a certeza que o meu maior desafio na faculdade, seria a falta da presença deles. Porém, não me deixei abalar, certa de que voltaria para uma despedida ainda mais marcante, e provavelmente, muito mais melancólica.
— Claro que não seu bobo! Eu ia te chamar assim que colocasse as malas no táxi... Mas pare de drama! Eu ainda vou voltar para te encher a paciência mais um pouquinho! – exclamei, passando as mãos em seus cabelos cor de cobre. Ele fez careta, tentando se afastar de mim.
Tratei de pegar minhas malas e as levei até o motorista, que aguardava do lado de fora da casa. Com muito pesar, dei um abraço longo e afetuoso em minha mãe e outro em meu irmão. Ambos estavam afetados com a minha partida ainda não definitiva, sabendo ser um ensaio para quando eu realmente fosse embora de forma permanente.
Tentei adiar o quanto pude, mas quando o inevitável não podia mais ser remediado... Eu tive que ir. Tive que entrar naquele carro, encarar as pessoas que mais amava no mundo e deixá-los.As vezes, partidas doem. Dilaceram. E na maioria, não podem ser evitadas. A vida segue e uma hora ou outra, ela nos exige sacrifícios. Ninguém saí ileso. Ninguém sobrevive sem marcas e cicatrizes profundas.
Eu era uma dessas sobreviventes, a qual a vida não fora nada gentil.
Não sei se acreditava mesmo em destino, mas algo me dava a certeza de que um bem maior cuidava de todos, montando nossas histórias, as adaptando de acordo com as nossas escolhas e no final, tudo terminava como deveria terminar. Tudo voltava ao seu eixo, estabelecendo a harmonia terrestre. E por mais que isso fosse irônico, pois a terra é o mais puro caos, eu tinha algo em mim que me alertava: alguém está agindo a seu favor. Alguém está te vendo, está te ajudando e te guiando, mesmo que indiretamente. Eu tinha certeza. E de alguma forma, sentia-me mais confiante por isso.
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A Cápsula de Dakini
Science FictionNem sempre a morte é o nosso fim. Na verdade, ela pode ser o nosso despertar. O despertar para uma nova era, um novo mundo, uma nova vida. Porém, o novo nem sempre parte de um princípio único e inovador. A essência anterior pode permanecer a mesma...