Ouça minha proposta

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Armin estava com os olhos fechados, concentrado nos sons à sua volta.

Seus dedos pressionavam o jeans na região dos joelhos, ele ainda estava sentado na sala onde contara a pior parte de sua vida, e o peso das memórias estavam ganhando força em sua mente que há muito se esforçara para deixar para trás tudo o que sofrera naquele subterrâneo.

Ouvia conversas. Falavam sobre o caso dos assassinatos, a voz de Eren, ele estava ali, obviamente. Não conseguiria ficar muito tempo naquele lugar sem seu amigo aparecer querendo lhe resgatar.

Ele teve que conter a vontade de correr para Eren, a vontade de o abraçar e desabar em seus braços que sempre lhe deram apoio. Não podia, iria ser forte, já havia passado por isso, estava seguro agora.

Bem, nem tanto.

O som da porta se abrindo fez com que o beta loiro abrisse os olhos e observasse a figura grande que entrou na sala, era o homem que havia o abordado na frente do prédio onde estava. Os dedos de Armin ainda apertavam os joelhos para conter a tremedeira que queria o dominar, seu coração disparava em nervosismo, não por causa do recém chegado, mas porque ainda estava se contendo para não ter um ataque de pânico ali, na frente de um desconhecido.

— Olá, Armin, não tive a chance de me apresentar, eu me chamo Erwin Smith e sou comandante do Esquadrão de Reconhecimento. — O homem alto sentou-se na frente de Armin, segurando uma pasta e colocando-a sobre uma mesinha de centro que os separava. Logo mais, Erwin ergueu os dedos, soletrando seu nome na língua de sinais.

<<E r w i n S m i t h>>

Armin deu um sorriso quase imperceptível sentindo o rebuliço em seu peito se acalmar, algo naquele homem gritava a palavra 'bondade', havia percebido isso desde mais cedo e não ficou surpreso que ele podia falar na língua de sinais, senão nem teria arriscado entrar ali sem um tradutor.

<<Você tem um sinal?>>, o beta perguntou, o olhar de satisfação de Erwin, por tê-lo se comunicando consigo foi substituído por um leve embaraço.

Quem tem contato com a comunidade surda, normalmente recebe um sinal baseado em alguma característica sua, é uma maneira de eles se individualizarem e terem uma identidade única em seu círculo. Ouvintes que têm aulas de língua de sinais, se forem ensinados por alguém surdo, normalmente recebem um sinal, assim como quem possui amigos e parentes desse meio. Marco havia batizado todos os seus amigos com um.

Erwin levou os dois dedos indicadores deslizando-os por suas sobrancelhas, era o seu sinal.

Armin dobrou os lábios para dentro da boca, segurando um riso.

— Pode rir, eu sei. — Erwin não pareceu ofendido pela reação de Armin, pelo contrário, o beta poderia até dizer que ele estava aliviado, divertido com sua expressão.

Armin balançou a cabeça, não iria rir, seria falta de educação, mesmo que o outro não demonstrasse se importar, aquele era o comandante da maior força policial de investigação do reino, e talvez - o beta implorava para todas as forças superiores do universo que sim - seu futuro chefe.

— Qual o seu sinal? — Erwin acabou fazendo os gestos da língua de sinais de forma inconsciente.

Armin levantou seu indicador direito dobrado e deslizou duas vezes pela ponta do nariz. Ele tinha a pele bastante pálida, por isso a ponta de seu nariz, mais avermelhada, se destacava por entre as feições delicadas.

Erwin sorriu, parecendo gostar do gesto e Armin corou. Desviou o olhar sentindo vergonha sabe-se lá porquê.

— Armin, você nos ajudou muito hoje, nem faz ideia do quanto. — Erwin continuou falando, enquanto cruzava as pernas e se escorava no encosto do sofá — Foi muito corajoso de sua parte.

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