dois

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Uma vez, quando Harry era bem novo, ele se queimou enquanto fazia o café da manhã dos Dursleys

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Uma vez, quando Harry era bem novo, ele se queimou enquanto fazia o café da manhã dos Dursleys.

Aquilo acontecia um montão, na verdade. Pode ser uma surpresa para alguns, mas deixar uma criança baixinha e exausta tomando conta de frigideiras cheias de óleo quente resultava em muitos acidentes e muitos machucados, e quando ele tinha uns onze anos, ele já estava tão acostumado com queimaduras que ele nem chorava ou se encolhia mais. Ele sabia exatamente onde pegar a pomada e as bandagens e como se tratar sozinho de um jeito que nenhuma criança deveria saber.

O problema era que, no começo, quando ele era bem novo, ele ainda não sabia essas coisas.

Ele costumava observar Petúnia e Duda o tempo todo. Harry mal tinha tempo livre entre a escola e fugir da gangue de Duda e tudo que ele tinha que limpar na casa, mas o pouco tempo livre que ele tinha ele passava olhando para os dois de longe, ou só os ouvindo, caso ele estivesse preso no seu armário.

Harry não lembrava como a mãe dele era. Ele tentava, desesperadamente, mas ele não tinha um rosto, não tinha nem um nome. Ele só sabia que ela tinha sido a mãe dele e a irmã de Petúnia, e que ela tinha morrido, e que se Harry tentasse perguntar sobre ela para os tios dele, ele ia passar dias sem comer. Mas, na segurança da sua própria mente, Harry se permitia sonhar, e ele fingia que Tia Petúnia era a mãe dele, e que quando ela beijava os ralados de Duda e o chamava de querido e o abraçava, ela estava fazendo isso com Harry, na verdade.

Toda noite, ele se encolhia no seu armário, com frio e se sentindo terrivelmente sozinho, com medo do escuro e de cada pequeno barulho. Harry apertava o seu cobertorzinho com muita força, e ele imaginava Petúnia fazendo carinho no cabelo dele, o contando uma história de dormir como ela sempre contava para Duda.

Era a única coisa que o permitia cair no sono, a imaginação de criança dele criando um universo paralelo e completamente fictício em que ele não era só Harry, a aberração horrorosa, e ele tinha Petúnia, uma mãe que o amava tanto quanto ela amava Duda.

E foi assim que aconteceu – ele era jovem e desesperado e ele tinha se queimado fazendo a comida dos Dursleys.

Era uma memória tão antiga que ele não tinha certeza se era a primeira vez que tinha acontecido um acidente, mas com certeza tinha sido a primeira queimadura a ser tão ruim e tão dolorosa, ele se apoiando na frigideira sem querer e virando todo o óleo fervendo no pé dele. E porque ele era tão jovem, ele não sabia como se segurar. Ele soltou um berro de dor, mesmo que estivesse cedinho, e Duda e Valter estivessem dormindo.

Petúnia entrou na cozinha correndo e Harry, ele era tão jovem e ele era tão estúpido e ele tinha passado tanto tempo só olhando enquanto ela cuidava de Duda. Então ele olhou para ela, caído no chão, com o rosto todo molhado de lágrimas e soluçando baixinho, e ele pediu por ajuda, por favor.

Ele chamou ela de mãe. Foi um acidente tanto quanto Harry se queimando tinha sido, mas a palavra escapuliu.

Em toda a vida de Harry, mesmo quando ele já tinha uns dezessete anos, ele nunca iria ver Petúnia tão brava quanto ela tinha estado naquele dia, o puxando pelo braço e o arrastando em direção ao armário dele, gritando alto o suficiente para acordar toda a vizinhança que ela não era a mãe dele, ela não era! Fazia os ouvidos dele apitarem e ele não conseguia respirar, a dor era tão grande que a visão dele estava falhando e ele achava que ia desmaiar de choque. Ele achava que ia vomitar.

just like we used to be,  DRARRYOnde histórias criam vida. Descubra agora