Capítulo 9

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Yongseop, o esquentadinho

Quase todos os moradores da Mansão Azul se encontravam na sala de estar ao anoitecer daquele dia, com exceção de Pink e Yejun, que iluminavam os corredores acendendo as lamparinas, e Flora, que andava pela casa à procura de seu livro. Os demais conversavam entre si, sobre coisas não tão importantes, mas dois deles estavam em completo silêncio, Youngmin, sentado na poltrona ao lado do irmão, e Yongseop, aos pés da lareira, fitando as chamas. Foi quando o fogo começou, inexplicavelmente, no meio do carpete.

Todos se assustaram, saindo de seus lugares e indo para um ponto mais afastado do pequeno fogaréu no chão, menos Yongseop, que continuou sentado onde estava, desviando o olhar da lareira para o carpete em chamas. Ele parecia estar paralisado, enfeitiçado pelo fogo, incapaz de se mover, até que Choi In, vendo seu estado de total inércia, correu até ele e lhe puxou pelo braço.

– Saia daí, é perigoso! – gritou o garoto mais velho.

Quando Pink finalmente chegou e pôs fim ao princípio de incêndio, os meninos não souberam lhe dizer como aquilo havia começado, pois de fato não viram que as mãos de Yongseop foram as responsáveis por aquele alarde.

Yongseop passou o restante da noite mais avoado que o normal, distante, procurando dentro de si uma resposta plausível para o que acontecia consigo, e somente quando o sono chegou, que sua mente confusa e cheia de lembranças amargas chegou a uma conclusão, esta que lhe dizia ser amaldiçoado.

Desde o ocorrido, ele se isolou ainda mais. Vinha construindo uma boa relação com os outros meninos ao longo daquela semana na velha mansão, principalmente com seu colega de quarto, Won Hyuk, mas percebeu que toda aquela alegria e frescor juvenil nada mais era que o prelúdio de uma tragédia.

Nunca teve muitos amigos, e com o passar do tempo, julgou que assim era melhor, mais fácil e menos doloroso, pois todos ao seu redor o abandonavam no final das contas, e não seria diferente com aqueles meninos.

[...]

Acordou assustado, sentindo cheiro de fumaça. Com os olhos ainda pesados de sono, olhou em volta e percebeu que seu cobertor estava queimado, não havia fogo, somente manchas escuras e o cheiro de tecido chamuscado. Yongseop se sentou na cama, deprimido. Era o segundo cobertor que queimava e teria de escondê-lo, assim como fez com o primeiro, para que mais ninguém pudesse ver as manchas causadas pelo fogo. Dobrou o tecido felpudo e o segurou entre os braços, Hyuk não estava no quarto e a porta do corredor estava entreaberta, facilitando sua saída furtiva.

Em sua primeira noite na Mansão Azul, acabou pondo fogo nos lençóis e quando acordou de manhã, tivera de escondê-los no jardim, e foi nesse mesmo dia que viu Choi In sentado na grama ao redor de várias borboletas atipicamente coloridas. Pensou, pela primeira vez, que não era o único no universo marcado com dons estranhos e isso o fez se sentir acolhido.

Resolveu se livrar do cobertor do mesmo jeito que fizera com os lençóis.

Caminhou pelo jardim, olhando para trás, temendo ser visto, quando estava longe o suficiente da casa, jogou o cobertor no chão e se agachou, levando as duas mãos ao tecido escuro. Não demorou para que o fogo surgisse e rapidamente consumisse o cobertor. As chamas intensas e amarelas reluziam diante aos olhos de Yongseop, convidando-o a fazer parte do espetáculo, a se tornarem um só e assim queimar tudo ao redor. Era tentador, por vezes achava que cederia e acabaria se perdendo em meio às labaredas e nunca mais tornaria a ser quem era, um menino órfão, encrenqueiro, abandonado e sem família.

Levantou-se do chão, antes que se deixasse levar pelo fogo. Permaneceu no local até ver o cobertor queimar por inteiro e se reduzir à cinzas, e só então voltou para dentro da casa.

A mansão das senhoritas Pink e FloraOnde histórias criam vida. Descubra agora