Capítulo 1: Antes de você saber

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_então, você está preparado para a cena de amanhã?

Krit virou-se para mim, mudando a posição em que se encontrava deitado de bruços. O celular, que antes se encontrava em suas mãos frenéticas, agora repousava em seu abdômen liso, a camiseta branca contrastando com a cor preta da proteção do celular. Eu desviei meus olhos da conversa que trocava com o meu irmão para encará-lo.

_e você, não está? _perguntei, meus olhos submergindo em seus olhos escuros redondos, profundamente, como se eu deslizasse para um buraco negro sem fim.

Meu estômago se remexeu com aquele olhar, fazendo borboletas saltitarem até meu coração palpitante, obrigando-me a desviar os olhos. Me lembrei da primeira vez em que me encontrei com Krit Amnuaydechkorn e seus olhos negros profundos.

Foi no ano de 2019, após cerca de quatro anos sem encontra-lo. Na época, quando eu o vi, demorei para associar aquele rosto angelical ao garoto franzino com o qual conhecera nos corredores do 12º ano. Krit no 11º ano parecia muito mais frágil e inocente do que o garoto na minha frente quando o diretor P' Boss da Nadao nos apresentou entre o elenco de My Ambulance. Ele continuava com o mesmo rosto, os mesmos traços finos e limpos, o mesmo cabelo liso rebelde que se emaranhava em sua testa, bagunçado, dando-lhe um ar de criança.

Lindo.

Foi meu primeiro pensamento na escola e novamente quando lhe vi no elenco. Porém, além de sua beleza, Krist se encontrava diferente em uma coisa.

Seus olhos.

Aquele olhar assustado e indefeso que tanto lhe acompanhava durante o colegial já não mais existia, substituído por um olhar intenso, arrebatador, que conseguia capturar qualquer pessoa que ousasse encará-lo. E uma vez fisgado, era difícil desviar o olhar sem se deixar mergulhar em suas grandes órbitas negras que lhe engoliam para um outro mundo, um local em que você duvidava de si mesmo e se perdia em devaneios.

Era esse mesmo olhar em que eu buscava fugir tão miseravelmente nesse instante.

_não é isso. _respondeu ele, depois de uma longa pausa em que me encontrava perdido em pensamentos. Seus olhos desviaram para o teto, acompanhando as linhas na madeira cor carmim. O quarto de hotel em que nos encontrávamos era realmente tão formidável quanto confortável. Por um momento me senti aliviado por não ter mais a pressão do seu olhar sobre mim. _é só que, sei lá... _ele franziu os lábios, indeciso. _é uma cena importante.

_hum. _concordei, minha voz sem muita segurança.

Sim, era uma cena importante. A cena em que Teh e Oh-Aew expressariam seu desejo sexual reprimido, através do toque em suas pernas, quase uma cena de orgasmo silencioso e implícito. Eu não podia negar que também passara dias pensando nessa cena desde que havia recebido o roteiro, mas devo dizer que não pelos mesmos motivos que meu colega.

Na verdade, meu maior medo era provocar uma situação constrangedora, ao criar uma ereção, ou pior, um orgasmo real. Isso porque, meu coração farfalhou nervoso ao completar meu pensamento, eu estava completamente apaixonado pelo meu melhor amigo.

Eu não sabia exatamente em que momento isso havia acontecido.

Se fora durante as gravações de I Told Sunset About You, em que nos tornamos intimamente próximos, por sermos os protagonistas e lidarmos com cargas emocionais e psicológicas muito mais intensas do que estávamos acostumados. Se foi quando eu me tornei seu amigo, nas primeiras gravações de My Ambulance, quando os personagens Tew e Dao se tornaram nossos personagens, tornando nossa relação única. Ou se foi naquele sol escaldante do colegial, Krit no 11º ano e eu no 12º ano, nossas testas suadas após a partida de tênis, nossos corações acelerados e nossos corpos cansados.

Os momentos que me levaram até seu coraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora