Sempre carreguei ódio, ódio próprio que crescia como musgo desenfreadamente sob meu ser
Era ódio sobre tudo que se cabia a mim, mas nunca sobre meu corpo
Pela primeira vez pude experimentar uma taça desse ódio completo que me fazia querer me estraçalhar, como se fosse um pedaço de papel, que é entregue a uma criança que descobriu as maravilhas da existência de uma tesoura
A primeira vez trouxe consigo a segunda, porém... Desta vez em meus lábios, em minha língua, minha garganta... Fez com que esse ódio líquido provindo de uma garrafa me preenchesse por inteiro... E como foi terrível de todas formas possíveis, eu queria mais uma vez me estraçalhar, desta vez como o cadáver de um servo predado por hienas
Eu queria me mutilar... Era necessário, ao menos para substituir as antigas cicatrizes
O mais infeliz é que este ódio é nos forçado goela abaixo, como se todo meu corpo estivesse amarrado e minha boca escancarada e travada, meus olhos sempre abertos para eu ver tudo aquilo de tão terrível que iria acontecer comigo
A cada dia as garrafas aumentam, a cada dia me sinto afogar um pouco mais
A cada dia esse pequeno oceano de amargura se torna maior
A cada dia... Até que chegue o ponto em que eu seja afogado
