Chamada 2

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[...] Quando acordei estava na cama, totalmente amordaçada e despida. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo e muito menos, na fazenda, que aparentemente era segura. Ao meu lado estava um jornal da semana passada que continha um artigo falando sobre os tais assassinatos que vinham acontecendo, o que me deixou ainda mais confusa.

A casa estava silenciosa e parecia não ter ninguém além de mim, porém, só parecia mesmo. Vou aos poucos escutando passos no corredor e a ficha começa a cair que talvez eu fosse a próxima vítima. No jornal, dizia que se tratava de um homem impiedoso e aparentemente sem nenhum vínculo com as vítimas, entretanto, fazia questão de deixá-las limpas e devidamente vestidas após assassiná-las.

Mal sabia que aquele mal já era mais íntimo meu do que tudo, lembranças, tragédias e investigações nos marcaram, sem querer éramos um só, ligados pelo desejo inacabado de resolver pendências. Ele queria terminar o trabalho e eu queria acabar com meu sofrimento, se ele não tivesse matado minha família quem sabe,seríamos ainda mais parecidos. Seu rosto eu nem imaginava, até que vejo sua mão na porta e a adrenalina começa a fazer seu trabalho no meu corpo amarrado.

Para minha surpresa ele usava uma máscara e isso me impedia até de ver seus olhos, não poderia ser o assassino dos meus pais, era jovial e aparentemente tinha a mesma idade que a minha. Músculos e mais músculos debaixo daquela roupa preta, sua altura e seu porte chamavam atenção. Educadamente me trouxe uma rosa e a depositou junto ao meu corpo. Toda aquela situação era um tanto excitante, comecei a sentir vontade de que aquelas mãos percorressem minha pele, eu não acreditava que estava sentindo aquilo e muito menos por estar vivendo toda aquela situação. Era como se de alguma forma eu o conhecesse, mesmo não fazendo ideia de quem seria ele.

Quanto mais ele foi se aproximando mais eu desejava que ele me tocasse, meu corpo estava aceso e a vontade de ser dominada por ele naquela posição aumentava ainda mais. Ele deitou-se ao meu lado e ficou passando a mão entre meu corpo, eu quis que ele tirasse o resto de roupa que tinha, e assim ele fez. Mas fez devagar, tocou meu corpo como quem toca um violão e seus dedos me faziam delirar a cada vez que apertavam minha coxa.

O que estava acontecendo comigo? Aquele perigo era tão excitante que me fez sentir um prazer estranho, do qual eu nunca tinha tido, nem mesmo com o Antônio. Aliás, por esse momento eu nem lembrava que ele tinha desaparecido. Não chegamos a fazer nada, mas eu estava satisfeita. Ele foi se aproximando do meu rosto e o puxou com força para junto do seu. Naquele momento eu tive medo e achei que ele fosse me matar, porém, ele me abraçou levemente e deixou uma faca perto das amarras.

Quando finalmente consegui sair de lá, corri para a parte de baixo onde estava a minha moto com os pneus trocados e com um bilhete em cima:

‘’ O medo é o melhor prazer que eu posso te oferecer 1026’’

Isso não quis dizer nada, pelo menos eu não entendi muito bem. Eu estava elétrica, minha pulsação estava acelerada e com certeza a adrenalina no meu corpo ultrapassava os limites aceitos pelo organismo humano. Minha meta era descobrir quem ele era, nem que fosse preciso ceder aos seus desejos mais secretos e obscuros para descobrir sua identidade. [...]

Era excitante a expectativa de achá-lo, por alguns instantes me senti insana por tocar partes do meu corpo por onde suas mãos poderiam ter passado, era um frenesi que me fazia até imaginar seu toque.

Quando voltei para casa nada havia mudado. Não tinha mensagens ou cartas do Antônio e por alguma razão, aquilo não me incomodava tanto. No começo, eu até queria que ele tivesse me procurado, mas depois do que houve na fazenda algumas dúvidas apareceram na minha mente.

Voltei para o campus lotada de projetos para entregar, era fim de período e os professores, sem exceção, estavam pegando no pé dos alunos. Decidi tirar o dia inteiro para me dedicar somente aos trabalhos acadêmicos e quando encerrei, estava muito cansada. Meu celular vibra. E rapidamente meu coração perde o freio e bate como se batesse por dois. O pego e leio o que me espera.

Amor a cobrarOnde histórias criam vida. Descubra agora