Prova de amor

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Jorge abriu sua conta no Twitter e logo de cara viu um post da Tini. Ele ficou totalmente sem reação. O post era uma declaração dizendo que ela e o Sebastián haviam terminado. Por um segundo ele sentiu que talvez aquela carta tivesse acabado com um relacionamento famoso. Se sentiu um pouco culpado e resolveu ligar por chamada de vídeo, era a primeira vez em anos que eles iriam fazer novamente uma chamada de vídeo.
Tini estava tirando a maquiagem para ir tomar banho quando o celular tocou, ela levou um susto quando viu que era uma chamada do Jorge. Ela atendeu o celular e ajeitou encostado no espelho para que ela conseguisse terminar de tirar a maquiagem.
- Estou te atrapalhando? - Jorge perguntou.
- Não está. Estou terminando de tirar a maquiagem. Creio que nenhuma mulher gosta que a veja tirando maquiagem porque a gente fica feia, mas tudo bem.
- É impossível você ficar feia.
- É possível sim. Precisa ver como eu fico quando acordo.
- Já vi algumas vezes, uma em especial - os dois ficaram se olhando pela tela do celular - e você continuava linda.
- Obrigada. Mas que milagre foi esse de me ligar?
- Liguei porque vi seu post no Twitter.
- E?
- Tini, quando eu disse que queria uma prova de amor, eu não me referia exatamente a isso.
- Então, o que você queria?
- Assumo, era isso mesmo. Mas não sei. Estou me sentindo mal.
- Mal porquê?
- Era isso mesmo que você queria, terminar com o Sebastián?
- Eu estive pensando nesses dias e cheguei a conclusão de que: se eu amasse de verdade o Yatra, eu não teria ficado tão mexida com aquela carta.
- Então você não amava ele?
- Não é isso. Acho que eu não amo ele o suficiente para me casar com ele. Eu sonho em me casar, formar uma família, ter filhos. Percebi que não é com ele que eu quero isso. Amo ele mas não o bastante, não o suficiente.
- O que seria esse "bastante" "suficiente"?
- Você!
- Wow, agora eu não sei o que falar.
- Não precisa me falar nada, não agora, mas eu preciso te falar algumas coisas.
- Fala.
- Jorge, eu te amo. O coração não escolhe quem nós vamos amar, mas eu te amo tanto que sinto que se meu coração pudesse escolher, ele também escolheria você. No tempo em que não estivemos juntos, eu sempre me lembrava de você, sempre. A música flores é inteiramente pra você. Nesses anos separados só consegui ouvir apenas uma vez "yo te amo a ti" e fiquei o dia inteiro chorando e triste porque na música fala "siempre será así". Queria conseguir te dizer tudo o que está aqui no meu coração, mas não consigo agora. Tem uma música, quero que escute. Essa música diz tudo o que eu queria conseguir te dizer. Escuta "Vas a quedarte" da Aitana, pense nessa música. Tchau Jorge.
Tini desligou a chamada, e bloqueou a tela do celular. Suspirou aliviada. Aquela sensação estava deixando ela mais leve e tranquila. Pela primeira vez em anos, ela estava sendo completamente verdadeira com os seus sentimentos dela, sem se importar com as consequências. Ela ligou a tela do celular, desbloqueou e deixou de seguir o Sebastián, aquilo era o melhor. Eles combinavam como amigos, mas não como namorados, o pai dela às vezes dizia isso pra ela.
A tarde havia se passado e ela não tinha tocado no celular, queria evitar ver as notícias mentirosas que provavelmente iriam fazer a respeito do término. Pediu uma pizza, comeu e ficou sentada perto da janela da sacada da sua casa que ficava de frente para a rua, olhando o céu. Depois ela foi tomar um banho para relaxar. Em meio ao silêncio que estava sua mente, uma ideia veio de repente e sozinha ela falou "e se eu gravasse o vídeo de ella dice aqui na banheira?". Depois ela escovou os dentes, colocou um pijama bem quente para dormir, já que o dia estava bem frio. Abriu o Whatsapp e tinha uma mensagem do Fran
- Tini, está tudo bem? Hoje você nem desceu aqui para baixo. O pai e a mãe estão preocupados com você.
Tini respondeu com uma mensagem de voz:
"Eu estou bem, só quero ficar sozinha. Amanhã tudo voltará ao normal"
Ela tinha pensado em ligar para a Mechi e falar como ela estava se sentido, mas resolveu não ligar e não visualizar a mensagem que a amiga havia mandado.
Em meio aos dispersos pensamentos, ela dormiu.
No outro dia pela manhã, com o som de uma voz masculina bem de longe, ela estava sonolenta, não conseguia distinguir de quem era voz. Quando ela acordou pra vida, ela percebeu que a voz era do irmão.
- Já vou abrir a porta.
Tini saiu da cama descalça e abriu a porta do quarto.
- Preparei o seu café da manhã. Estou preocupado com você.
- Ai que amor. Entra, vamos tomar o café da manhã juntos.
Fran entrou no quarto, os dois sentaram no chão e começaram a tomar o desjejum.
- Se lembra de quando a gente tentava copiar as receitas de bolo da mamãe? - Fran perguntou.
- Lembro. Que horror que ficava!
- Terror na cozinha. Você sabe que eu te amo, mas esse desjejum não foi eu que preparei, pedi tudo daquela padaria que você gosta.
- Sim, eu notei mas tentei ser a irmã mais nova fofa que acredita em tudo o que irmão mais velho fala.
Os dois riram.
- Fran trazendo café da manhã na minha cama? São duas coisas que não combinam em uma mesma frase - Tini falou enquanto comia seu bolo preferido que o Fran tinha comprado.
- Para de me zoar, eu me esforcei muito em digitar a mensagem para a padaria, para eles entregarem tudo aqui em casa.
- Sim, imagino o esforço que você teve. Obrigada Fran.
- Por nada mana, só quero te ver bem.
- Te amo.
- Eu também. Não queria tocar no assunto mas é inevitável, como você está em relação ao término?
- Eu estou bem. Só preciso daquele tempo para assimilar as coisas.
Fran ficou alguns segundos olhando para a irmã.
- Que cara é essa Fran, me encarando porquê?
- Lembra que uma vez nós lemos em um livro que os irmãos conseguem sentir quando algo está acontecendo com o outro?
- Sim, lembro.
- Sinto que tem alguma coisa acontecendo com você. Não faço ideia do que pode ser, mas creio que é relacionado a esse término. 
- Tem algo rolando, quero muito te contar mas não quero contar agora, desculpa.
- Não precisa pedir desculpa, te entendo. Nessa questão nos parecemos muito, eu também só conto algo quando me sinto confortável para falar.
- Realmente a gente se parece nessa questão. Logo eu te conto tudo.
- Eita, é tanta coisa assim?
- Sim. Muita coisa.
- Agora fiquei curioso. Mas espero seu tempo para me contar.
- Você é tão fofo. Obrigada pelo café da manhã preparado por esses braços fortes.
- Para Tini.
Os dois riram.
- Eu vou malhar - Fran pegou a bandeja que tinha arrumado com o desjejum.
- Vai lá fortão, as Tinistas estão pirando com você nessa nova fase, todo atleta.
- Talvez eu acabe namorando com alguma das suas fãs.
- Você não é nem doido de namorar uma fã minha.
- Eu sei bobinha, estou só brincando. Te vejo mais tarde lá embaixo?
- Sim, eu vou descer depois pra pegar um sol.
- Isso, pegar sol faz bem. Depois eu vou no mercado, quer que eu pegue alguma coisa para você?
- Quero nutella, doce de leite, sorvete de uva e quero também uma cartela de morango.
- Quer morrer de diabete? - Fran perguntou com uma cara espantada pelo gosto nada saudável da irmã.
- De vez em quando não faz mal - Tini fez uma carinha fofa.
- Essa carinha fofa ilude qualquer um.
Os dois riram e Fran saiu do quarto.
Tini entrou no Whatsapp e respondeu a mensagem da Mechi que perguntava como ela estava.
- Mechi, eu estou bem. Ontem pensei em te ligar e te contar a grande bomba antes de publicar no Twitter, mas queria passar por esse momento sozinha. Tanto que ontem não sai do quarto. Quis tirar um dia literalmente só pra mim. Te amo, vou tomar um sol, talvez mais tarde eu te ligue e conversamos, pode ser?
Tini vestiu um biquíni, desceu as escadas, foi para o jardim da casa, passou protetor solar e deitou na cama para se bronzear.
De repente ela escuta:
- Bom dia princesa.
- Bom dia pai.
- Estou atrapalhando sua sessão de bronze?
- Você nunca atrapalha. Pega aquela cadeira ali e senta aqui do meu lado - Tini apontou com o dedo para a cadeira.
Alejandro pegou a cadeira, e sentou ao lado da filha.
-Você está bem?
- Estou sim, pai.
- Eu não vou negar que estou feliz por você.
- Pelo o que exatamente?
- Por você e o Sebastián terem terminado.
- Ai que maldoso papai.
- Apenas minha opinião. Se lembra que eu sempre dizia pra você, que vocês dois combinavam só como amigos?
- Lembro.
- Pois é Tini. Por mais que eu pensasse isso, fiquei surpreso com a notícia.
- Queria muito ter contado pra vocês o que estava rolando e não deixarem vocês saberem apenas pela postagem.
- Te entendo filha, às vezes temos que tomar uma decisão sozinhos.
- Exatamente. 
- Tomou o café da manhã que o Fran jura que preparou sozinho?
- Sim, estava uma delícia. Mas pai…
Tini olhou para o pai dela. Alejandro sempre tinha sido o fiel conselheiro para ela. Ele  sempre aconselhava ela, sempre sabia o que dizer.
- O que foi filha, tem algo te incomodando?
- Preciso muito que me escute, quero muito saber o que você vai dizer sobre o que está acontecendo.
- Então, tem algo acontecendo?
- Sim.
- Pode me contar.
Tini sentia o coração bater forte, uma mistura de medo com ansiedade, deveria mesmo contar tudo o que estava acontecendo?
- Estou sentindo meu coração pulsar a mil batidas por segundo.
- Calma filha. Você sabe que sempre te escutei, sempre te aconselhei.
- Estou com medo de você me julgar - os olhos dela marejaram.
- Jamais! Não julgo ninguém, muito menos minha família, meus filhos, muito menos você minha caçula.
Tini deu um sorriso.
- Vou contar tudo do início.
Tini ficou quase cerca de meia hora contando toda a história. Contou como estava se sentindo. Alejandro escutou com atenção. Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. Era muita informação para digerir.
- Falei rápido demais, pai?
- Não filha, você sabe que eu gosto de detalhes e me sinto muito feliz em saber que você confiou pra me contar toda essa história. Você contou isso para a sua mãe ou para o seu irmão?
- Não. Pensei em contar hoje mais cedo para o Fran quando ele foi no meu quarto, mas achei melhor esperar outro momento em que eu me sentiria mais confortável.
- Fez certo, não sei se seu irmão está preparado pra saber que você está apaixonada a anos por um mexicano que ama tacos apimentados.
Tini deu uma gargalhada porque sabia que o irmão dela odiava tacos.
- Realmente seria muita informação para aquele doidinho.
- Obrigado por me contar Tini, me sinto privilegiado por estar sendo o primeiro aqui de casa em saber.
- Se sinta.
Alejandro estendeu a mão e ela segurou a mão do pai.
- Filha, posso te aconselhar e dizer tudo o que achei do que me disse?
- Deve papai. Preciso.
Alejandro soltou a mão.
- Antes de tudo preciso te contar uma coisa.
- O quê?
- Eu já vi você e o Jorge juntos.
Tini arregalou os olhos.
- Quando isso?
- Um dia vi você e ele de mãos dadas. Eu tinha ido na casa de um amigo. Quando eu estava saindo, vi você e ele andando de mãos dadas. Tenta imaginar minha cara quando vi. Quase não acreditei. Tanto que fiquei olhando fixamente para vocês dois, aí nesse momento meu amigo falou: conhece esse ator? e fingi que não conhecia pra eu ver o que ele iria falar, perguntei que ator era aquele que estava de mãos dadas com uma moça, e ele me respondeu: é um ator que está fazendo aquela série que sua filha também faz. Meu coração gelou quando ele falou isso, gelou por dois motivos. Primeiro, será que ele reconheceu que a moça que estava de mãos dadas com o ator era você? Segundo, ele sabia quem era o Jorge. A sorte é que você estava do lado esquerdo da rua, e esse meu amigo não enxergava bem. 
Tini estava em choque. Ela estava sem acreditar em tudo o que tinha ouvido, mas as últimas palavras do pai, fizeram ela rir.
- Porque está rindo?
- Achei engraçado a parte que você falou que esse seu amigo não enxergava bem.
- Que bom, imagina se ele tivesse te reconhecido? Você não merecia ser exposta desse jeito.
- Mas pai, porque você não me contou que viu e o Jorge? E tem mais um detalhe, esse dia que você me viu de mãos dadas com o Jorge foi o primeiro dia que eu fui na casa dele, então meio que você soube logo no primeiro dia sobre eu e ele.
- Filha, eu não mando na sua vida. Nunca quis ser um pai autoritário em dizer, isso está certo ou isso está errado. Iria adiantar eu falar que tinha visto vocês dois juntos? Eu fiquei preocupado com você, porque aquilo era muito arriscado. Imagina o burburinho que aquilo poderia dar? Pensei várias vezes em tentar conversar sobre isso, mas achei melhor deixar você viver. E outra, eu não gostava do Peter.
- Papai! Sério, você merece o prêmio de melhor pai do mundo.
- Eu me lembro bem o quanto você sofreu ataques por causa daquele namoro. Você começou a namorar com ele quando ainda era de menor, e ele já de maior. Tinha uma boa diferença de idade entre vocês.
- Eu e o Jorge também tínhamos diferença de idade, óbvio temos até hoje.
- Eu sei. No fundo é o seguinte, que mulher em sã consciência escolheria o Peter ao invés do Jorge? O Jorge é muito mais bonito e simpático. Chega ser pecado comparar os dois.
- Que língua afiada!
- Estou errado?
- Está certo. O Jorge é um gato!
- Ele é um galã.
- Depois disso, você viu mais alguma vez, eu e ele juntos?
- Não claramente. Mas era nítido que vocês tinham alguma coisa, ainda mais fora das câmeras. 
- Ficava muito na cara nas entrevistas?
- Ficava. Os olhares e os sorrisos entregavam.
- E olha que nós dois tentamos disfarçar.
- Péssimo disfarce. Mas e aí, será que Jortini vai realmente ser público?
- Não depende só de mim. 
- Realmente. Eu torço por vocês.
- Sério mesmo? - Tini soltou um sorriso ao ver a reação do pai.
- É claro Tini. Nunca te vi com os olhos brilhando desse jeito. 
- Você não acha que tudo foi um erro?
- Erro é uma palavra muito forte. Erro é matar, roubar. O que vocês fizeram foi uma aventura arriscada, mas o que muda de uma aventura para o que vocês viveram é que aventura é momentânea, vocês não foram momentâneos. Tanto que ainda se amam.
Nesse momento escorreu uma lágrima dos olhos da Tini.
- Obrigada, eu te amo tanto.
- Te amo mais. Espero que tudo dê certo. Siga seu coração, independente de onde esse caminho chegue.
- Estou seguindo. Ontem nós dois conversamos e mandei uma música pra ele, e terminamos a conversa. Não conversamos mais depois disso.
- Que música você mandou pra ele?
- Vas a quedarte da Aitana.
- Uma flechada no coração. Acertou em cheio na escolha da música. Lembro de quando estávamos só eu e você no carro e recém tinha lançado o álbum da Aitana. Ouvimos todo o álbum e essa foi nossa canção preferida do álbum.
- Sim, lembro desse dia.
Os dois conversaram por mais um tempo e depois entraram para dentro da casa para almoçar.
-De biquíni na cozinha? - Mariana perguntou ao ver a filha servindo a comida, de biquíni e com o bronze em dia.
- Sim mamãe, até parece que não sabe que eu adoro ficar de biquíni.
- Mas dentro de casa é meio estranho.
- Porquê implicar mãe? Sou eu que estou vestindo.
- Deixa ela Mariana - Alejandro entrou no meio da conversa.
- Porquê você e o Sebastián terminaram?
- Larga de ser inconveniente - Alejandro falou sério, completamente incomodado com a situação.
Martina terminou de mastigar.
- Mãe eu não quero falar sobre isso. Vamos falar de outra coisa.
Os três terminaram de almoçar. Tini subiu para o quarto dela.
Logo em seguida Fran chegou, passou álcool em gel nas compras.
- E esse tanto de doce? - Mariana perguntou pensando que o Francisco tinha decidido quebrar a dieta.
- É para Tini - Francisco respondeu, deixando a mãe surpresa.
- Ela vai passar mal se comer tanto doce!
- Ela não vai comer tudo de uma vez. Ela já veio almoçar?
- Veio.
Fran pegou o pote de sorvete e foi até o quarto da Tini.
-Aqui está o seu sorvete.
- Obrigada.
- O que acha de a gente assistir um filme enquanto toma sorvete?
- Acho a ideia perfeita! 
Os dois pegaram vários travesseiros, ajeitaram no chão, ligaram a Netflix e começaram a tomar sorvete.
Os dois assistiram um filme, se divertiram muito. 
Mais tarde, quando Tini estava quase indo dormir, ela escutou o celular chamando. Olhou para ver quem era, e era ele...O motivo dos sorrisos bobo, Jorge Blanco. Era uma chamada de voz.
- Tini, estou te atrapalhando?
- Não. Eu estava indo dormir, mas pode falar.
- Certeza que não estou atrapalhando?
- Sim, certeza. Pode falar.
Jorge deu um suspiro do outro lado da linha.
-Eu ouvi a música que você falou pra eu escutar.
- E?
- Passei o dia inteiro ouvindo. Fiquei imaginando você cantando essa música. É isso mesmo tudo o que você está sentindo e que quer me dizer mas não consegue?
- Sim. Não é que eu não consigo dizer. É que eu gosto de falar o que sinto olhando nos olhos. Apesar que meus relacionamentos sempre foram a distância, mas com você sempre foi olho no olho. Sinto falta disso. Queria poder conversar com você, olhando nos seus olhos.
- Eu também. Pelo celular dá pra resolver mas não é a mesma coisa que um encontro. Mas fazer o quê? Estamos em meio a uma pandemia.
- É triste. Espero que tudo passe logo.
- Eu também espero. Você tem mais alguma coisa para falar ou tudo o que queria dizer está nessa canção?
- Quero te ouvir agora, até tenho mais uma coisa para falar, mas quero te ouvir.
- Tini. Dessa vez eu quero fazer as coisas da maneira certa. Eu até te pediria para me esperar mas acho injusto fazer isso com você. Então, não me espere. Essa quarentena tem mexido muito comigo, tenho refletido sobre muitas coisas.
- Entendo. Tudo bem, obrigada por ter sido sincero. Então, não vamos mais conversar?
- Não. Tenho que resolver muitas coisas.
- Tudo bem. Desculpa qualquer coisa, acho que talvez eu tenha me precipitado demais em relação a isso tudo.
- Você não tem nada que pedir desculpa. Está tudo bem.
- Me sinto mais aliviada. 
Tini queria muito dizer algo, mas estava com medo. Mas ela sabia que iria doer muito mais se ela não falasse.
- Jorge, eu vou desligar, estou com sono.
- Boa noite, dorme bem.
- Boa noite, só quero te dizer mais uma coisa.
- Pode falar.
- Fica comigo?
Tini desligou a chamada. Os olhos dela se encheram de lágrimas, ela não sabia se aquilo tinha sido um "término", o que tinha acontecido? Confusa, ela ligou para a Mercedes pelo zoom.
-Obrigada por me atender.
- Você não tem que me agradecer, sou sua amiga. Até já sei, se você me ligou é porque algo aconteceu.
- Sim.
- Você está com uma cara de quem quer chorar, não sei.
- Eu estou muito confusa.
- O quê aconteceu?
- O Jorge me ligou, conversamos e não sei o que aconteceu. Não sei se foi um "término". Foi tão estranho e confuso o que nós dois conversamos. Nunca tivemos uma conversa desse jeito. Sempre fomos muito claros um com o outro.
- O quê ele te disse?
- Eu tinha falado pra ele ouvir uma música da Aitana, chamada "vas a quedarte", conhece?
- Bom gosto garota, conheço sim. Que hino!
- Essa música é linda. Aí hoje nós conversamos sobre a música e ele me perguntou se era isso mesmo o que eu queria falar pra ele, e eu disse que sim. Depois ele me disse que tinha que resolver algumas coisas, que ele estava muito pensativo nessa quarentena. Não sei, estou tão insegura com isso, não gosto de me sentir assim. E pra completar ele disse que não era para eu esperar por ele.
- Esperar por ele?
- Sim, e real, não faz sentido essa frase.
- Ele disse algo antes dessa frase.
- Não.
- Certeza.
- Me lembrei. Ele disse que queria fazer as coisas certas.
- Então ele disse que queria fazer as coisas certas e depois disse para você não esperar por ele?
- Sim, foi isso. 
- Tini, está na cara.
- Como assim, na cara?
- Ele disse que quer fazer as coisas certas. Ou seja, ele vai terminar o relacionamento dele.
- Será? Não sei se foi bem isso que ele quis dizer. Então, porque ele disse que não era para eu esperar por ele?
- Tini, ele não quer que você sinta o mesmo que ele já sentiu. Ele ficava te esperando. Ele ficou esperando uma resposta para aquela carta. Creio que ele vai terminar o relacionamento dele. E você disse que ele falou que estava muito pensativo nessa quarentena. O que tudo indica a minha teoria.
- Será que foi isso o que ele quis dizer?

Jortini - Carta Onde histórias criam vida. Descubra agora