2

57 15 64
                                    

Acordei de repente em um quarto gigante.

A cama era enorme e tão macia que parecia que eu ia escorregar dela, e bem de frente havia uma grande porta de vidro que se estendia pela parede quase inteira e era coberta por uma cortina de seda branca. A luz do sol estava forte e atravessava o tecido fino.

Havia um vaso de plantas de cada lado e um grande tapete no chão, bem na frente da cama, com uma poltrona e uns quatro pufes espalhados por ele. Ao pé da cama havia também um baú de madeira todo decorado com entalhes.

Do lado esquerdo havia uma mesa com uma pequena prateleira de livros e uma cadeira que parecia bem confortável, e também uma porta de madeira entalhada, que eu deduzi ser a saída.

Do meu lado direito havia outra porta e bem ao lado da cama havia um espelho da minha altura, mas o que mais me impressionou foi a parede, logo acima de mim, onde havia uma enorme pintura de uma mulher com gigantescas asas coloridas que eu deduzia ser Ísis - ou eu, segundo o que os magos me disseram.

Os magos! - Eu me lembrei.

De repente a porta do quarto se abriu e um jovem de pele morena e cabeça raspada, vestido apenas com uma tanga branca e esquisita entrou no quarto segurando uma bandeja.

- Rainha... - ele falou com uma reverência.

- Quem é você? - eu perguntei desconfiada e ainda um pouco confusa.

- Meu nome é Caius. Eu sou um empregado do palácio. Venho lhe trazer as suas refeições diárias. - ele falou roboticamente, como se tivesse ensaiado.

- Certo. E... Onde eu estou?

- No seu quarto, majestade. No seu palácio da Cidade Escondida de Ísis, no Egito.

Soltei um suspiro. Então tudo aquilo era verdade...

Eu estava torcendo para que fosse algum tipo de sonho maluco, mas era real. Eu estava num palácio e as pessoas daquela cidade achavam que eu era uma reencarnação de uma deusa, e a rainha deles.

O rapaz se aproximou e colocou a bandeja em uma mesinha que havia bem ao lado da cama.

- Aqui está o seu... Almoço. - ele disse, como se não estivesse familiarizado com as palavras.

- Obrigada. - respondi, só então percebendo o quanto estava com fome.

Ele andou de costas até a porta e estava pronto para ir embora, mas outra coisa me incomodava.

- Espere. - eu chamei - Preciso fazer umas perguntas.

- Sim? - ele disse com um aceno de cabeça.

- O que você sabe sobre aqueles magos que me trouxeram?

- Os três magos? Baltazar, Belchior e Gaspar são... descendentes das três magas que antes foram suas c-conselheiras, quando... fundou essa cidade. Você as abençoou e lhes deu aqueles cajados para que pudessem usar magia. Desde então os cajados foram passados de... geração em geração. - ele explicou devagar e pausadamente, como se precisasse se lembrar de como falar.

- Por que você está falando assim? - eu perguntei confusa.

- Eu não sou tão... fluente na sua língua.

- Ah. - eu exclamei finalmente me dando conta de que eu não estava mais no Brasil e as pessoas dali não falavam português.

- Os magos usaram magia e me ensinaram essa linguagem para que eu pudesse falar com a senhorita, mas às vezes é difícil... pensar nas palavras.

- Entendi.

Aquilo tudo ainda estava um pouco confuso para mim. Falando sério, ninguém acreditaria se eu dissesse que fui raptada por três magos e levada até o Egito para ser rainha de uma cidade escondida que ninguém nunca ouviu falar. E que eu era a reencarnação da deusa Ísis. Isso era loucura demais para alguém acreditar, inclusive eu. Mas eu realmente estava no Egito!

Suspirei pesadamente e olhei para a minha refeição.

Ele havia me trazido um belo sanduíche e muita salada, além de um copo de suco e uma vasilha com uma salada de frutas. Olhar para tudo aquilo fez minha boca salivar.

- Espero que esteja satisfeita com a sua refeição, eles disseram que essas são algumas das coisas que se costuma comer nas américas.

- Sim, mas está mais para a América do Norte. No Brasil costuma-se comer arroz e feijão... - eu comentei.

- Vou dizer isso para o cozinheiro.

- Não é necessário. - falei rapidamente - Não me importo com um pouco de diversidade. Isso parece bem gostoso.

- Então, eu vou deixá-la comer. - ele disse, fazendo uma reverência e andando de costas de novo para sair.

Devorei todo o meu almoço em tempo record, mas depois fiquei com dor no estômago e me arrependi por não ter comido mais devagar.

Me sentei na cama e fiquei olhando para o teto tentando raciocinar.

Fiquei pensando se a visão que eu havia tido era uma lembrança. Provavelmente era, mas eu torcia para que tivesse sido apenas um pesadelo.

Era engraçado pensar que eu havia sido ruiva em outra vida, quando agora eu era uma descendente indígena, com pele avermelhada e cabelos castanhos bem lisos.

Era triste saber que a minha morte havia sido tão trágica e aquele sentimento de medo ainda me assombrava, como se à qualquer momento minha cabeça fosse cair do pescoço e rolar pelo chão e eu fosse morrer.

Pouco tempo depois o mago da pedra vermelha veio ao meu quarto.

- Caius me disse que a senhorita havia acordado. - ele falou com um sorriso - Estávamos preocupados, você desmaiou sem motivo algum.

- É. Eu... Tive um tipo de visão.

- Uma visão? - ele perguntou animado - Recuperou suas memórias?

- Talvez uma. - eu respondi - Me lembrei de ter sido morta... Decapitada.

- Uow... - ele exclamou, com uma expressão de tristeza e surpresa - Bom... A nossa sorte é que você é uma deusa e é imortal. O seu corpo pode perecer, mas seu espírito continua vivo e é exatamente disso que precisamos conversar... Talvez o fato de estar aqui no Egito de volta tenha feito com que despertasse parte de seus poderes e de suas memórias, mas você vai precisar fortalecer o seu corpo. Precisa estar forte e saudável para que quando recuperar suas memórias e despertar seus poderes totalmente, o seu corpo possa... suportar.

Franzi a testa.

- Como exatamente eu vou fazer isso?

- É bem simples na verdade. Você só precisa se alimentar bem, beber muita água, talvez tomar algumas poções de fortalecimento, caso precise, e fazer muitos exercícios. Há algum esporte que goste de praticar?

- Bom... Eu gosto de correr, andar de bicicleta... e de nadar...

- Ótimo. - ele disse sorrindo - Agora se me der licença. Eu vou preparar tudo para que comece com os exercícios amanhã mesmo.

- Tudo bem. - eu concordei, apesar de estar preocupada.

Ele saiu e eu voltei a me deitar, pois por algum motivo eu me sentia muito cansada.

O Reino Perdido De ÍsisOnde histórias criam vida. Descubra agora