3 - Fruto da nossa imaginação

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Enquanto o silêncio invade o veiculo mesmo com quatro pessoas lá dentro, opto olhar pela janela e ver o anoitecer de Londres.

As luzes já estão acesas e a decoração de natal já se começa a ver por algumas casas e pontos turísticos. Não duvido que seja uma cidade magnífica, cheia de vida e lugares fantásticos mas infelizmente não consigo ver este sitio com tanto carinho e curiosidade como a maioria das pessoas que por aqui passa.

- Isto é incrível – a minha melhor amiga contraria da minha opinião e Justin concorda com ela.

- É lindo, gosto muito de vir cá – ele partilha – Gostava até de viver aqui.

- O que achas Ally? – a minha melhor amiga tenta incluir-me na conversa quando tudo o que eu queria era estar em silêncio.

- Prefiro a minha casa – digo apenas não estando para conversa fiada.

-Por falar em casa – Harry fala pela primeira vez desde que adentramos o espaço – o hotel estava esgotado então não consegui arranjar-vos estadia senão em minha casa ou em casa de Emília. – como se isto não pudesse piorar as opções de dormida tiram-me claramente o sono. Opção 1 é terrivelmente péssima. Ir dormir para casa de Harry está completamente fora de questão para a minha sanidade mental e a opção 2 é horrível de tão constrangedora. Dormir na casa do meu pai e passar o dia a fazer comparações inevitáveis do que era a vida dele aqui e do que não era connosco não me parece de todo saudável.

- Ally? - o meu irmão pede a minha opinião e, na espectativa de que não seja preciso ser obvia, olho-o mostrando claramente que nenhuma das opções me agrada. Durmo nem que seja no carro. Pago a um ubber para andar a noite toda comigo pela cidade só para eu dormir no banco traseiro.

- Acho que ficamos com a Emília – Justin decidi e Harry olha-o pelo retrovisor assentindo, percebendo claramente que eu sou o empecilho a aceitar-mos o seu convite.

Em menos de dez minutos estamos á entrada de uma vivenda simples mas ainda assim bastante vistosa. O portão já está aberto e o jardim iluminado com candeeiros de forma a dar visibilidade para a porta principal da casa. Tenho de admitir que o espaço exterior é encantador e a cara do meu pai, que embora tivesse dinheiro para muito mais tinha uma casa simples.

Saiu do carro assim que o mesmo para e juntamente com Justin retiro as nossas malas do veiculo. Harry caminha á frente e atrás deles o casal seguidos por mim. Assim que o primeiro toca á porta Emilia abre a mesma com um sorriso.

- Ainda bem que chegaram – á medida que vamos entrando vamos cumprimentando a senhora com um abraço. – Fico tão contente que fiquem uns dias cá em casa. – a morena festeja calorosa e é impossível não sorrir para si. A mesma dá sinal para entrar e á medida que adentramos na sala é possível ver uma fotografia da família feliz por cima da lareira. O meu pai observa as mulheres enquanto Maia e Emilia se riem. É impossível não sentir um bocadinho de inveja quando as únicas fotografias que tenho com o meu pai são tão antigas que nem me recordo de as tirar.

- Os quartos estão prontos – avisa – Harry encaminha-los enquanto peço á Beatrice para preparar a mesa do jantar? – a relação dos dois é visivelmente cúmplice e está bastante claro que o psicólogo faz parte da família, da mesma á qual pertenço.

O rapaz começa a subir as escadas muito lentamente e algo me faz sentir que ele não está bem quando ele fala.

- Desculpem, é a terceira e quarta portas – ele diz e faz sinal a Justin para seguir sem fazer perguntas, ao qual o meu irmão cumpre. O rapaz de olhos verdes fica parado nas escadas e ao passar por ele não consigo ignorar:

- Estás bem? – falo-lhe pela primeira vez desde que o revi.

- Sim e tu? – ele responde com os olhos postos no corredor e, ao acompanhar com o olhar, percebo que o corredor cheio de fotografias de Maia são o motivo da sua apreensão e é impossível não me sentir minúscula nesta casa em que o centro das atenções é a minha irmã...

Opto por não responder e subo os restantes degraus entrando na quarta porta já que a anterior tem Justin e Anne lá dentro. Antes de rodar a maçaneta uma mão interrompe-me.

- Acho melhor trocares com o teu irmão – ele sussurra nervoso e eu encolho os ombros abrindo a porta. Só não esperava encontrar o que encontrei – Porque este quarto era da tua...irmã! – completa.

Observo o espaço cuidadosamente. O lugar é meio pessoal, mostrando que embora ninguém fique aqui á vários anos tudo foi deixado como Maia deixou quando saiu desta casa. Não há objetos pessoais, apenas uma cama, uma secretária e o roupeiro embutido na parede. A parede onde a cama está encostada é cinza e está preenchida por dezenas de fotografias da loira, com Harry, com amigos e com a família... Este é o único vestígio de vida dentro destas quatro paredes.

Adentro o local e o meu reflexo passa por observar cada uma das imagens com atenção. Passo a mão por elas e como se energia de trespassa-se eu percebo o quanto a rapariga era feliz, principalmente com o marido. Fotos do casamento fazem parte do álbum exposto e eu sorriu com a imagem de Harry tão jovem.

- Ally – o rapaz chama cuidadoso sem saber que reação esperar. Na verdade nem eu sei como reagir.

Á medida que olho individualmente para cada uma das fotografias sinto-me uma ervilha no meio de tanta recordação. A forma como o psicólogo sorri ao lado da rapariga deixa claro que eu nunca poderia ser um terço disto. A maneira como ele olhava para mim não é nada quando se vê registado a forma como ele a observava e agora, se por um lado, a ferida abriu e eu me sinto em queda livre por outro lado eu tenho a certeza que tudo o que aconteceu entre mim e Harry foi um tremendo erro. Ele nunca vai deixar de ser o meu cunhado e eu a irmã idêntica da sua falecida esposa.

- Diz alguma coisa por favor – o psicólogo suplica e eu encolho os ombros sem saber o que lhe dizer então falo a primeira coisa que me passa na cabeça.

- Eram tão felizes – confesso sem observar o rapaz – devias recuperar este sorriso.

- Em tempos eu recuperei – assume – quando vivia do outro lado do oceano – ele investe mas rapidamente o corto sabendo que não posso alimentar este assunto.

Respiro fundo e então respondo-lhe.

- O que se passou do outro lado do oceano foi fruto da nossa imaginação. Foi curiosidade!

Brothers in law |H.S! - Psichologist SequelOnde histórias criam vida. Descubra agora