8 de Setembro de 1995Os raios de sol da madrugada já começavam a aparecer. Vagueavam aos poucos pelos prédios da cidade pacata, enquanto a sua luz escaldante rasgava o céu, deixando um belo tapete colorido, com alguns dos seus tons alaranjados e amarelos.
A pequena luz que embatia sobre a janela, tentava gentilmente passear pelo o quarto até conseguir com sucesso incomodar o ser que estava a dormir tão profundamente. Resmungou um pouco, esforçou-se a abrir os olhos e lá por fim arranjou coragem para abandonar o conforto da sua cama.
Espreguiçou-se e caminhou em direção ao parapeito da janela. Abriu a mesma e deixou-se contemplar pelo cenário por alguns minutos, enquanto que o sol fazia-lhe caricias no seu rosto. Realmente, acordar cedo tinha as suas vantagens. Era quase impossível não adorar esta obra de arte, que é a Natureza.
Assim que teve a Vitamina D necessária, começou a sua higiene diária e a pensar no que deveria vestir.
Entrou no chuveiro e deixou-se relaxar e, ser confortada pela água quente, quase como se fosse abraçada pela mesma.
Logo que saiu, decidiu que iria usar a sua sweater preferida – o tecido era vermelho, aveludado e quente o suficiente para enfrentar as temperaturas que iria encontrar pelo caminho; vestira-a como um gesto de despedida.
Depois de tantos preparos, ia esquecendo-se do mais importante: rímel. Colocou um pouco nas pestanas e ao aplicar o produto, começou a relembrar-se da sua infância. As palavras da sua falecida avó materna surgiam-lhe naturalmente na cabeça – podia sair de casa sem nada na cara, mas nunca dizia que não a uma máscara de pestanas.
Aquela lembrança fez-lhe esboçar um sorriso triste nos lábios. Ao crescer, foi tomando consciência da efemeridade da vida e que a mesma tirou-lhe mais um pedaço seu.
Despertou dos seus devaneios e apressou-se em descer as escadas. Ao descer, pôde escutar uma voz cálida, seguido do abrir e fechar das portas dos armários. Deixou-se, então, guiar pelos seus ouvidos até à cozinha.
Era a sua tia, Sarah. Estava a preparar o pequeno-almoço, enquanto murmurava animadamente uma música qualquer.
- Hum, estou a ver que estamos animadas hoje. – Afirmou, enquanto ia sentando na cadeira, pousava o cotovelo sobre a ilha e repousava a cabeça sobre a mão.
- E aqui vai uma sandes de tomate com hummus, acompanhado por um nutritivo sumo de laranja para a minha linda sobrinha.
Arkana não costuma comer muito ao pequeno-almoço. A primeira coisa que preferia ingerir logo de manhã eram alimentos líquidos. No entanto, a sua tia tinha-se esmerado e, claro, não ia fazer-lhe essa desfeita.
- Sabes.. jamais iria te impedir de fazer o que quer que fosse, mas devo confessar que esta casa vai ficar muito vazia sem ti... - Enunciou. O rosto que anteriormente estava alegre, agora mostrava-se sério.
Ao escutar aquelas palavras, Arkana sentiu o seu coração apertar. Não pôde evitar em estender-lhe a mão e, ficou agradecida que a mesma foi receptiva ao gesto.
- Vou te visitar tantas vezes que nem vais dar por isso. – Assegurou-lhe com um sorriso caloroso.
- Assim espero.. Mas enfim, vamos mudar de assunto. Tens que te despachar, não quero que chegues atrasada ao aeroporto! - Retraiu a mão ao proferir e desapareceu da cozinha.
A súbita mudança não lhe atormentou. Uma das coisas que Sarah detestava, era mostrar a parte fraca à frente dos outros, mostrar-se vulnerável. E isso, Arkana, sabia-o bem.
Após deliciar-se avidamente da refeição, a sua tia levou-a ao aeroporto, de carro. Lançavam, em silêncio, o olhar fixo através das janelas.
Arkana estaria a mentir se dissesse que não ia sentir falta de Jacksonville. Ela cresceu ali. De certa forma, adorava aquela cidade vigorosa e desordenada. Adorava os dias de sol, porém, odiava quando tinha temperaturas elevadas. Detestava sentir calor, de libertar certas gotículas salgadas, também conhecidas por suor. Um certo paradoxismo?
- Arkana – disse-lhe a sua tia antes de ela entrar no avião, puxando-lhe levemente pelo o braço -, tens mesmo a certeza que queres fazer isto? Deixar tudo para trás?
Ela ia viajar do coração ardente da América para o gélido do Canadá.
Ia para o seu último ano de faculdade no curso de História da Arte, na Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver.
Foi Vancouver que escolheu agora se exilar – um ato que assumiu sem muito pesar. Estava firme nas suas convicções, queria estar bem longe de tudo que a atormentava. Queria virar a página.
- Tenho, eu quero ir.
Ela tinha que admitir, a única coisa que lhe prendia àquele lugar era a sua tia.
Porém, o seu futuro já não se encontrava em Jacksonville.
- Dá cumprimentos meus ao Max - disse-lhe, um pouco triste.
- Fá-lo-ei, prometo.
- Ver-te-ei em breve - insistiu ela. – E dá-me notícias assim que te instalares!
É uma mulher terna, excêntrica e de personalidade forte. No entanto, naquele momento, era notório uma certa emotividade na sua voz. A mascara que tanto se esforçava em não deixar, por fim, caiu.
É perceptível o sacrifício que os seus olhos refletiam.
- Gosto muito de ti, tia Sarah – assegurou-lhe. - See you later, alligator.
- In a while, crocodile.
Abraçou-lhe firmemente durante um instante e, em seguida, Arkana embarcou no avião e ela partiu.
---------------------------
Heyo!
Demorou, mas chegou. Espero que tenham gostado do primeiro capítulo >< Quero muito saber a vossa opinião.
É a minha primeira história e estou a esforçar-me para que saia algo decente.
Desde já obrigada a quem ler, votar e comentar.
Love you all.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Intensities
Romance"Tu a conversar com a tua cor favorita, é como um girassol contemplando o sol. Para ti, deixo uma extensa radiografia de tintas amarelas e, em cada sentimento, terna uma aquarela." A história de uma rapariga que teve o desplante de se apaixonar...