Para Harry, se sentir mal ou prestes a desmaiar não era nada de novo.
Petúnia o fazia cuidar do jardim dos Dursleys todo santo dia, não importava o clima. Até mesmo no ápice do verão, quando o sol estava em sua fase mais imperdoável, Harry tinha que ficar lá, ajoelhado na grama, por horas e horas e mais horas. Quando se combinava isso com o quão pouco de comida ele era dado e como ele não podia fazer pausas para beber água, não era uma surpresa que Harry quase sempre se sentia ao menos um pouco tonto e enjoado.
Quando ele realmente ficava doente, então, não era como se Petúnia mudasse da noite para o dia e resolvesse tomar conta dele com muito carinho. Ela não o comprava nenhum remédio, não o deixava faltar na escola, e ele nem podia ficar só aquele dia sem fazer todas as tarefas que tinha pela casa. Esse era o acordo deles, afinal de contas. Harry tinha que fazer por merecer o armário onde ia dormir todas as noites e se ele quisesse isso, se ele quisesse um teto ao menos em cima da cabeça dele e quatro paredes ao redor, então ele não podia parar de trabalhar até tudo estar feito.
Na uma única vez em que ele ficou tão mal que acabou vomitando no chão da cozinha, Petúnia gritou tão alto com ele que se havia algum astronauta no espaço naquele momento, ele provavelmente pode ouvir ela, e só faltou ela mandar Harry limpar com a língua dele. Ele teve que se levantar, grogue e tremendo e querendo vomitar mais, e ir pegar um rodo sem nem poder escovar os dentes antes.
Molly nunca faria algo do tipo. Rony, Hermione, Sirius, até mesmo Madame Pomfrey, eles não eram assim. Eles não ficariam bravos. Eles simplesmente não eram o tipo de pessoa que ficaria.
Eles provavelmente – eles provavelmente iriam cuidar de Harry, o que era um sonho de infância de Harry, se ele fosse ser sincero e patético. Ele tinha, na verdade, literalmente sonhado com isso muitas vezes. Só de imaginar alguém colocando a mão na testa dele para sentir a temperatura dele, o ajudando a se deitar em uma cama e o cobrindo, passando a mão pelo cabelo dele sem nem se importar que ele estava suado. Talvez até o fazendo uma sopa e o ajudando a tomar ela. Fazia Harry sentir vontade chorar de tanto que ele queria isso, um tipo de querer que estava lá no fundo da alma dele, que parecia o comer de dentro para fora e o matar um pouco a cada segundo que passava e ele continuava sem receber nada do tipo.
E, mesmo assim...
Toda vez que ele ficou doente depois dos seus onze anos, ele ainda escondeu os sintomas e não deixou ninguém descobrir. Toda vez que ele sequer espirrou na presença de algum dos amigos dele, ele começou a entrar em pânico e ficou se sentindo ainda pior, um medo muito antigo e visceral renascendo dentro dele, o prendendo em algo muito forte para ele ser capaz de fugir, para ele sequer ousar tentar.
Harry sabia, tecnicamente, que eles não iriam gritar com ele. Harry sabia, tecnicamente, que era irracional e que eles não iriam o obrigar a trabalhar enquanto chorava de dor de cabeça e implorava por uma pausa.
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just like we used to be, DRARRY
FanfictionPor causa de um acidente enquanto ensinava uma aula de DCAT, Harry Potter acabou com um pequenininho probleminha - também conhecido como amnésia temporária. As suas últimas memórias eram da noite em que Dumbledore morreu, mas agora ele tinha trinta...