Cap 3 - Ta tudo bem

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A manhã de sábado foi bem tensa, o clima estava diferente, o ar estava diferente, eu estava tão nervosa que não sabia como reagir e tentei agir naturalmente. Tomás acordou bem descansado e me chamou pra ir a praia, o sol estava radiante e não sabíamos de nada. Deixei meu celular em casa e parti para praia com o Tomás. O meu coração estava tão apertado, com medo de ser presa, com medo de pegarem o Vinicius. Como minha vida virou de cabeça pra baixo, por causa de uma festa que eu não tinha porquê ter ido. E fora que aquele beijo, aquele toque, aquela voz... Me arrepiava só de lembrar, aquilo era louco demais.
_Você longe, pensativa, tudo bem?- Perguntou Tomás enquanto dirigia.
_Tudo bem. É só sono, não dormi direito por conta do apagão.- Respondi disfarçando minha estranheza.
Prosseguimos indo a praia, pois eu tinha que parecer o mais natural possível.
Passamos a manhã sentados na areia sentindo a brisa do mar, depois almoçamos num bar ali perto. Tinha tudo pra ser perfeito, se fosse a uma semana atrás estaria perfeito. O Tomás não tinha mais graça pra mim. Aquele passeio estava me matando de ansiedade para saber o que estava acontecendo. Como iam as investigações, os depoimentos, se o Vinicius estava bem ou se eu estava sendo procurada.
A tarde passou lentamente, até que o celular do Tomás tocou, era minha mãe querendo falar comigo urgente. Eu fiquei sem cor e gelada pra pegar o telefone.
_Thais, mataram uma menina da sua turma ontem. Parece que eles estavam bebendo durante o apagão e alguém entrou e matou a menina... Clara o nome dela. Você conhece?!- Disse minha mãe nervosa. Eu respirei fundo, me fiz de surpresa e disse: _Meu Deus! Que horror! Quem faria isso com a Clara? Uma menina tão legal. Como soube?- perguntei.
_A polícia está investigando, pegando os depoimentos de todos que estavam lá. Acabou de passar na TV. - Respondeu minha mãe.
Agradeci a ela pela informação e disse que já estava indo pra casa.
Tomás pediu pra eu ir dirigindo, e eu fui bem devagar, porém ainda assim parecia rápido e quanto mais perto de casa eu chegava, mais nervosa eu ficava. Tomás estranhou meu ritmo e eu me zanguei com ele. _Você quer que eu vá correndo numa estrada movimentada assim?- Eu disse exaltada.
_Calma! Achei que você não se importava, sempre dirige até melhor que eu, quer que eu tome a direção?- Perguntou Tomás.
_Você acha que eu estou nervosa? EU PAREÇO NERVOSA PRA VOCÊ?- Disse eu, pisando no acelerador e indo pro meio da pista.
Tomás pareceu assustado e se calou.
Chegando em casa o clima não estava bom entre a gente. Ele pegou suas coisas e saiu, me deixando então sozinha.
Peguei meu celular, temendo que estivesse cheio de ligações e mensagens de pessoas me procurando, mas não. Tinha apenas uma mensagem do Vinicius me dizendo: "Se você não é o amor da minha vida, essa coisa não existe e ninguém mais é.". O meu coração ficou quentinho e pude uma paz momentânea. Mandei uma mensagem pra ele: "Preciso te ver ". Minutos depois minha campainha toca, achei que fosse o Tomás, imaginei até a polícia, mas era o Vinicius. Com aquele olhar frio e penetrante, e um sorriso malicioso, se assemelha até a um crocodilo se usarmos essa comparação.
Ele entrou e perguntou como eu estava. Eu disse que bem nervosa e preocupada. E quis saber mais sobre o que estava acontecendo, como iam os depoimentos.
_Pra que ficar nervosa? Você não confia em mim? Eu não jogo pra perder. Eu não mato pra ser descoberto. Ninguém viu a gente lá, estava escuro, o pessoal estava bêbado. Todos que estavam lá, relatam que entrou um desconhecido e a matou. A gente é invisível. Você estava em casa dormindo com aquele demente e eu fui só um pouquinho e logo fui embora. Você não estava lá. Eu também não estava na hora. Tá tudo certo, relaxa.- Disse ele bem calmo acendendo um cigarro.
Eu fiquei mais segura e todo aquele medo foi embora. Fumei um cigarro também e disse a ele o quanto aquela adrenalina me dava tesão, eu não sabia se era ele ou se era a lembrança dele matando na minha frente. Ele disse que era os dois e que pra ficar melhor, isso precisaria ser frequente, pois lembranças envelhecem.
Eu o beijei e passei a mão em seu corpo, em seu quadril estava o tal revólver, eu o peguei e apontei pra testa dele. _Eu poderia te matar agora!- Eu disse com um riso contido. Ele então engatilhou a arma comigo apontando para ele. _É o que quer?- Perguntou.
_Você sabe o que eu quero!- Respondi e em seguida lambi o cano do revolver, como quem faz um sexo oral.
Ele me assistiu com uma cara de reprovação, em seguida me pôs contra a parede e disse que eu era louca, levantou o meu vestido e  acariciou minhas partes íntimas com os seus dedos. Estava bom demais pra ser verdade, quando a campainha tocou. Vinicius entrou no banheiro para se esconder enquanto eu abria a porta. Era o Tomás. _Olha eu só voltei pra não te deixar sozinha, porque eu não gostei do modo que falou comigo, se fosse o contrário, você não me perdoaria. Tivemos um dia lindo, espero que a noite também seja. - Disse o Tomás se adentrando em minha casa e deixando as coisas dele. Eu então comecei cercando a porta do banheiro pra ele não entrar. Até que inventei de usar o banheiro e tranquei a porta. Vinicius estava lá dentro tranquilo e me disse: _É a sua vez agora, mata ele. Eu disse que não podia, mas que ia mandar ele embora. Vinicius me reprovou com os olhos e eu fiquei triste por desapontar. _Se eu der um tiro nele os vizinhos vão escutar.- Eu disse.
_Quem falou em tiro?- Ele perguntou irônico.
Eu saí do banheiro e o deixei lá dentro. Disse ao Tomás que eu não estava muito bem por conta da morte da Clara e que eu precisava ficar sozinha. Ele disse que não me deixaria sozinha de jeito nenhum, que era mais perigoso ainda. Que aquela noite ele poderia dormir até na sala, mas que estaria ali. Num momento ele fez como se fosse entrar no banheiro, abriu a porta e viu o Vinicius. Ele ficou espantado e quando me olhou pra falar sua indignação, eu o atingi com o machucador de alho na cabeça. Ele caiu de joelhos e eu o golpiei mais e mais na cabeça. Até ele apagar no chão. Era sangue em mim, sangue no chão, nas paredes e no Vinicius também. Com o rosto respingado de sangue e suando pelo esforço, olhei pro Vinicius e sorri. Ele pulou o corpo caído no chão e continuamos de onde paramos.

Aquela noite Onde histórias criam vida. Descubra agora