1: Quanto mais mexe, mais fede.

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Bom dia, lindezas!
Como prometido, estamos iniciando as postagens de Sinaloa.
Lembrem-se do aviso anterior. Essa história é barra pesada, mas queremos conquistar os corações de vocês!

Nos digam o que acharam, ok?
Nos vemos novamente no dia 20, quando iremos postar todos os sábados!

#gratidão

Divirtam-se!

Brooke & María.

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2017 – Culiacán, Sinaloa – Mx.

Não posso lamentar sobre o rumo que minha vida tomou. Diferentes de outras mulheres nas mesmas circunstâncias, eu sabia exatamente onde estava me metendo. Onde as escolhas da minha família me levariam. Uma mãe envolvida com tráfico de drogas, um pai viciado em jogos de azar e um irmão mais velho com problemas mentais.  Mas não quero cobrir verdades com mentiras só para me iludir de quem verdadeiramente sou: “uma moeda de troca, cara e barata ao mesmo tempo”. Por conta de uma dívida de drogas e um jogo de pôquer, fui vendida para o cartel de Sinaloa como um gado. E aqui, ou se aprende a viver dentro das regras ou há sempre uma cova funda para enterrar seus pedaços.
Adivinha qual caminho escolhi?
Não me julguem. Vocês não sabem o que é ter Ramiro Guzmán como inimigo. Estou aqui há três anos e ainda não consegui pagar a dívida da minha família. E acredito que nunca conseguirei, apesar de ser a prostituta mais bem paga do México. Quem não gostaria de trepar com uma das mulheres do Chefe, não é mesmo?
Muitos homens já estiveram em minha cama. Os do tipo “que tinha vergonha do que faziam”, que após desfrutar de todo o prazer que eu lhes proporcionava, viravam as costas e fugiam de cabeça baixa como gatos assustados. Os do tipo “príncipes encantados”, que sempre acreditavam que eu poderia me apaixonar por eles e me tirar dessa vida. Mas quem acredita em conto de fadas a essa altura da vida, não é?  Os “carentes”, que sempre após a transa, sentavam-se na cama, contavam suas histórias sobre seus casamentos falidos e pediam para ver um filme dramático. E, os do tipo “agressivos”, que gostavam de uma transa violenta e se achavam donos de nossos corpos. Confesso que atualmente, é desse tipo que mais tenho medo. Principalmente se o cliente for Tom Shelby, o senador dos Estados Unidos. Em outras palavras, o facilitador da entrada de toda a droga pela rota do tráfico através fronteira. Ele não é só um cliente agressivo, ele é um filho da puta sádico que ama infligir dor.
Ele paga bem. E dá lucro ao Cartel. Para Ramiro, é isso que interessa. Números.
Não tenho direito de reclamar pelos hematomas que deixa em meu corpo. Se o chefe está feliz, você deve ficar feliz. Esse é o lema da casa.
— Está pronta?
A porta do meu quarto se abre repentinamente. Apresento a vocês o filho do chefe, Pablo Guzmán. Ele não é um cara muito paciente. Sua aparência rústica impõe certo medo. Gostaria de saber a história por trás de sua cicatriz que cobre quase o lado direito de seu rosto. Mas é algo que nunca vou saber, pois ele mantém em segredo.
— Tenho que fazer isso hoje? Sabe que ainda tenho algumas marcas da semana passada — digo terminando de passar corretivo no olho esquerdo para disfarçar o hematoma esverdeado em torno dele.
— Shelby quer vê-la daqui duas horas. Naquele mesmo hotel. E é bom não o deixar esperando, pois recebemos uma fortuna por isso. Temos que tratar nossos clientes VIP com respeito.
— Uma pena que ele não pense da mesma forma sobre nós — balbucio. Gastei um bom dinheiro com analgésicos para aplacar as dores no corpo.
Pablo se aproxima em passos lentos. Seu jeans surrado lhe dá uma aparência de desleixo, mas acredite, é apenas para passar despercebido. Todos sabemos o que ele é e o quanto vale o Rolex que ele ostenta no pulso.
— Maria, desde quando puta merece alguma consideração? — Seus lábios molhados tocam meu rosto. Confesso que o cara seja bonito e trepa como um animal selvagem, mas ele me dá asco. Contenho-me para não passar a mão sobre o local e esfregar até que seu cheiro sobre minha pele se dissipe.
Eu o encaro através do espelho da penteadeira de madeira luxuosa.
— Alguma recomendação?
— O de sempre — Se afasta. — Arreio de seios, saltos vermelhos, assim como o batom, luvas pretas e...
— Os prendedores de mamilos — completo. Porco nojento.
— Isso mesmo, garota — Ele volta e acaricia meus cabelos pretos. Do bolso esquerdo de seu jeans, ele retira um pacote branco lacrado com fita adesiva marrom e coloca sobre a penteadeira. Do outro bolso, retira um pacotinho menor.
— Tem uma nota de um dólar? — Ele me encara.
Sem dizer uma palavra, abro à gavetinha da penteadeira e puxo uma nota de cem colocando-a sobre a madeira. O sorriso em seu rosto ao enrolar a nota até fazer um tubinho fino me deixa apreensiva.
Com um pequeno canivete, ele abre o pacotinho e joga seu conteúdo sobre a madeira numa fileira mal feita.
— Experimente. Essa é da boa.
— Não, obrigada.
Eu sabia que era burrice contrariar o filho do chefe, mas eu queria estar lúcida para enfrentar meu carrasco.
Surpreendentemente, ele apenas sorri baixando a cabeça e cheira todo o pó branco.
— Deus abençoe os mexicanos! — Ele ri limpando os vestígios em suas narinas. Tento ignorá-lo. Ele vira e se afasta, mas não antes de devolver minha nota de cem dólares.
Olho-me no espelho enquanto passo o batom vermelho cereja. Meus olhos azuis ganham um tom acinzentado e sem brilho. Talvez por saber o que o destino me reserva.
— Ficarei pronta em dez minutos — Tento soar confiante para esconder a porra do medo que estou sentindo.
Pablo caminha em direção à porta do quarto. Sigo seus passos olhando através do espelho. Ele para e diz em seu tom habitual:
— Sei que pode terminar em cinco. O carro já está te esperando. E Maria, não esqueça a cocaína de seu cliente.
Olho para o pacote lacrado que ele deixou sobre a madeira.
— Não vou esquecer.
— Ótimo, garota. Agora se apresse.
Ele fecha a porta e de alguma forma, parece que o quarto ganha um tom escuro. Podemos sentir a escuridão mesmo em meio à luz? Eu sei que é coisa da minha cabeça, pois todas as lâmpadas estão acesas. Mas é algo que eu não consigo me livrar. Dessa sensação. Esse medo constante. E sempre me pego pensando: e se eu fugisse? Se eu conseguisse sair dessa merda de alguma maneira? Eles me perseguiriam até o inferno? Talvez se eu forjasse minha morte?
Acho que essa é uma pergunta que nunca será respondida. A única coisa que preciso, é descobrir um jeito de voltar a ser quem eu era. Uma mulher cheia de sonhos. Voltar ao Brasil e viver longe de toda essa merda. Só não sei como, ainda.

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⏰ Última atualização: Feb 16, 2021 ⏰

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SINALOA - UMA GAROTA NO TRÁFICOOnde histórias criam vida. Descubra agora