Mensagem enviada

149 9 6
                                    

O que iria acontecer? Jorge iria visualizar a mensagem e iria responder, ou simplesmente ignoraria? Ou ele responderia que não sentia mais nada, e que aquela carta tinha sido um erro?
Tantas perguntas se passavam pela cabeça da Tini. Ela desligou a tela do celular e se escondeu embaixo das cobertas, de tanta ansiedade que ela estava pela resposta dele.
Lágrimas escorreram pelo rosto dela , porque ela tinha muito medo do que poderia acontecer, ou não. Porque justamente ela tinha que encontrar aquela carta em plena época completamente inesperada de pandemia? Ninguém estava emocionalmente saudável, trancado dentro de casa. Todo o mundo estava emocionalmente abalado com o que estavam vivendo. 
Seria aquela uma época para repensar em tudo? No que era prioridade. O que era prioridade para cada um?
Tini acabou cochilando com o celular na mão, despertou um pouco confusa. Ela desbloqueou o celular e entrou no WhatsApp. Tinha apenas uma mensagem. Respirou fundo antes de entrar na conversa, entrou e a resposta do Jorge foi:
- Tini, eu imaginava qualquer coisa, menos que hoje receberia uma mensagem sua, ainda mais se tratando de algo que é do passado. Não consigo nem acreditar que você só foi encontrar essa carta agora. Me pergunto, se esse era o melhor momento pra você ter encontrado essa carta. Na verdade eu sei a resposta. Esse sem dúvida foi o pior momento pra você ter encontrado essa carta. Porque não tem como conversar pessoalmente, coisa que nós sempre fazíamos. O que aconteceu no passado, infelizmente ficou no passado. Não acredito que agora isso veio à tona. De verdade, desculpa qualquer coisa. Tenho certeza que esse assunto está bem resolvido no seu coração. E isso pra mim, é o que mais importa. Estou muito orgulhoso da artista que você é. Enfim, respondendo sua pergunta, se o que está escrito na carta ainda significa alguma coisa pra mim hoje em dia...isso realmente não importa. O que importa é como você está? Você está bem? Está sabendo lidar com essa loucura que está sendo essa quarentena? Espero que não fique brava comigo por causa dessa carta, que foi escrita a quase quatro anos atrás. Também espero que só você tenha lido essa carta, porque traria algumas consequências, principalmente para mim.

            Desculpe pela carta.

Aquilo tinha uma enxurrada de palavras. 
Um misto de sentimentos tomou conta da Tini. E a grande pergunta naquele momento era: o que responder pra ele?
Jorge não estava online. A frase que Tini não parava de ler e estava tentando entender foi a parte de “o que aconteceu no passado, infelizmente ficou no passado”. Infelizmente?
Então era “infelizmente” que aquela história tinha ficado no passado?
A única solução para aquilo era procurar novamente sua amiga Mercedes para aconselhar e tentar decifrar claramente o que Jorge tinha mandado, já que para Tini não tinha ficado tão claro.
Tini enviou uma mensagem.
- Mechi, ainda está aí?
- Estou linda.
- Mandei mensagem para o Jorge.
- Socorro! e aí? 
- Ele me respondeu com um textão. Vou te enviar.
- ME ENVIAAAAA.
- Tini enviou o texto.
- O que você quer que eu te ajude?
- Quero que diga o que achou. Porque eu achei esse texto tão confuso.
- Confuso, sério Tini? Ele só não digitou claramente “ainda sou apaixonado por você” mas deixou claramente na cara.
- Sério?
- Sim. Ele não respondeu se a carta ainda significa alguma coisa para ele. Se não significasse mais nada, ele teria falado. Mas não, ele não quis dizer nada, disse que isso não importava, que o que importa é como você está.
- Será que ele quis dizer isso mesmo?
- Sim. Mas e aí você já sabe o que vai dizer pra ele?
- Acho que vou dizer que eu me importo com ele, quero saber se essa carta significa alguma coisa e dizer também que não estou com raiva por ele ter escrito essa carta.
- Cheia de atitude! Isso aí amiga.
- Obrigada por me ajudar.
- Por nada. Vai me atualizando.
- Pode deixar.
Tini colocou o celular pra carregar e foi dormir. Encostou a cabeça no travesseiro, e em meio mil e um pensamentos, adormeceu.

No outro dia:

A cama estava tão confortável, o dia estava cinzento, perfeito para dormir até tarde e procrastinar o dia todo. Mas Tini tinha duas entrevistas onlines para gravar.
Ela se arrumou, gravou as duas entrevistas. Depois desceu pra cozinha toda arrumada. Ela estava quieta, coisa rara. Seu irmão percebeu o silêncio da irmã, normalmente ela estaria tagarelando.
- O que foi maninha? - Francisco perguntou intrigado porque a irmã dele estava tão quieta.
- Nada não. Só não dormi direito.
- Certeza que é só isso?
- Sim.
- O Yatra fez alguma coisa pra você? Eu gosto muito dele, mas se ele fizer alguma coisa que te magoe, eu juro que eu dou um murro na cara dele, principalmente agora que eu estou forte.
- Não é nada sobre o Sebastián, já te disse, eu não dormi direito essa noite.
- Vou fingir que acreditei.
- Não posso fazer nada.
- Nossa, sua grossa!
Alejandro, (pai da Tini) percebendo aquela conversa falou:
- Você tem que dormir bem, filha.
- Essa noite eu vou dormir melhor.
- Se quiser, peço para sua vó me passar aquelas receitas de chá, são ótimas para dormir - Mariana (mãe da Tini) disse preocupada com a filha.
- Obrigada mãe, mas não precisa. Tenho certeza que vou dormir melhor essa noite.
Alejandro e Mariana saíram da cozinha, ficando apenas Tini e seu irmão.
- Francisco, posso te fazer uma pergunta?
- Nossa, me chamou pelo nome, senti a pressão. Pergunte.
- Você acha que vale a pena tentar concertar algo do passado?
- Se esse “algo do passado” de alguma forma mexe com você, acho que vale a pena.
Tini ficou alguns segundos em silêncio olhando para o irmão, analisando a resposta dele.
- Obrigada - Tini deu um sorriso - Vou subir para meu quarto.
- Você vai fazer alguma live hoje?
- Não.
- Que bom. Vou poder jogar em paz.
- Seu bobo.
Tini subiu para seu quarto. Tomou um banho, tirou toda a maquiagem. Colocou um pijama confortável, look oficial de quarentena.
Pegou o celular, viu um tanto de mensagens do Sebastián.
- Bom dia meu amor, mais tarde quero te ligar para nós dois conversar.
- Não está online? Um verdadeiro milagre.
- Tini meu amor, me responde.
- Aconteceu alguma coisa?
- ?
Tini respondeu:
- Desculpa, eu esqueci de dizer que hoje eu tinha que gravar duas entrevistas.
Lá estava a mensagem que ela tinha que responder...Jorge.
- Eu pareço uma adolescente de 15 anos - Tini falou sozinha olhando o texto que Jorge tinha mandado.
Respondeu:
- (Emojis de Morangos). Se lembra que esse era nosso código para conversar por mensagem? Jorge, eu me importo com você, assim como você se importa comigo. Por isso quero que me fale, quero que me responda se aquela carta ainda significa alguma coisa pra você. Eu até poderia dizer que essa carta “apareceu” no momento errado. Mas eu acredito que tudo acontece por algum motivo. Você não tem nada que pedir desculpas. Acho que eu que devo pedir desculpas, por nunca ter encontrado essa carta. Precisamos conversar. Assim como você não quer me prejudicar, eu também não quero te prejudicar. Por isso vamos usar o código que usávamos, o que acha?
Em 5 minutos Jorge visualizou a mensagem e respondeu:
- Não estou acostumado a ter essas mensagens longas. Se você quer a verdade, então lá vai. Sim, essa carta ainda significa alguma coisa, tanto que não consegui dormir direito essa noite, com medo do que você iria me responder, se isso iria fazer você ficar um tempo sem falar comigo. Estou mais aliviado com a sua resposta. Sim, vamos conversar. Vamos usar o código que usávamos. Sei que você vai me perguntar o que essa carta significa pra mim, mas antes quero que me responda: o que você sentiu ao ler essa carta?
- Eu realmente iria te perguntar isso. Eu me emocionei lendo a carta. Me emocionei porque jamais pensei que você iria insistir nessa história.
- Sério mesmo, se emocionou lendo a carta?
- Sério.
- Acho que se fosse o contrário eu também me emocionaria. O que vivemos foi algo especial.
- Ainda acha que foi algo especial?
- Claro. Você não acha que foi?
- Foi. Mas nós dois sabemos que foi errado.
- Errado é não assumir o que sente, errado é não viver o que sente. Nós vivemos o que sentíamos um pelo outro.
- Então você acha certo trair?
- Você não está entendo. Sim, é errado traição, mas eu acho mais errado ainda, trair nossos próprios sentimentos. Nós dois traímos nossos sentimentos estando com outra pessoa.
- Profundo.
- Sou um homem profundo.
- Vai começar (emoji rindo)
- Posso te fazer mais uma pergunta?
- Pode.
- Te faz mal lembrar dessa história? Essa carta te fez mal?
- Não me fez mal. Só fiquei cheia de perguntas, por isso quis conversar com você.
- Quais perguntas?
- Acho que a principal eu já te perguntei, se essa carta ainda significa alguma coisa pra você.
- Pois bem, já respondi essa. Não acredito que estamos falando sobre o que aconteceu. Porque eu lembro que você deixou bem claro pra mim, que nós dois nunca mais iríamos tocar nesse assunto. Que era pra eu seguir a minha vida, que você também iria seguir sua vida.
- É que isso me machucava.
- Eu machucava seus sentimentos?
- Não. É que eu não gostava do fato de estar traindo uma pessoa. No fundo eu também traia eu mesma.
- Como assim?
- Porque o que eu sentia com você era algo muito mais verdadeiro do que o que eu sentia pelo Peter. E eu negava isso pra mim mesma. Porque eu e o Peter era tudo o que a mídia queria. Éramos um casal perfeito.
- Estou surpreso. Várias vezes eu falava que você negava para si mesma o que sentia. E você fechava a cara e me dizia que eu me achava demais, se lembra?
- Lembro. Mas agora com a maturidade que eu tenho, percebi que você estava certo.
- Se arrepende?
- De negar meus sentimentos?
- Sim.
- Acho que um pouco depois eu me arrependi, só que aí já era tarde demais. Conheci outra pessoa e segui minha vida.
- Porque era tarde demais?
- Porque eu tinha te dado um fora. Pouco depois eu fiquei solteira e você nunca mais tocou no assunto. Nós dois conversávamos sobre qualquer coisa, menos sobre nós dois, sobre o que tinha acontecido entre nós.
- Mas foi você que disse que não queria que eu nunca mais tocasse no assunto, do que tinha acontecido entre nós. Você usou a palavra “nunca mais”. Eu respeitei seu espaço. Eu podia te perder como um romance, mas jamais queria perder sua amizade. Só que teve um dia que não aguentei. E foi nesse dia que eu escrevi a carta. 
- Minha maior surpresa dessa carta, é que eu pensei que nessa época, você realmente tinha desencanado de mim.
- Não Tini. Depois que escrevi essa carta, eu fiquei tão mal que no outro dia eu terminei com a Stephie.
- Nossa!
- Passei os 6 meses seguintes pensando em você. E nada de você me mandar mensagem. Ou seja, você não tinha visto a carta, ou você tinha visto a carta mas tinha me ignorado? Eu estava tão inseguro.
- Até agora estou chocada com a parte que você se separou da Stephie.
- Sim. Eu não aguentava estar com alguém e pensando em outra. Não que eu não gostasse dela, eu gostava mas eu te amava. 
- E o que fez durante esses 6 meses?
- Fiz shows, lancei clipes. Queria mostrar que estava tudo bem, só que por dentro eu estava muito mal. Teve uns 3 meses que todo dia antes de dormir, a última música que eu ouvia era “yo te amo a ti”.
- Nossa, que bad! Estou sem palavras, não sei o que te falar.
- Você queria saber tudo, não é? 
- Sim. Só que eu não imaginava que tinha acontecido tudo isso com você .
- Pois aconteceu. Quer que eu continue contando o que aconteceu?
- Sim.
- Eu pensava em te mandar mensagem e perguntar se você tinha encontrado essa carta, mas se eu fizesse isso eu estaria sendo um bosta de um egoísta, pensando só no que eu sentia. Para mim seria fácil mandar uma mensagem pra você, porque eu estava solteiro. Só que você na época já estava namorando com o Pepe e eu jamais queria aparecer na sua vida para te assombrar de novo, tipo aqueles ex chatos. Eu não queria ser o ex chato. Acima de tudo eu sempre te respeitei e queria seu bem. Ainda quero muito seu bem. Depois eu fui aceitando que você tinha seguido sua vida e que eu também deveria fazer o mesmo. 
- Durante esses 6 meses nós não conversamos nenhuma vez?
- Conversamos umas 2 vezes, só que foram outros assuntos.
- Você podia ter falado pra mim o que estava sentido.
- Não Tini. Isso iria te prejudicar. Você estava seguindo sua vida.
- Obrigada por não ter me mandado mensagem. Tenho certeza que isso não seria bom pra mim, não que você me faz mal. Acho que você entendeu o que eu quis dizer.
- Entendi.
- Mas em compensação você sofreu muito por mim. Me desculpa.
- Não peça desculpas. Eu que sofri sozinho.
- Não imaginava que você iria sofrer desse jeito.
- Foram 6 dolorosos meses, mas que me ajudaram muito. Amadureci muito nesse tempo. A dor às vezes faz a gente ficar mais forte.
- O que não mata, fortalece.
- Sigo Adelante, bem isso. Tini eu não estou te atrapalhando?
- De maneira alguma. Foi eu que te procurei.

Jortini - Carta Onde histórias criam vida. Descubra agora