A canção sem retorno

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A simpática senhora ouvindo seus netos brincando no terreiro, resolveu mover-se em direção a cozinha com suas velhas companheiras, as dores nos ossos.

Aqueles pentelhos são pura energia, mas precisam comer para continuarem tão saltitantes e cheios de vida. Que inveja desse energia ela sentiu ao pensar e lembrar sobre como é ser criança.

Decidiu que um bolo seria adequado, mas um especial, cenoura com cobertura de chocolate! A cara que eles fariam iria alegrar o dia dela ainda mais.

Observando seus netos pela janela enquanto arrumava os ingredientes começou a falar:

"Juju parece que me puxou, toda acanhada, mas quando se solta ninguém segura ... Já Jorginho, é você escrito, parece que tudo é brincadeira, não para de rir um segundo, vai ter muitas rugas igual a você ..."

Foi então que começou a murmurar uma velha canção, era deixa para escutar o uivos desafinados essencialmente debochados do seu velho companheiro, aquele senhor metido a engraçado e sem vergonha.

Lembrou-se da primeira vez, quando era moça e ele ganhou o direito com seus pais de ir em sua casa. Foi ao buscar o bolo para tomarem café juntos pela primeira vez. Cantarolando, ela foi assustada com aquele som de uivo, sem entender nada até que chegou à sala e viu ele rindo debochado brincando de ser o "banking vocal".

Quase brincou com ele naquele dia, mas acabou que aquilo virou tradição, no namoro, no noivado e nos longos anos de casados ...

Dessa vez, a canção não teve retorno, ela olhou para a mesa vazia, ele não está mais lá, já faz algum tempo ... mas é difícil lembrar, pois anos de cumplicidade fazem parecer que a companhia é sempre presente.

Um lagrima escorreu em meio as rugas, mas ela as secou na manga da blusa de lã branca e em seguida sorriu.

"Hoje é dia de celebrar a vida" ela pensou olhando para os netos, afinal, um dia em algum lugar, em uma nova vida, ela vai escutar aquele uivos chatos que tanto sente falta novamente...

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