E falando na praga... : Capítulo 4

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Eu cheguei na tal sorveteria e... sei lá, isso aqui me parece bem familiar... tipo, o fato de eu estar aqui com o Soobin me lembra algo... ah, mas me lembrando algo bom está tudo bem!

  Aquela era uma das sorveterias que mais pareciam um restaurante, e você mesmo se servia, sabe? E como eu falei antes, ela era toda colorida, simplesmente linda! (Tenho certeza que isso era um dos motivos de Bin estar sempre alí.)

  Nos sentamos numa mesa num canto bem mais reservado (foi escolha do Soo, ela disse que queria aproveitar pra conversar comigo sobre umas coisas aleatórias.)


  Ela pegou uma bola de sorvete sabor morango, e outra de baunilha, e colocou cobertura de chocolate em ambas, e eu também peguei uma bola de baunilha, coloquei uma de chocolate, e cobri as duas com cobertura de morango.


  A gente estava sentado em uma mesa redonda um na frente do outro, ela estava numa cadeira e eu naqueles sofás que ficam grudados na parede.

— Não acredito, você gosta MESMO sorvete de chocolate, Yeonjun???

— Pera... você NÃO gosta???

  Nós dois fizemos uma cara de espanto bem exagerada um pro outro, como se aquela besteira fosse um absurdo.

— Olha, chocolate em si é perfeito, mas o sorvete é simplesmente terrível! Eu confiava em você, Yeonjun! Como pôde fazer isso com você mesmo??? — Ela fingiu secar lágrimas do seu rosto.

— Não fala assim do meu sorvete, senhorio Bin! — A olhei com uma cara irritada enquanto “abraçava” a minha taça de sobremesa. — Fica calmo chocolate, não escute o que esse maluco está falando!

— Oh não, agora ele até fala com esse monstro! Você não era assim, Sr. Yeonjun. No que você se tornou?!

  Senti uma grande vontade de rir, mas eu precisava continuar aquela peça toda, aproveitando que ninguém estava perto de nós.
Eu larguei a taça e olhei para baixo.

— Eu pensei que eu só tomaria esse sabor uma vezinha… mas meu desejo foi se tornando cada vez maior… então, quando tomar sorvete de chocolate se transformou num hábito, eu… — digo erguendo minha cabeça lentamente. — Eu virei gente normal, isso é óbvio, Soobin!

— O que??? Tá me chamando de maluca pela SEGUNDA vez?! Qual é o próximo passo? Parar de falar comigo só por eu estar certo!? — Ela falou apoiando suas duas mãos na mesa e se levantando em seguida.

— Vou sim! Porque quem está certo aqui sou eu!

Ele tapou a boca com as mãos ainda agindo dramaticamente.

— Nossa! Você quer que eu chore pro resto da minha vida então??? Não ia aguentar ficar sem você aqui pra me encher o saco! — Soo fez bico, me fazendo rir.

— Eu NUNCA enchi seu saco! Sou um anjinho com você! — Virei meu rosto e cruzei os braços.

Em seguida rimos, terminando aquela cena digna de Oscar.

“Não ia aguentar ficar sem você...” essa frase grudou na minha cabeça.

— Ok ok, todo mundo tem defeitos, até você, Jun! — Brincou e pegou sua colher pra começar a comer o sorvete.

Sorri e fiz o mesmo que ele.

Ele falando meu nome com uma cara de irritado também foi tão fofo…


Ah! Lembrei! Isso parece a minha carta! O que eu tinha escrito mesmo?

  Hum... “O biquinho que você faz enquanto fala seria tão fofo que eu não me aguentaria, te levaria pra algum cantinho escondido de lá pra... te encher de... beijos” hehehe, é quase isso que tá acontecendo agora...


  De repente sinto uma movimentação no sofazinho, quando olho, Soobin tinha mudado para o meu lado, ele ficou bem pertinho de mim.

Eu acho que nem preciso falar que minhas bochechas começaram a se avermelhar muito!

— E sobre aquela insegurança que você estava sentindo? O diário tá ajudando? — Perguntei enquanto colocava meu braço ao redor dos ombros da pessoa.

— Olha, eu confesso que não vou escrever todo dia, mas me ajudou sim. Eu descobri que eu estava me sentindo assim porque quando eu era criança, meus pais se separaram, e eu jurava que eles não iriam se amar ou me amar mais. — Ele riu. — Eu pensava que se meus próprios pais não se gostavam mais, era porque estava difícil cuidar de mim e eles haviam desistido de ficar juntos. Essa é uma grande bobagem, mas na época fazia sentido… eles me amam muito, e ainda gostam um do outro, é só que eles não são mais apaixonados mesmo.

— Entendi… você já descobriu como tirar um pouco desse seu medo?

Soo olhou pra cima e apoiou sua cabeça em meu ombro.

— Eu sei lá… acho que aquela parte que eu tinha que imaginar o que eu faria se vocês simplesmente não fossem mais meus amigos me deu um norte, mas eu ainda estou meio confusa em relação a isso… eu amo vocês... acho que pra mim, a solução é não pensar que vamos nos afastar, porque não faria sentido isso realmente acontecer...

  Depois de um tempinho comendo e conversando sobre escola e música, Bin suspirou por um momento e falou:

— Ai, sabe... eu estava pensando em parar de procurar o dono da carta…

O QUE????
Olhei pra ela bem surpreso.

— É que eu estava pensando e... ficar se desgastando pra tentar achar alguém que não quer que você saiba quem ela é... é meio... Não sei. Fora que faz mais de três meses que a gente já deixou esse negócio meio de lado, é... eu só cansei de ficar procurando...

Mas eu…

— Tipo, a pessoa nem colocou uma pista e nem veio falar comigo depois como todos os outros fizeram, entende?

Talvez ela tenha razão…

— Entendo que ele pode ser tímido, mas... sei lá...

Olhando por esse lado, realmente parece que não vale mais a pena me procurar mesmo...

— Ah... — Ele está triste comigo então?... poxa... eu não sabia... — Bin... posso te contar uma coisa? — De repente, a minha boca parou de seguir o que meu cérebro mandava e meu coração ficou no comando, eu queria contar tudinho pro Soobin!

  Nós já estamos até saindo mais juntos e ficando mais próximos fisicamente falando, eu quero acreditar que isso vai dar certo!

É agora que eu conto então!!!

— Pode!

Ela sorriu grande pra mim.

— Eu me lembro sim quem foi que te...

Fui interrompido.

— Yeonjun? É você?

Olhei pra trás e... Não é possível...

— Ah... oi, Aghata.

  Bem que a maldita falou que tinha se mudado pra minha cidade... mas como ela sabia onde a gente estava? Eu deixei escapar em alguma rede social postando foto minha com o uniforme da escola? Simplesmente impossível, eu nunca faria isso!

Soo olhou ela de cima a baixo com um sorriso desconfortável.

— Oi? — Ele diz.

— Boa tarde, quem é você, moço? — Gah perguntou com certo deboche.

— Soobin, amigo do Yeonjun, e você?

  Aghata chegou mais perto e a cumprimentou, fazendo questão de beijar minha testa e acariciar meu rosto depois.
Que intimidade é essa cara? Eu te dei essa liberdade?

Mas antes que ele falasse alguma bobagem eu a apresentei pro Soobin.

— Ele é uma conhecida meu, a Aghata.

— Pode me chamar de Gah! E não, não sou “só uma conhecida”, já esqueceu tudo que passamos juntos?

  Tentando ignorar, eu apenas sorri simples, e de repente milhares de memórias surgiram na minha cabeça, me fazendo ficar cada vez mais ansioso.
Isso aqui é tipo aqueles casos de stalkers ou o que?

— Posso sentar com vocês? Eu estava passando e vi o Yeon aqui, fazia tempo que não conversávamos, não é, amor?

  Seria bem melhor se ela só fosse embora ou se tocasse de que eu não a quero aqui... mas ela nunca faria isso, a Gah veio exatamente pra me pertubar.

Ela começou a conversar com Bin e eu só fiquei quieto, não conseguia mais falar.

— Tem certeza que você é amigo próximo dele? O Yeon que EU conheço não gosta muito de se encontrar com os amigos, certeza que ele tá implorando pra voltar pra casa, né não?! Hahaha!

  Que desconfortável… Preciso falar algo pra ela parar de perturbar o Soo.

— As pessoas mudam, Gah… — Olhei sério pra ele, tentando fazê-lo perceber que já era a hora de parar, ou melhor, de VAZAR.

— Nossa, você tá tão bravo hoje… não me ama mais?

Não deu certo, droga.
Ele só pode estar fazendo de propósito!

— Estava tudo bem até alguém vir atrapalhar minha conversa. — Sussurrei só pro Aghata ouvir. — Não arruma mais problemas pra mim, por favor.

  Estando perto da Aghata desse jeito, só consigo me lembrar do beijo, e não me lembro disso de uma forma boa, com certeza não...

— Pera, vocês estão num encontro? Desculpaaa, eu não sabia! Mas poxa, você devia ter me avisado antes que já tinha desencalhado…

— Não, a gente só marcou de se ver mesmo… relaxa… — Soobin disse tentando manter o sorriso no rosto, coisa que estava bem difícil de fazer.

  Eu odeio pensar nisso... ela me fez tão mal... mentiu sobre tudo pra mim e ainda disse queria manter tudo aquilo que aconteceu lá escondido, por vergonha... vergonha de mim… Até porquê ele não podia manchar a sua imagem pros amiguinhos idiotas dela não é mesmo???

  Teria sido mil vezes melhor se a Gah realmente tivesse feito isso ao invés de mentir sobre aquele acontecimento quando eles descobriram sobre nós…

  É ataque atrás de ataque, pataquada atrás de pataquada, a minha cabeça já tá até explodindo, agora sim eu quero ir pra casa, ela estragou tudo! Eu ia contar agora pro Soobin que eu era o admirador secreto, que eu o amava e sentia muito por ter deixado ele impaciente ou triste…

— Ei, Yeon? Tudo bem? — O Gah colocou sua mão sobre meu o ombro.

— Tudo sim. — Levantei com meu pote vazio de sorvete e fiz um sorriso falso. Ai cara, eu odeio quando ela finge que é uma santinha que não entende nada! — Eu lembrei que minha irmã precisa da minha ajuda com umas coisas lá em casa, eu preciso ir, ok? — Não quero ser idiota de novo.

Meus olhos começaram a lacrimejar aqui mesmo, só pra acabar com tudo.

— Posso ir com você, Yeonjun? — Soo percebeu que eu estava atordoado.

  Eu não quero ter que explicar pra ele o que aconteceu, pelo menos não agora... e não quero chorar na frente do Soo por causa disso...

— Não precisa… — Estou sendo rude?

— Ok então...

Que vontade de chorar…

— Tchau, amor, até. — Aghata falou.

  Eu sai dali o mais rápido possível, segurei meu choro o caminho inteiro, e cheguei em casa rápido.

— Ela é uma completa idiota, e eu fui estúpido o suficiente pra acreditar nela! — Eu sussurrei enquanto limpava uma lágrima. — Como eu não tinha notado isso antes?

  A mina confessa que me ama e me esconde, em seguida ela me larga do jeito mais rude possível e me esquece, depois diz que me ama de novo e agora sou eu quem não quero ela, aí a garota some e depois de anos a idiota volta provavelmente querendo falar pro céu a terra e o mar que somos “mais do que conhecidos.” Isso é bizarro!

  Abri a porta de casa e subi direto pro meu quarto, sem notar a presença de Beomgyu que ficou bem preocupado, mas ele já me conhece e sabe que tentar falar comigo naquela hora ia só poderia piorar as coisas. Eu preciso de alguns minutos sozinho.

Eu me joguei na cama de barriga pra cima e suspirei algumas vezes.

— C-como eu ainda choro por causa disso??? Já acabou! Acabou já fazem t-três anos, POR QUE eu continuo ficando mal por causa disso??? E-eu devia estar só com raiva, não triste!

  Peguei meu celular pra colocar alguma música que me acalmasse, e uma melodia calma começou a tocar...

Espera... ah não... KISS IN MY ROOM??? É SÉRIO JUNHA PARK??? VAI ME FAZER CHORAR MAIS???

  Ao mesmo tempo que aquela situação era engraçada, ela me causou cada vez mais vontade de chorar…

— So tell me the truth... did you love me too?... The kiss in my room... is that fake too? Or it was all by myself?... like under your spell...

A tradução do refrão que eu cantava passava repetidas vezes na minha cabeça.
  “Então me diga a verdade, você me ama também? O beijo no meu quarto... isso foi falso também? Ou isso é tudo minha culpa? Como estar sob seu feitiço” Ou algo parecido, não sou tão bom no inglês...
  Essa música não se encaixa completamente no meu caso (tirando a parte do beijo...) talvez a outra música desse cara caiba melhor, aquela que conta sobre uma moça que o fez acreditar que ela era uma princesa da Disney indefesa no meio de tantas pessoas supostamente cruéis que a abandonaram justo quando ela mais precisava delas, sendo que na verdade era ela quem afastava as pessoas e era extremamente rude e muito mal-intencionada com os outros.
  No fim, o cara descobre sobre essas mentiras, e totalmente desolado ele diz algo como: “Você só está fugindo do espelho a sua frente.” Como se ela estivesse fugindo de si mesma e das coisas ruins que ela fez pra nãose sentir mal consigo. (Pra quem quiser ouvir, o nome dessa é Foolsih, porque ele se sente um idiota por não ter notado todos os furos daquela história inventada pela garota)

Enfim, é complicado.

  E eu só estava alí, chorando, como eu fazia a três anos atrás... e pelo mesmo motivo de três anos atrás...

  O motivo de eu não aguentar mais me sentir mal toda vez que ele estava perto de mim... mas a única diferença, era que a uns bons mêses atrás eu amava e confiava na Gah... e agora eu só estou querendo que essa menina suma da minha vida pra eu finalmente ter paz de novo... antes que eu me sinta culpado por ter a “abandonado” ... como ela mesmo disse na mensagem de hoje...


  A música acaba e logo em seguida outra melodia aparece, só que com um ritmo extremamente animado, quebrando todo aquele clima que eu havia acabado de me afundar e me acostumar.

  E junto com essa quebra de clima Beom bate na minha porta.

— Yeonjun, posso entrar? Queria saber o que aconteceu... você saiu sem avisar e do nada aparece... assim…

  Um silêncio surge por alguns segundos, segundos esses que usei pra secar meu rosto e sentar na cama.

— Eu to preocupado com você. — Meu irmão assume.

  Eu me levanto e vou abrir a porta pra ele com um sorriso estampado no rosto, só pra não preocupa-la mais ainda.

— Eu saí com o Soobin hoje.

  Ele abriu um sorriso, mas mudou para um olhar preocupado e “assustado.”
Rápida mudança de expressão.

— Não me diga que você se declarou pro Soo e ele foi rude com você!!!

— Não não, não foi isso não, Gyu! É só que algo inesperado aconteceu…

Ele olhou mais uns segundos e suspirou.

— E agora você tá chorando por causa desse “algo inesperado”? Eu reconheço a sua cara pós choro, não adianta me enganar, viu? — Segurou meus ombros com um sorriso um pouco preocupado.

— A Gah se mudou pra cá sei lá quando, ela mandou mensagem hoje avisando e se declarando pra mim e a gente se topou na sorveteria que eu e o Soobin estávamos, e aí ela começou a me incomodar na frente dele, me chamando de “amor”, dando beijinho na testa, fora as agulhadas que ela ficou dando no Soo, como se ela não tivesse gostado nem um pouco de eu estar com ele… aí eu e ele ficamos muito desconfortáveis com isso, mas essa nem é a pior parte.

— Ah, como assim “Não é a pior parte,” cara? FICA PIOR AINDA? — Gyu perguntou revoltadíssimo.

— Fica… antes disso acontecer, o Bin disse que estava chateado com o autor da carta, e que ia parar de procurar por ele, então eu decidi que iria falar que eu era o admirador secreto, mas antes que eu pudesse, ela chegou. — Suspirei. — E como ela me tratou daquele jeito estranho pra caramba, eu fiquei com medo dele achar que eu e ela ainda estamos juntos.

Beom colocou a mão na testa.

— Ele pode pensar que você não é o escritor! E pior, se ele gostar de você como eu acho que gosta… já era! — Ele disse colocando todo seu cabelo pra trás. — Mas pera... VOCÊ DEIXOU AQUELA INFELIZ JUNTO DO SOOBIN??? E SE ELA FALAR MAIS IDIOTICES AINDA, HEIN???

  Eu arregalei meus olhos, pensando em todas as possibilidades horríveis que poderiam acontecer naquela sorveteria, e me arrependendo de ter saído de lá.

— Eu tenho que voltar para lá.

O meu irmão se aproximou e me abraçou forte.

— Corre, e te amo, ok? — Ele disse com um tom carregado de emoção e esperança, tipo em filme.

— Eu também te amo.

  Beom andou até seu quarto e eu fui pra sala, que era onde eu havia deixado as minhas chaves, apalpei o sofá e quando me dei conta, já estava procurando o chaveiro de tucano por toda a sala. Mas parecia que quanto mais eu fuçava as coisas, mais difícil ficava de encontrar aquele maldito chaveiro.

  Ele vai falar que já tivemos um relacionamento mais profundo? Que pelo menos na cabeça dele nós ainda estamos juntos? Ou vai aproveitar pra falar mal de mim? Dizendo que eu o abandonei, o fiz se machucar e que o Bin tem que fugir enquanto há tempo? Ele acreditaria em tudo isso mesmo?

  Bem, talvez a segunda opção seja a menos provável, já que o Gah fez questão de flertar de certa forma comigo NA FRENTE DELE!

  Nossa, falando assim parece que eu e o Soobin temos algo e eu estou traindo ele com aquela babaca. Respira, respira, você viu como ele ficou consideravelmente desconfortável e como se preocupou comigo? Sim.
  Então talvez ele só perceba que a Gah é uma maluca que está me perseguindo… ele é bem compreensivo.


  Inclusive, que burrice a minha de não ter puxado ele comigo, o Bin tinha acabado o sorvete dele e tinha pagado antes de ir na mesa igual eu, e analisando a cena dele perguntando se eu queria que ele fosse comigo, Soo já estava implorando por socorro.

  Ai cara! Eu deixei o coitado com um maluco que ela nem conhece! Que Choi Soobin tenha misericórdia de mim!!!


  Depois de uns 10 minutos mais ou menos eu finalmente achei o meu chaveiro icônico dentro das brechas do sofá (não sei como ele se enfiou aí), em seguida ouvi o toque da campainha e logo fui atende-la, bem melhor, e mais calmo do que antes pois eu estava pensando na possibilidade de ser ele.

  Que sorte eu não estar naquelas histórias de romance adolescente estadunidense, aqueles caras são dramáticos pra caramba, se eu estivesse num lugar assim o Bin iria chegar gritando comigo sem nem saber da minha lamentável situação, e no pior dos casos me daria aquele clássico tapa de mão cheia.

De repente eu ouço alguém (meu irmão) descendo as escadas.

— VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI??? — Beomgyu grita.

— EM MINHA DEFESA EU SÓ ACHEI O CHAVEIRINHO AGORA. — Retruquei.

— POXA, EU FIZ UM DISCURSO DRAMÁTICO PRA VOCÊ SAIR CORRENDO ATRÁS DELE E VOCÊ PERDE ESSA OPORTUNIDADE INCRÍVEL???

  Estou com uma grande vontade de chorar de ódio, mas a de rir dessa fala da Beom está no mesmo nível da de chorar. Que droga, não sei o que fazer.

— DESCULPA.

— Tá tá tá, agora vai atender a porta e ver se é a idiota da Aghata ou se é o lindão do Soobin te esperando! — Meu irmão diz me empurrando até a porta. — Eu vou me esconder pra deixar vocês a sós caso for o meu amigo que tá lá. — Ele me soltou, me deixando mais ansioso ao pensar na confusão que seria se fosse a Gah me esperando alí na minha porta.

— E se for ela mesmo? O que eu falo?!

— Xinga ela, me chama e não abre o portão de jeito nenhum, ok?!!!

  Eu fui tremendo até a porta e abri uma fresta da porta pra poder bisbilhotar quem estava no portão. A minha sorte era que hoje o outfit do meu amigo era identico a um marca-texto azul, então logo identifiquei ele conversando com o garoto, que parecia não querer largar dele de jeito nenhum.

Ok, eu não pensei na possibilidade de serem os dois juntos.
Inclusive, como ela chegaria aqui sozinho sendo que o cara nem sabia o meu endereço?

  Ela falava como um papagaio sem ao menos olhar para a minha direção, e ele só sorria nervosamente, até que o Soobin me viu escondido e implorou por socorro com os olhos de uma maneira discreta.

Tive uma ideia!

Fechei a porta e gritei o Beomgyu que me atendeu rapidamente.

— É ela??? — Ela perguntou.

— Sim, e vê se salva o Bin por favor, ele veio com ela e se você for lá a Aghata vai ficar com medo e ir embora.

Minha heroína respirou fundo e ergueu as mangas.

— Só espero que eu não passe mal de raiva, me deseje sorte!

  Espera, não fui eu quem teve essa ideia de chamar a minha irmã, ela plantou a ideia na minha cabeça sem eu, nem ela, se tocar... ah, dane-se o dono da ideia!

— Boa sorte, obrigada.

Na hora que ele pisa pra fora, fiquei apenas prestando atenção nos murmúrios do lado de fora.

— “Ah não, é você??? Já chegou perturbando todo mundo né idiota?”

— “Beomgyu?!” — Os dois disseram em uníssono.

— “Eu já falei que o meu irmão não quer te ver Gah, vaza!”

— “M-mas…” — Ela diz.

— “VA-ZA! E você, anjo, espera um pouquinho…” — Gyu disse a segunda oração se referindo ao Soobin.

  A Gah saiu de lá resmungando algo como “Aff, mas eu nem fiz nada!”

  Eu só respiro de alívio e o Gyu finalmente aparece.

— Vai que ela já é tua, bonitão! — Ele brincou.

Eu giro de mal jeito o chaveiro em minhas mãos e sorrio.

Finalmente, paz.

  Espero que o Soobin me entenda em relação a esse negócio de eu ter saído de lá sem mais nem menos e o fato de na hora eu querer ficar sozinho, mas vou explicar isso pra ele quando pisar aqui pra não restar mais dúvidas!

  Às vezes eu penso que sou medroso de mais pra enfrentar esse meu passado com a Gah e fazê-la perceber de uma vez que não a quero por perto. Isso me envergonha porque o mínimo que se pode fazer para tentar resolver um problema desses é agindo, nesse caso, falando... mas como algumas pessoas dizem, a parte mais difícil de fazer algo novo ou resolver algum problema é dar o primeiro passo, nesse caso, o primeiro foi demonstrar o meu desconforto com as piadinhas dela e me afastar para estabelecer limites. Ok, talvez eu tenha fugido igual a um cachorrinho assustado mesmo, mas penso que isso e a bronca que o meu irmão deu nela já resolveram a situação!

  Espero que um dia eu consiga fazer isso de um jeito mais descente... nas duas vezes em que “eu” estabeleci limites, na verdade foi o meu irmão que o fez, e nas duas vezes foram com ela vindo em casa sem ser convidado... e... nas duas vezes eu chorei igual um cachorro abandonado...

Ok, talvez eu não tenha amadurecido tanto assim... acho que preciso mudar isso logo...

Estúpido Eu - YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora