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Yeosang suspirava entediado, fingindo ler aquele livro com conteúdo nada interessante. Foi quando teve uma ideia.

— Wooyoung. — chamou tendo a atenção voltada para si. — Acredita em reencarnação?

— Acredito sim.

— E destino?

— Também. — respondeu sorrindo, como se estivesse se recordando de algo.

— O que foi? Lembrou de alguma coisa? Me conta. — se empolgou, largando o livro sobre a mesinha no centro da sala.

— Você nunca se interessa por essas coisa, Yeo, é chato e nojento.

— Por favor... — fez manha.

— Tudo bem. — se rendeu. — Era o filho do padeiro, veio da Itália e tinha acabado de chegar aqui, todas as garotas eram caidinhas por ele, mas eu, eu gostava não da forma como ele era extremamente bonito e atraente, mas sim como ele estava sempre sorrindo, e atendendo as pessoas na maior simpatia. Ele também reparava muito em mim, era uma ligação que me fazia ficar nervoso, eu sentia algo tão forte por ele.

— Qual era o nome dele?

— Era San. — sorriu abaixando a cabeça envergonhado.

— O que aconteceu? Por que vocês não estão juntos?

— A gente se aproximou bastante, demos algumas fugidas juntos, alguns beijos escondidos, ninguém podia saber que dois garotos estavam se relacionando. Mas certo dia, ele teve que voltar para o país dele, dias se passaram e... — deu uma pausa suspirando. — recebemos a notícia de que o navio em que ele estava, tinha naufragado.

— Eu sinto muito... — passou a mão no ombro do amigo.

Mesmo tendo passado pouco tempo em sua presença, já sentia forte ligação com o Jung.

— Tudo bem, porque eu sei que na próxima vida vamos nos encontrar, e poderemos viver juntos sem nos preocuparmos em sermos julgados, ou coisa do tipo, sei que estamos destinados a passar o resto de nossas reencarnações juntos, é o destino. É sempre bom aproveitar cada momento com aquela pessoa que você sente a ligação, nunca se sabe se ela vai reencarnar. — os olhos do Kang em momento algum, saíram de Wooyoung. — Desculpa, eu falei demais e fui muito irritante, você odeia falar dessas coisas.

— As pessoas mudam, Wooy, eu amei que você me contou isso, e vou amar se você começar a ser mais aberto comigo.

O Yeosang daquela vida era o seu completo oposto, vivia de fodas com o noivo de sua irmã, era mal educado, não ligava para nada, era chato e nem mesmo ouvia o seu melhor amigo.

Enquanto a sua vida era solitária, tendo apenas aqueles espíritos brincalhões, os que gostavam de lhe aterrorizar e o de Park que era uma ótima companhia. Só não conseguia compreender o por quê de ele não ter reencarnado.

— Mas por que você resolveu questionar isso de repente? — retirou-o dos pensamentos.

— Sabe de algum fator para que alguém não reencarne?

— Acho que o batismo é um deles, mas podem existir outros, conheço uma especialista nessas coisas, se quiser eu te levo até lá.

***

Era uma cabana na cor beje por fora e uma placa bem enfeitada indicava: "Madame Soraya".

— Pode me esperar aqui fora? — pediu tendo a confirmação do moreno.

Adentrou pelo local vendo que era bem maior por dentro do que esperava, lembrou-se instantaneamente da casa de sua vizinha da pensão.

— A que devo a honra da visita do herdeiro Kang? — uma voz feminina lhe chamou a atenção.

— Tenho algumas perguntas. — iniciou vendo a mulher lhe indicar a cadeira a sua frente para que sentasse. — O assunto é a reencarnação.

— Eu sei. Sei exatamente o que veio procurar.

— Então por que perguntou? — levantou uma sobrancelha duvidando.

— É só uma frase de efeito. — revirou os olhos. — Sei também que você não pertence a essa vida, quando a Jieun usou o poder eu fui comunicada.

— Então deveria mandar ela não usar. — respondeu indignado.

— Não é como se eu pudesse falar com ela e não levante a voz para mim, garoto. — suspirou. — Quer ouvir o que tenho a dizer ou não?

— Diga. — deu de ombros vendo Soraya observar a sua bola de cristal por algum tempo.

— Que lindinho... — comentou.

— O que você 'tá vendo? — perguntou interessado.

— Estou analisando as situações e suas vidas passadas para achar a raiz do problema. Vocês parecem felizes, morrem felizes, se desejando cada vez mais... — franziu o cenho. — Venha olhar. — chamou fazendo o mais novo se aproximar. — Essa é a primeira vida de vocês.

Observou que ambos estavam ali, porém apenas sorriam um para o outro sem qualquer proximidade. O cenário mudou, porém os mesmos atos se repetiam cada vez mais.

— Não entendo, por que é sempre a mesma cena?

— O destino de vocês é estarem juntos, em qualquer vida, estão interligados, presos um ao outro, porém, o medo de confessar os sentimentos, era bem maior do que qualquer coisa. Você jamais perdeu as esperanças e confiava que em alguma vida teria a coragem de se declarar, mas essa já é a décima quinta, a vida na qual o Seonghwa deixou de acreditar. — parou para respirar. — Ele não confia mais, nem depositou totalmente o amor dele em Yeosang, ele não acredita no destino, muito menos em reencarnação, ele morreu sem propósito para continuar.

— E o que eu faço?

— Eu já falei demais, o resto é com você. — levantou abrindo uma parte da cortina, pedindo que se retirasse.

— Só isso?! — aproximou-se indignado.

— Certo, só vou pedir para você entrar no personagem, não levante suspeitas, tente se entregar completamente a ele, para ver se ele faz o mesmo. — disse em um suspiro. — Agora vá embora e nós nunca tivemos essa conversa! — alertou.

O mais novo saiu do local ainda meio atordoado, sentia que sua mente explodiria a qualquer momento, era muita informação para assimilar.

Amava aquele espírito, e agora entendia o por quê de ele estar sempre lhe rodeando — ou ainda não completamente.

Por que ele simplismente não andou até a tal luz? Ele sentiu a necessidade de estar preso a aquele mundo nojento e podre, apenas para ter a presença de Yeosang.

Isso já fora uma grande prova de amor, na opinião do Kang, mas aparentemente o universo não aceitou apenas isso, ele queria mais do Park.

O medo era um dos instrumentos que lhe impedia de amar e ser amado, aquela época ainda era extremamente preconceituosa em relação a relacionamentos amorosos entre duas pessoas do mesmo sexo, no entanto, aquele não era um problema para Wooyoung, e percebeu que também não era para Yeosang daquela vida.

Andou para o hotel afim de ter mais uma noite relaxante, na manhã seguinte acordaria cedo para enfrentar mais um ensaio de casamento, vendo Seonghwa fingir felicidade ao ver a noiva andar pela igreja.

Fechou os olhos e alguns flashes invadiram sua mente.

Fogo por toda parte, alguém gritava por si, tossia incontrolavelmente, pela quantidade de fumaça que tinha nos pulmões, seus olhos insistiam em se fechar, mas antes disso, pôde ter a visão do Park abaixado ao seu lado, gritando por si enquanto o fogo os cercava invadindo tudo, viu também o fogo carbonizando o corpo bem trajado pelo terno do casamento, enquanto este lhe agarrava.

Os olhos foram abertos em um susto e se recordou do momento em que antes de estar totalmente fora da cabana recebeu um beijo de Soraya como despedida.

"Esperta." — pensou suspirando.

Forçou um pouco a própria cabeça lembrando-se do terno que Seong usava, era o mesmo do casamento que seria em dois dias.

Uma lâmpada acendeu em sua cabeça, tinha dois dias para mudar a mente de seu amado e assim ele reencarnaria.

The Last Reincarnation - SeongsangOnde histórias criam vida. Descubra agora