Amor a cobrar

Chamada 7

Acordo-me e logo vou tomando um banho rápido, a comemoração do aniversário do Augusto está de pé, mesmo com todo esse clima tenso entre a gente. Tenho que explicar o motivo de eu não ter atendido noite passada, mas ainda assim estou meio irritada com a falta de atenção dele. Logo que dou o primeiro toque ele já retorna, agora é que  faz isso... Certo, não posso brigar, repito isso para o meu inconsciente enquanto dizemos as primeiras palavras. Ele parece até estar normal, aparentemente com uma voz mais tranquila, até parece feliz. Será que ele estava com alguém noite passada e por isso não pode me atender? Será? Não vou perguntar agora,isso precisa de um tempo,um bom tempo... Decido então marcar um jantar aqui em casa e ele logo aceita. Desligo e corro para o carro, preciso correr mesmo, não dirigindo, mas nas lojas e nos últimos detalhes, é AMANHÃ!

No final da manhã eu estava exausta, mas pelo menos as coisas estavam todas arrumadas e o presente do Guto comprado. Eu tinha que arrumar o jantar, opto por fazer uma macarronada tradicionalmente italiana e de sobremesa um pudim de frutas vermelhas que ele tanto gosta. Eu sou uma boa amiga, venhamos e convenhamos claro que tenho meus estresses, mas sou no fundo uma pessoa boa.

Assim que acabei de ajeitar os últimos detalhes na cozinha e na sala para recebê-lo, verifiquei se tinha deixado algum papel ou comprovante de pagamento referente à festa, queria que fosse de fato uma surpresa. Vou então tomar um banho e vestir uma roupa confortável, a conversa seria boa e com certeza as coisas entre a gente estavam melhorando, eu precisava do meu amigo de volta.

Quando deu 20h ele estava parado na porta daqui, tinha trazido um bom vinho e estava aparentemente mais feliz. Bom sinal! Abraçamos-nos e ele disse que sentia muito pelas coisas que tinham acontecido, realmente havia arrependimento em seus olhos e claro, nos meus também. Foi um momento meio tenso, mas logo descontraímos e ficamos ambos à vontade. Na terceira taça de vinho achei melhor começar a perguntar o assunto da minha curiosidade e disse logo de cara:

- Guto... Assume vai! Eu sei de tudo já, pode ter certeza.  Nesse momento ele ficou pálido, parecia um fantasma de tão branco que ficou. Ei, cadê o sangue do teu rosto?

- Eduarda, eu não sei do que você está falando, sério. Estou confuso, o que você quer dizer com isso?

Eita! Ele disse meu nome todo... Mau sinal. O que danado eu tinha dito de mais?

- Calma relaxa! Não sei de nada, você não me conta mais nada. Estás saindo com alguém, certo?

E assim a expressão do rosto dele foi voltando ao normal.

- Não tenho tempo para isso Duda, vamos mudar de assunto, por favor?

E assim a nossa conversa tomou outros rumos. Estava prestes a dar as 0h e eu queria muito que ele não se aborrecesse ou que o clima pesasse entre nós, então esqueci. Quando estava faltando minutos para o aniversário dele fui até meu quarto pegar seu presente. Era um cd com as músicas que marcaram nossa amizade juntamente com um certificado de amizade. Deu-me medo que parecesse brega da minha parte, sei lá, mas mesmo assim eu tinha feito. Além do mais, esses não eram os presentes oficiais.

Tinha comprado um cupcake e coloquei uma vela pequena em cima, quando cheguei na sala ele estava em pé frente a janela observando as estrelas. Era um admirador de estrelas e sempre dizia que as suas favoritas o guiavam nesse mundo. Cobri seus olhos com as mãos e lhe abracei por trás dizendo ‘’Feliz Aniversário’’ e entregando-lhe o bolinho.

Ele não conseguiu conter as lágrimas e muito menos eu. Quando nos abraçamos eu senti seu peso cair sobre meus ombros, ele chorava descontroladamente e silenciosamente ao mesmo tempo. O Guto era um cara sentimental às vezes, nunca na frente das pessoas. Passado esse momento nos sentamos na varanda e ele egoísta, comeu o bolo sozinho me deixando somente com a cereja, esse mesquinho!