Parte 2

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Quando Mina lhe disse para levar mais um kimono de plano B, Ochako não deu a mínima importância. Na loja, o traje cor-de-rosa estampado com flores brancas, uma faixa nude bem acinturada e gola branca felpuda, parecia ser a escolha perfeita; só que olhando-se no espelho já não tinha mais tanta certeza, a peça não parecia não ser digna de um feriados com os Todoroki, não era formal o suficiente. Talvez devesse ter comprado um com mangas mais longas, como Tsuyu havia sugerido; ou um mais elegante, iguais ao da loja que Fuyumi indicara. Mas, além do kimono estar na promoção, ela se apegara ao design modesto que tanto amava. Talvez a melhor opção era não ter aceitado o convite de Shouto, assim ela evitaria toda a dor de cabeça que essa confusão de sentimentos estava lhe causando.

Suspirou vencida enquanto terminava de se arrumar. Não tinha como voltar no tempo e dizer "não", até porque, agora, sabia que em hipótese nenhuma rejeitaria o convite. Ela queria estar na mansão Todoroki, queria passar o feriado no litoral, queria descansar da loucura do mundo heroico ao lado de pessoas maravilhosas, ao lado de Shouto. O que Ochako não queria era estar se sentindo tão insegura consigo mesma. Desde a U.A, e de sua doce paixonite por Midoriya, que não sentia-se assim tão... boba. Ela não devia estar pensando nisso, mas realmente adorava ficar perto de Todoroki, só perto mesmo, sem dar as mãos ou fingir ser a namorada e heroína ideal em tempo integral.

Como ela não se dera conta disso antes? Era óbvio que estava apaixonada! Afinal, por qual outro motivo ela acordaria extremamente feliz por fazer jornada dupla na Kodomo no Mirai, ou por comer soba e um mochi sempre que se encontravam? Apesar de serem conhecidos desde a escola, apenas recentemente sentia que o conhecia de fato. Ela podia caminhar lentamente pelas vielas do coração dele, ouvindo os sussurros ensurdecedores que o assolavam, ao mesmo tempo em que conquistava a sua confiança, a ponto de ele compartilhar detalhes familiares e convidá-la à sua vivência. Shouto era o homem mais educado e gentil — muitíssimo lindo também — que já conhecera. Era impossível não se apaixonar por ele.

E se já era bom ficar ao seu lado, imagina ser a namorada de verdade... Com direito a receber e dar carícias, fazer cafuné nos cabelos dele, abraçá-lo durante as sessões de cinema, deitar em seu ombro, beijá-lo e até permitir que ele... Ok! Chega! Ochako tinha que se concentrar no hoje, porque ficar se imaginando em um mundo totalmente hipotético não estava ajudando. Era uma idiota apaixonada! E ter ciência disso havia piorado em mil por cento a desordem em sua cabeça.

Argh! Mas o que que eu devo fazer?! — perguntou ao espelho, frustrada por se sentir perdida.

Durante os incontáveis minutos em que ficara se encarando no espelho, não conseguiu pensar em nenhuma solução razoável para seu "problema". Sabia que não tinha uma infinidade de opções, mas talvez se mantivesse o sorriso no rosto e a mente ocupada, conseguiria disfarçar o coração palpitante e tomar a melhor decisão depois.

Ochako poderia aguentar até o final do feriado, voltar para casa e repensar toda essa história de 'namoro de mentira', certo? Errado! Ela era péssima em disfarçar os sentimentos, não conseguiria manter as aparências nem por uma noite. Suspirou derrotada. Droga! Ela só queria descansar nesse feriado, e não ter que lidar com a loucura que era estar apaixonada por Shouto; porém, estava tão encurralada quanto um inseto em uma teia de aranha. E, pelo visto, só havia uma atitude a ser tomada: acabar com tudo.

Sem refletir nas implicações que sua atitude causaria, ela romperia com toda essa informalidade e intimidade que a bagunçava tanto. E faria nesta noite, antes do nascer do Sol. Pois, tinha certeza que Shouto não corresponderia aos seus sentimentos, apenas a rejeitaria da forma mais cordial possível e, sem dúvidas, voltaria a tratá-la da maneira excepcional de sempre. Então, cabia a Uraraka estabelecer os termos do término, igual fizera quando começaram esse falso namoro. Não seria fácil, entretanto, era o melhor que podia fazer.

Ao nascer do solOnde histórias criam vida. Descubra agora