O Último Reino dos Elfos [Amostra]

Capítulo 2

Kenny deixou o batalhão de fronteiras a bordo da aeronave que tinha à sua disposição, seguida por seus oficiais auxiliares e sua guarda pessoal ao calcanhar. Em outros tempos um general de divisão, como era ela, andaria tranquilamente sem uma guarda pessoal, mas desde as grandes migrações que encharcaram a Rianlistoktel com elfos vindos dos outros reinos, acabram por trazer como consequência direta o aumento da criminalidade, principalmente de repulsa à autoridade dos soldados que eram obrigados pelo ofício a fazer as coisas na cidade andarem na ordem que as leis do reino exigiam. E isto nem sempre é popular numa sociedade refugiada acostumada a leis e ordens diferentes, frustrada com sua própria diáspora e sem uma perspectiva de retorno seguro para a sua terra.

O batalhão de fronteiras ficava próximo da cidade, o que na aeronave se traduzia em 10 minutos de voo de cruzeiro. Era uma bela máquina, uma águia-18b, construída com o mais puro alerion, uma liga composta por vários metais e encantada por ótimos magicocientistas, extremamente segura e compunha quase a totalidade dos veículos aéreos dos generais. Não demorou muito e a aeronave pousou próximo ao castelo real.

O castelo possuía seus quase 3 mil anos de existência, era imponente e ficava sob uma colina da qual se enxergava a cidade inteira, seus milhares de prédios, praças, ruas e avenidas e principalmente podia se enxergar o horizonte em todos os lados e antecipar qualquer invasão. Esse foi o propósito de ter sido construído ali. De tempos em tempos há uma reforma que o torna resistente por mais um milhar de anos. Por mais que a engenharia élfica seja avançada, os materiais continuam sendo degradáveis no tempo. As paredes brancas e os arcos gigantes se desenhavam pelas entradas, o piso polido reluzia quase como um espelho, o lugar representava a realeza do último reino dos elfos, inteiro, no auge e protegido dos principais inimigos, os orelhas redondas.

Kenny percorria os corredores e se dirigia para o gabinete real onde era esperada. Estranhou ela não ver mais aeronaves na pista de pouso do castelo, o que indicava que outros generais não foram convocados, o que significava que era um assunto sério relacionado às fronteiras do reino. Mas, o que poderia ser? Ela havia lido os últimos relatórios de inteligência que sua divisão havia produzido. Em Rianlistoktel as fronteiras estavam intactas. Decidiu aguardar os acontecimentos.

Chegando em frente a porta do gabinete real, Kenny verificou como estava sua armadura de gala, o que foi prontamente respondido por seus oficiais auxiliares. Eles não poderiam passar da antessala e aguardariam ali.

— Bem-vinda general Kenny! — Mal abrira a porta, Kenny foi surpreendida pela recepção de uma voz que conheciam muito bem. Lembra-se que lhes falei que haviam rumores de Kenny havia namorado uma certa elfa da nobreza no passado? Pois bem, agora, era recebida por aquela elfa safada que quase a leva à loucura, em carne, ossos e orelhas bem lindas, diga-se de passagem. Ela era sobrinha do rei Ílisty, mas Kenny não tinha a menor ideia do que fazia, pois o rolo entre elas não havia durado mais do que 2 meses, desde que se conheceram em um drinkel — um drinkel é parecido com um restaurante que é bar e é casa de festas, tudo ao mesmo tempo, muito popular entre os jovens elfos de Rianlistoktel —.

— Oi Elsty! Como vai vossa alteza? — Kenny respondia.

— Ui, gosto dessa formalidade. Você sumiu desde a última vez né?

— Elsty! Desculpa minha sobrinha general. Temos coisas mais urgentes para resolver — o rei Ílisty interrompia a cena.

— Peço desculpas, majestade. Mas, temos coisas inacabadas para resolver entre nós — Elsty respondia.

— Percebe-se. Mas, deixe isto para quando estiverem fora de serviço. Sem contar que o problema aqui é sério demais para perdermos tempo com coisas inúteis — o rei retrucava com sua autoridade.