PIRATARIA É CRIME! - Fique atento.
-- NÃO AO ROUBO AOS DIREITOS AUTORAIS! --
I
Para Inspetor Adilson Figueira, o crime fora motivado por vingança.
Vingança. Alguém não andou pagando dívidas e – bom, o resto estava agora diante dele.
Corpos. Três. Pessoas de idades semelhantes. Sangue – uma poça ao lado de cada cadáver. Casa revirada.
Inspetor Figueira pôs-se a olhar o show de horrores em derredor; flagrou-se a ver o polegar, a pele logo acima da unha, nela o queimão que levara ao assustar-se com o celular tocando, enquanto preparava o café-da-manhã; não o tomara, saíra com urgência; embrulho no estômago, não obstante acostumado à contenda diária comumente de sua profissão. Procurava, ao desviar os olhos de volta aos corpos, algum detalhe que se sobressaísse à macabridade do cenário. Paredes da sala polvilhadas de sangue, móveis igualmente manchados. Nenhuma pegada, nenhum detalhe que se lhe chamasse atenção; praguejou; ouviu um dos policiais vomitar no corredor, fez que não co’a cabeça; agachou-se; fechou os olhos. Respirou fundo – veio junto o cheiro característico de assassínios de casos semelhantes; esboçou um sorriso amarelo, sem, contudo, formá-lo na boca; sentiu a bolha do queimado aumentar. Tenho que estourar esta bolha.
- Hun? – perguntou a voz logo atrás.
- Nada – respondeu; levantou-se ao abrir os olhos; pôs os braços na cintura.
- Se aí não é nada, aqui pode ser.
– Ϟ –
Fifi. Fifi, querida. Onde você está? Mamãe está chamando.
– Ϟ –
Inspetor Figueira aproximou-se de Cabo Neves, ao lado da janela fechada; a cortina, aberta, adquirira aparência estranha, a cor creme confundida com cores obscenas inseridas naquele contexto mórbido; no chão
pegadas!
pegadas – não de humanos, fácil constatar; de cachorro ou gato.
- Parece que um cão esteve por aqui – comentou Neves, alisando involuntariamente o uniforme.
Figueira olhou para os olhos castanho-esverdeados de Neves; em seus próprios, cenho franzido, a dúvida não precisava de palavras para ser entendida.
- Quando chegamos já estava assim.
Fotos? Perguntou Figueira. De Neves, um menear leve de cabeça, um sim silencioso.
– Ϟ –
Amorzinho da mamãe. Esteve onde a esta hora da manhã? Hein? Ô minha queridinha Fifi. Vem cá. Grande garota. Vem comer. Mamãe preparou seu café-da-manhã.
– Ϟ –
Figueira observou, atento, as pegadas. Creu ter estado imerso num mundo alheio, raso; cabeça doendo forte; de novo fechou os olhos; temos como saber
se foi um cão ou gato?
mas isso não importa agora
vou estourar a bolha
meu serviço acabou.
Pensou. Chusma de pensamentos motivou-o a declarar aquele caso insolúvel – e isso doía, porque não gostava de perder nem de não encontrar respostas, exigente como era na labuta.
Bufou.
Ignorou quando abrira os olhos; por um instante tudo rodou, teve de ser amparado por um dos policiais; em sua cabeça, latidos – latidos!; aos poucos a visão voltava; os latidos permaneciam na memória, a ecoar, assustadores; não tenho medo não tenho medo não; quando deu por si, sentado à mesa, Neves abanava com um livro a fim de fazer-lhe vento. Foi –
Foi algo que –
to melhor agora
sentenciou a titubear.
Volta para casa sozinho? Quer que eu te leve?
Não. Inspetor negou ajuda do Cabo. Só me dá copo d’água.
Enquanto
– Ϟ –
Alfredo? Chamou Donda Patrícia. Alfredo. Por favor. Ligue para o idiota do meu ex-marido; diga-lhe que a pensão para Fifi não foi paga este mês.
Sim, mileide.
Fifi, meu amor. Vem cá, querida. Mamãe te ama. Já comeu?
– Ϟ –
Neves fora à cozinha, Figueira pôs-se a questionar o porquê do desmaio; fora a primeira vez – nem em época de início de carreira coisa semelhante ocorrera; olhos ardiam um pouco; vivia definitivamente num mundo cada vez pior, e o que fazia, contribuía para deixá-lo inda mais negro; sentia-se um pouco melhor.
Ao retorno de Neves, co’a água em mãos, tornou a falar o Inspetor. Algo está muito errado. Meu faro não me engana. Me passe as cópias das fotos, quero tê-las em casa. Não é um crime comum. Apesar de me soar ter sido motivado por vingança. As fotos. Não esqueça.
Bebeu então num só gole.
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Cachorra de Madame
Mystery / ThrillerCachorra de Madame. Durante o dia é um poodle; à noite, um demônio que mata por sede de alma.