Sem pé nem cabeça: capítulo 2

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No dia seguinte eu tomo café da manhã, escovo os dentes, me troco e vou pra escola. No caminho fiquei pensando naquilo que meu irmão comentou. Chego na sala, sento na minha carteira e automaticamente me lembro de uma brincadeira que minha professora de português fez com a minha sala no 5°ano ou algo assim.
Cara, COMO EU ESQUECI ISSO?!

Penso um pouco enquanto mexo minhas pernas (pura ansiedade) e vou até a carteira do professor naqueles 30 segundos de coragem e chamo a atenção de todo mundo. Já que, novamente, o professor de geografia faltou (ele parece odiar a minha sala, não é possível que toda semana ele tenha consulta com o médico bem no dia e horário da aula com a nossa turma!)

Eu me sento com as pernas bambas e recebo a atenção de três ou quatro pessoas por alguns míseros segundos, causando uma quase crise, eu respiro e respiro até me acalmar, e falei:

- Ô GENTE! E se fizermos uma coisa pra passar o tempo?! - Digo praticamente gritando, já que a minha sala não era tão quieta.

Todos me olham com certo desprezo sem me responder nada, e o arrependimento de ter feito isso bate na hora. É péssimo quando você idealiza na sua cabeça que tudo vai dar errado, depois você cria coragem repetindo pra si mesmo que isso é só a ansiedade e medo, e quando você faz o que queria fazer desde o início tudo realmente dá errado como você pensou na sua cabecinha, e as vezes até pior. Nesses momentos eu penso: "Caramba, minha psicóloga estava erradíssima quando disse pra eu ignorar meus pensamentos negativos." Penso que eu deveria ser mais pessimista de vez em quando, mas hoje eu não posso, tenho que descobrir quem é meu admirador secreto!

Levantei me sentindo humilhado, mas não derrotado, e fui até a minha mesa pra pegar dois papéis no meu caderno, um pra sala, outro pra mim, e peguei também um lápis, voltei pra mesa do professor tentando buscar coragem pra voltar a falar mas não estava conseguindo de jeito nenhum, olhar aqueles adolescentes estava me apavorando.

Comecei a encarar para a parede azul e branca da sala para o nervosismo não tomar conta de mim, uma técnica clássica.

- Ok, vou explicar a brincadeira mesmo assim... Alguém pega essa folha de papel e começa a escrever uma história, MAS... - gritei para abafar o volume alto das conversas paralelas, por 5 segundos senti a desgraça que é ser um professor tímido. - Quando eu falar "passa" a pessoa vai ter que dar o papel para a carteira da frente, pra outra pessoa continuar a história, até o papel ter passado por TODO MUNDO a sala! E no final, nós lemos como ficou tudo, sério a história vai ficar muito boa, haha. - Eu ri de nervoso.

Definitivamente, ser professor não é pra mim. Ainda bem que nunca nem pensei na possibilidade de ser um.


No começo só algumas pessoas ficaram minimamente interessadas e tentaram convencer mais alguém a jogar.

- Não precisa escrever algo muito "uou", sabe? Pode ser qualquer coisa simples que passe na sua cabeça para completar a história do outro.

Por sorte minha, algumas pessoas querem participar e estão tentando convencer o resto, nisso eles começaram a organizar os acentos da sala pra que ninguém tivesse que adivinhar quais pessoas iriam jogar e quais pessoas só estavam no meio do caminho atrapalhando o jogo. Quando vi, metade dos alunos já queriam participar da brincadeira.

Então o jogo começou e as pessoas que jogaram começaram a se empolgar cada vez mais com aquilo, assim como eu.

Eu tinha me esquecido do quão legal era ver a sala unida pra fazer algo, depois que misturaram os dois primeiros anos (que agora são os segundos anos do ensino médio) em salas bem aleatórias ninguém conversava direito com outros grupinhos a não ser os que não se desmancharam durante essa bagunça toda.

Estúpido Eu - YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora