6

31 6 29
                                    

Uma torrente de memórias estava invadindo a minha mente uma após a outra.

No dia seguinte eu tive a mesma rotina. Corri pela manhã, fiz meditação depois do almoço e fui ao templo no fim da tarde. Em todos os momentos memórias novas surgiam, mas não me traziam respostas.

Tudo o que eu sabia era que havia sido uma rainha na Escócia, e também na Inglaterra, uma princesa na França, uma jovem simples no Canadá, uma guerreira no Japão... Também já fui uma prostituta, uma sem-teto, uma ladra, uma artista, mãe, esposa, filha, sogra... e até mesmo um homem. Eu já havia experimentado de tudo e já havia sofrido todo tipo de coisa.

Nenhuma das minhas vidas havia sido fácil, pelo menos não as partes de que me lembrava - e eu só me lembrava de alguns flashes.

Quando anoiteceu naquele dia, e eu finalmente consegui dormir, tive um pesadelo com uma possível outra lembrança.

Meu quarto estava silencioso e parecia ser um dia qualquer, mas eu tinha um pressentimento de que não seria. Meu amigo estava ali comigo, me fazendo companhia enquanto jogávamos um jogo com cartas.

Senti meu bebê se mexer em minha barriga e sorri, mas nesse momento algo inesperado aconteceu, fazendo meu sorriso desaparecer instantaneamente.

A porta do meu quarto se abriu em um rompante e um grupo de homens entrou, e todos estavam segurando lâminas em suas mãos.

Me levantei assustada, sem entender o que estava acontecendo.

- Pegamos ela em flagrante. - disse um dos homens - A rainha está cometendo adultério e nós não temos outra escolha...

Franzi a testa sem entender. Rizzio não gostava de mulheres, e era meu amigo.

- O que estão fazendo? - perguntei assustada.

- Estamos punindo o homem que cometeu traição contra o rei. - ele respondeu.

Mas o rei estava ali, meu marido, parado em meio aqueles homens e com uma expressão séria no rosto.

Nada daquilo fazia sentido.

- Rizzio, fuja daqui. - eu pedi. Mas foi tarde demais.

Os homens o seguraram e então, o que mais me chocou, eles começaram a esfaqueá-lo enquanto eu gritava pedindo para que parassem.

Me seguraram enquanto eu me debatia furiosamente.

- O que estão fazendo?! - eu gritei.

No fundo eu sabia o que estavam fazendo. Eles estavam me acusando de traição e estavam descontando isso em Rizzio, porque a mim não podiam fazer mal, afinal eu era a rainha. Aquilo era uma rebelião, um complô contra mim e a monarquia. Eles estavam acabando com a minha reputação e meu próprio marido estava ajudando com isso.

Gritei desesperadamente e me debati. Eu precisava salvar Rizzio. Não podia deixar que o matassem, mas era tarde demais. Cada um dos homens deu uma facada, como sinal de que estavam todos juntos nisso.

Rizzio estava morto e a culpa era minha.

Chorei e gritei mais ainda, desejando que aquilo fosse uma mentira.

Acordei gritando e choquei minha testa em alguém ao me levantar.

- Aiii... - ouvi o gemido de Caius, enquanto eu mesma reclamava com a mão na testa.

- Me desculpe. - pedi - Se machucou?

Fui em sua direção para ampara-lo, mas Caius se levantou assustado.

- Está tudo bem, majestade... Eu é que peço desculpas, não deveria tê-la acordado... Parecia que estava tendo um pesadelo e... e-eu...

- Está tudo bem. - garanti - Acho que não foi um simples pesadelo, mas... Te agradeço por ter me tirado dele.

- Parecia muito ruim. - ele comentou - Gostaria de... conversar sobre isso?

Apertei os lábios tentando conter as lágrimas que começaram a se formar.

- Eu só... - tentei falar - Foi uma lembrança bem ruim.

Me sentei na cama e tentei inutilmente não chorar.

Caius se aproximou devagar e se sentou na cama ao meu lado.

- Do que se lembrou? - ele perguntou.

- De um amigo. - eu respondi sincera – Eu o vi morrer.

- Um amigo?

- Sim. - funguei - Ele era um amigo muito querido e... O mataram bem na minha frente. Eu nunca senti tanta... Dor.

Caius se aproximou mais e pousou sua mão sobre a minha.

- Eu sinto muito. - confortou ele - Sinto mesmo.

Tirei minha mão de baixo da dele e sequei minhas lágrimas antes de olha-lo nos olhos.

Caius era tão... Lindo. - acho que essa era a palavra.

Eu via muita bondade em seus olhos e sinceridade também, seu rosto tinha expressões suaves e seu sorriso era de tirar o fôlego.

Sorri um pouco, apesar da tristeza que ainda sentia.

- Obrigada. - eu disse, e dessa vez eu que coloquei a minha mão sobre a dele.

Caius encarou nossas mãos e então entrelaçou os nossos dedos.

Senti meu coração acelerar mais uma vez e nós nos perdemos no olhar um do outro. Estávamos prestes a nos beijar quando ouvimos uma batida na porta.

- Majestade? - chamou Baltazar antes de entrar.

Caius já estava de pé quando a porta se abriu e saiu apressado, fazendo apenas uma reverência antes de ir.

- Então, ainda não tomou o seu café da manhã? - ele perguntou - Vim apenas verificar se a senhorita estava bem. Suas damas virão em breve para ajudá-la a se preparar e então vamos para os exercícios.

- Certo. - concordei - Você acha mesmo que em alguns dias eu vou conseguir fortalecer o meu corpo o suficiente para despertar minha divindade?

- Talvez. - ele respondeu - Mas mesmo que não consiga, como eu disse antes, apenas a sua presença aqui já fará diferença.

- Entendi. - acenei com a cabeça.

- Vou deixá-la comer. - ele falou, se curvando levemente antes de sair.

Soltei um suspiro e tentei organizar meus pensamentos.

Todas aquelas lembranças tristes estavam acabando comigo. Meu corpo não era a única coisa que precisava ser fortalecida, mas meu psicológico também. E ainda havia Caius... Eu estava gostando dele, mas não tinha certeza sobre o que ele sentia, e toda aquela confusão sobre a minha própria identidade só estava piorando tudo.

Naquele momento eu não sabia quem eu era e nem o que eu queria, pois eu já havia sido muitas pessoas, já havia vivido várias vidas e já havia desejado tantas coisas... Minha identidade já havia se perdido em meio a tudo isso.

O Reino Perdido De ÍsisOnde histórias criam vida. Descubra agora