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Acordei pela manhã olhando assustada para os lados, ainda estranhando o lugar onde eu estava.

Aquele quarto era majestosamente grande e nada parecido com o meu quarto na casa dos meus pais, no qual eu ainda tinha esperanças de que acordaria à qualquer momento.

Eu sentia muita falta dos meus pais e eles deviam estar imensamente preocupados comigo. Talvez eles pensassem que eu havia sido sequestrada - e de fato eu havia sido - e talvez até pudessem pensar que eu havia morrido.

Eu queria voltar para casa... Mas como?

Não havia como. Minha única escolha era ficar e fazer o que eles estavam me pedindo, de qualquer forma a lua nova era em menos de uma semana.

Me levantei e vi sobre a minha cama uma troca de roupa que não era minha e eu não sabia como havia parado ali.

Fui ao banheiro e enchi a banheira de água para tomar um banho, pois ali estava muito calor.

Apesar da água encanada e do chuveiro quente, aquele banheiro possuía um aspecto bem antigo, como se tivesse parado no tempo. A banheira era daquelas que eu havia visto em filmes antigos, sendo grande o suficiente para que eu ficasse sentada dentro dela, com as pernas esticadas. Mas tudo era limpo e brilhante, com dourado por toda a parte.

Não encontrei nenhuma esponja ou escova, e nem sabão, então tive que me virar com o que tinha: água.

Saí do banho, sequei meu cabelo com o roupão que estava pendurado ali e depois o vesti e penteei meu cabelo com as mãos.

Peguei as peças de roupas que estavam sobre a cama e as encarei. Era um vestido de alça justo e comprido até os tornozelos, azul e com estampas estranhas e geométricas. Também havia um tipo de colar redondo e pesado que cobria boa parte do meu peito. Tentei colocá-lo, mas eu não sabia como prendê-lo.

Quando eu estava quase desistindo ouvi uma batida na minha porta e Caius entrou trazendo o meu café da manhã.

Assim que me viu ele abaixou a cabeça, desviando o olhar.

- Me desculpe. - ele pediu - Não sabia que estava se trocando.

- Tudo bem. Eu só não estou conseguindo prender esse negócio. Será que você podia me ajudar?

Ele hesitou por um momento, mas depois deixou meu café da manhã ao lado da cama e veio na minha direção.

Fiquei olhando para o espelho, enquanto ele amarrava o enorme colar em meu pescoço.

Senti um arrepio quando seus dedos tocaram em minha nuca e meu coração acelerou um pouco.

Era estranho estar sozinha com ele ali. Caius era muito bonito e também tinha um peitoral incrível.

Pensar nisso fez meu coração acelerar ainda mais e eu balancei a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Não era o momento para isso, eu tinha coisas mais importantes para me preocupar.

- Pronto. - ele disse, dando um passo para trás.

Pisquei rápido para sair do transe em que eu estava e me virei para ele.

- Obrigada...

Nossos olhos se encontraram e nós ficamos nos encarando, quase que hipnotizados, por um momento que pareceu eterno.

De repente a porta do meu quarto se abriu, assustando nós dois.

- Majestade... - cumprimentou o mago da pedra amarela. - Caius?...

- Senhor... - respondeu Caius, com uma reverência, e então saiu apressado, me deixando sozinha com o mago.

- Alguma coisa errada, majestade? - ele perguntou.

- Não. Tudo bem.

- Ótimo. A senhorita já se trocou? As suas damas estão a caminho para te ajudar no banho.

- Damas? O quê? Não, não precisa. Eu já tomei banho sozinha. Eu só preciso comer o meu café da manhã agora.

- Tudo bem. Eu vou esperar do lado de fora, então. - ele disse.

Ao ficar sozinha de novo eu me sentei na cama e suspirei.

Comi o meu café da manhã devagar. Na bandeja havia pães, leite, suco e frutas, como os cafés que costumavam ser servidos em hotéis. Eu estava começando a gostar de ser mimada daquele jeito.

Quando saí encontrei o mago ao lado da porta, conversando com Caius, que se afastou quando eu cheguei.

O mago me levou até uma grande sala que parecia uma biblioteca, mas que não havia apenas livros. A sala estava repleta de pedestais com pequenas esculturas em cima e as paredes eram todas desenhadas.

Ele puxou uma cadeira para mim em uma grande mesa que havia no centro, onde os outros dois magos também se encontravam.

- Enfim... - ele começou - Antes de tudo, eu pensei que você fosse querer saber um pouco mais sobre a sua história e sobre a cidade, e quem sabe assim, provocar as memórias à voltarem mais rápido também.

- Até que não é uma má ideia. - eu respondi interessada.

O mago da pedra azul abriu um gigantesco livro, que parecia ter pelo menos uns dois ou três quilos.

- Primeiramente. - disse o da pedra amarela - Eu sou Belchior e estes são Baltazar e Gaspar. Nós três herdamos nossos cajados de nossas antepassadas, as senhoritas Núbia, Camilly e Yunet. E este é o livro que conta a sua história e a delas.

"Quando você encarnou pela primeira vez, sua mãe era uma mulher comum do nosso povo. Ela não sabia que você era a encarnação de Ísis, mas cuidou de você com muito amor. Quando você completou dezesseis anos começou a se lembrar de quem era e então se revelou como a deusa Ísis. Todos nós ficamos felizes com isso e a coroamos nossa rainha."

"Quando chegou à idade adulta você decidiu que escolheria pessoas para reger o nosso reino, caso algo acontecesse a você, então fez estes cajados e deu um à sua irmã mais nova Yunet, outro à sua prima Núbia e o outro à sua melhor amiga Camilly, nossas antepassadas. Também foi quando usou a sua magia para transformar nossa cidade em um lugar paralelo ao resto do mundo, para que pudéssemos viver escondidos aqui. Era uma época conturbada, e as pessoas estavam começando a ficar muito curiosas sobre você, então fez isso para nos proteger.
Não passou muito tempo até que você morresse, infelizmente..."

- Como eu morri? - quis saber.

- Foi morta pelo deus dos mortos, quando fomos atacados por seu exército pela primeira vez.

- Ele me matou? E como espera que eu possa proteger a cidade dele e de um exército de mortos, seja lá o que isso for?

- Naquela época fomos pegos de surpresa, majestade. Agora estamos preparados.

- Estamos?

- Sim, estamos. Apenas a sua presença aqui torna a proteção do reino mais forte, e também a magia dos cajados, afinal eles foram feitos com a sua magia.

- Certo... E porque esse deus da morte está atacando a cidade afinal?

- Não sabemos exatamente.

- E vocês nunca tentaram perguntar o motivo?

- Nós até que gostaríamos, mas isso não é uma opção. - ele respondeu.

Era estranho como aquela história provocava em mim um tipo de déjà vu esquisito, mas havia alguma coisa estranha naquilo tudo. Alguma coisa que parecia não se encaixar...

O Reino Perdido De ÍsisOnde histórias criam vida. Descubra agora