Capítulo 2

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    A casa da dona Maria se destaca dentro de todo este verde, devido à sua cor alaranjada fluorescente, com um telhado de madeira tratada e cerca de três andares. É uma residência isolada, nos confins de um agrupamento de árvores, mas tudo isso apenas dá uma noção mais ruralista e chique. Nenhum dos empregados pode entrar pelo portão principal, por isso temos que andar mais vinte minutos ao redor do arvoredo e barrento terreno para chegar ao portão destinado aos funcionários. Tudo isso porque não é de bom-tom que um simples serviçal se aproxime de pessoas ricas.

   Eu não sou bem uma empregada, pois cuido dos filhos da patroa, então, para os outros funcionários é como se eu estivesse apenas um nível abaixo dos donos. Considero esta ideia uma ofensa à minha honra, porque estar próxima deles de algum jeito me deixa com náuseas.

   Não que eles sejam pessoas péssimas, são apenas horríveis. A dona Maria menospreza a todos que não tenham tanto dinheiro quanto ela, vive sendo traída pelo marido, mas é a famosa corna mansa, aguenta tudo calada. Embora que se eu tivesse um marido rico como ela tem, também não iria querer me separar - já tenho muita experiência em ter uma vida miserável, não aguento mais-. Já o senhor Alberto vive dando em cima de cada empregada que há aqui, se alguma diz não, acaba sendo demitida, por isso quase todas transam com ele. Fico triste pelas minhas colegas, mas não há muito o que eu possa fazer, apenas me defendo do jeito que dá: se vejo que ele está em algum lugar, fujo como o diabo foge da cruz. Nunca que eu deixaria um velho nojento desse colocar as mãos em mim.

   Enquanto isso, as crianças são muito malvadas comigo, me batem, não me deixam cuidar delas. Se eu faço algo, invertem toda a história para a mãe delas. O pior é que eu não tenho muito o que fazer, pois preciso do dinheiro e não posso dar uma mãozada nas crianças, mesmo sendo menor de idade. Deus sabe o quanto essas crianças merecem. A dona Maria e o senhor Alberto também.

   Entro pelo portão dos funcionários, pergunto onde as crianças estão para os empregados, e eles me dizem que ainda estão dormindo, por isso resolvo ajudar na limpeza da casa enquanto elas não acordam. Como quase todos os cômodos do andar de baixo já estão sendo limpos, subo ao segundo andar onde ficam os dormitórios dos filhos. Para facilitar a limpeza, entro num quarto que não está sendo utilizado, pois o seu dono, o filho mais velho da dona Maria, está morando no centro de São Paulo, e começo a limpá-lo.

   Começo a pensar em como seria bom se eu tivesse a oportunidade de ir para o centro de são Paulo. Como deve ser? Será que é diferente do interior? Sei que existem faculdades para lá, mas depois que as pessoas concluem, o que acontece? Será que todo mundo lá é rico?

   Enquanto este devaneio permanece, tiro o pó dos móveis, limpo o armário, arrumo a cama que já estava arrumada, tiro as cortinas e começo a batê-las para que saia o pó, coloco-as novamente com muita dificuldade, porque sou muito baixinha. Lembro-me que este quarto é uma suíte e que devo limpar o banheiro também, isso me deixa triste porque não pretendia mexer com água. Então, desço apressadamente para pegar uma esponja, um balde, água sanitária e detergente. Entretanto, para o meu pesar, durante o caminho, esbarro com um brutamonte que quase me derruba da escada, não reparo em seu rosto porque sou muito tímida, mas vejo que carregava algumas malas para cima, então imagino que seja um dos empregados da dona Maria. Ele me pede desculpa e pergunta se eu estou bem, mas eu saio correndo por causa da timidez.

   Pego todas as coisas, mas acabo sendo atrasada pela minha amiga Gabriela que não para de falar sobre como o novo namorado dela era um gato e que ela quer se casar logo. Eu não veria problema nisso se ela não tivesse apenas 16 anos, mas ela tem, então eu vejo. Porém, como quero ser uma boa amiga e ainda realizar o meu trabalho, a escuto com atenção, dizendo que fico feliz por eles, mas aconselhando a pensarem bem nas escolhas e saio andando às pressas.

   Subo as escadas e me dirijo aos dormitórios, mas de imediato decido ir ao quarto das crianças para ver se ainda estão dormindo. Quando constato que já posso ir ao quarto, entro e vejo que há duas malas lá, o que é estranho, porque pensei que havia organizado tudo. Por mais peculiar que seja, arrasto as bagagens para o canto e me dirijo até a porta do banheiro, coloco a mão na maçaneta, mas escuto um barulho de água que me deixa alarmada, será que estou com algum problema de memória? Não lembro de ter ligado a água, pensei que houvesse descido sem entrar no banheiro.

   Com certa relutância entro no banheiro, o box está embaçado, então decido ir até lá para desligar o chuveiro, mas antes, junto as roupas que estavam no chão e fico reclamando sobre quem teria deixado bagunçado daquele jeito. Afinal, se o filho da patroa chega e vê essa bagunça, o que será de nós? Coloco as roupas no cesto de vestimentas e me dirijo ao registro da água para desligar o chuveiro, porem quando entro no box, sinto minha boca se abrir gradativamente.

   O loiro está cheio de sabão, seu cabelo molhado possui uma mescla de tons diferentes de dourado, alguns mais escuros, outros mais claros. A água varre o sabão do seu corpo, descendo pelo seu abdômen terrivelmente definido, e traçando linhas entre seu membro, que por sinal, é lindo. Suas mãos são fortes e possui as veias saltadas. Seu ombro é marcado por uma tatuagem tribal de lobo, que só destacava os seus músculos. Cada parte nele era gostosa e fazia o meio das minhas pernas pulsar. Seus olhos são castanho esverdeado, que o deixa muito mais sexy, estão direcionados para mim. Com um sorriso malicioso, me diz:

   - Tá gostando do que vê? – ele morde os lábios enquanto me examina.

   - De-des-desculpa. – sinto o sangue subir para a minha face.

   - Tudo bem, - ele diz com um uma gargalhada – apenas feche a porta quando sair.

   Essa era a minha deixa, poderia finalmente sair desta situação constrangedora, mas não consigo me mover. O meu corpo não me obedece, apenas travou, enquanto a minha frequência cardíaca chega aos céus. Ele fica me olhando, está tentando entender o que está acontecendo, seus olhos expressam sua curiosidade, mas tem algo estranho também, pois me olha de uma forma que nenhum homem fez. De repente, sinto que meu coração não está aguentando e minha vista escurece, em apenas alguns segundos a água no chão do box do banheiro está umedecendo as minhas roupas, encharcando as minhas madeixas negras antes de eu apagar de vez.

   Acordo embaixo de cobertores macios e perfumados. Estou em uma cama, por isso sei que este lugar não é a minha casa, e aos poucos começo a ter uma lembrança vaga do que aconteceu. Olho para o quarto e percebo que é do filho da minha patroa.

   Meu Deus.

   Me levanto às pressas, começo a organizar os lençóis, separar os travesseiros em seus devidos lugares, faço isso de um jeito corrido, mas caprichado. É o costume de ter que arrumar a casa das pessoas por toda a vida. Após arrumar tudo, dou um suspiro, não sei como pude dormir na cama de um dos patrões. Isso é loucura.

   Lembro-me das crianças, e que a dona Maria deve estar soltando fumaça pelas ventas, sinto meu peito pesar com a minha irresponsabilidade. Entretanto, quando estou prestes a sair, percebo que estou sem as minhas roupas, apenas com uma camiseta que eu nunca vi antes. Fico pasma, começo a andar de um lado para o outro tentando avistar algum sinal de alguma peça de roupa que eu estava antes, mas nada achei.

   Então vou para a varanda do quarto para procurar algum empregado conhecido no jardim e pedir ajuda. Começo a me esticar para a frente, enquanto apoio os pés na mureta, fazendo com que o meu bumbum fique exposto para quem ver da referência do quarto.

   Quase caio da varanda quando ouço e me viro:

  - O que você está fazendo? – o homem loiro perguntou enquanto levava uma caneca à boca. Estava encostado na porta de vidro do quarto.

  - É que eu acabei dormindo na cama do filho da minha patroa – digo com a cabeça voltada par o chão - e acabei tirando a roupa antes disso... Agora ia pedir ajuda para alguém.

   Ele apenas ri, sem dizer nada além. Por isso, continuo:

   - Quem é você? – o olho com curiosidade enquanto ele toma mais um gole de sua caneca branca.

   - Sou Ricardo, mais conhecido como o dono deste quarto.

   Minhas pernas tremem de ansiedade e vergonha.

   Como isso pôde acontecer?

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⏰ Última atualização: Jan 26, 2021 ⏰

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