Prologue - Suspicious

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       "Mas eu não posso evitar, estou me       apaixonando por você. E não posso sair
disso, porque eu estou presa em você."

Peachy  - Falling for U (feat Mxmtoon)

                            ...

Ah não , de novo não.

Aquele desconforto mais uma vez invadiu meu estômago, mal conseguia respirar.

Era sempre assim. Toda vez que era convencida de ir pegar uma carona para casa com Olívia e sua mãe, esse incômodo parecia tomar conta de meu corpo. E ele só piorava quando, uma voz grossa e rouca ecoava em meu ouvido, como se fosse uma melodia sombria, pairando sobre minha mente.

"Boa noite, Oli Boa noite, Camila. Não repara na bagunça."

Maldita voz. Lauren Jauregui.

Como sempre, acenei para a mãe de minha amiga, pedi licença e me aconcheguei no banco de seu Corolla preto, de vidro esfumado. Como um demônio me tentando, meus olhos sempre desviavam das ruas e iam até o retrovisor, ansiando por ver o rosto daquela mulher que tanto me intrigava. Ah, e quando os nossos olhares se encontravam... Uma guerra começava em meu estômago, muito rapidamente, como se eu tivesse vergonha. Vergonha do quê? Ela é apenas a mãe da garota que conheci na escola há cinco meses.

Mas por que ela tinha que ser tão... intrigante?

— Quieta como sempre... — Olívia exclamou, cruzando os braços. Ela sempre ia atrás comigo, do banco da frente sempre estar vazio, todas as vezes.

— Deixe sua amiga, Oli. Se ela está quieta, é porque ela quer. — Mais uma vez, sua voz me dando desconforto. Bom ou ruim? Não sabia explicar.

— Estou com sono. — Sorri para Oli, que me encarava com curiosidade. — Hoje a aula de química foi pesada. — Ainda bem que tive essa desculpa na ponta da língua. Realmente a aula foi cansativa, mas somente eu sabia os motivos de meu silêncio. E isso continuaria intacto, em segredo.

— Pior que foi mesmo. Eu quase derrubei aquele líquido ácido na bancada! — Olívia falou com tanta naturalidade. Ela poderia ter colocado fogo na escola inteira! Meus olhos arregalaram, só de pensar no tanto de pontos que seriam tirados pela professora. Mas tudo bem, Olívia é minha amiga e eu relevei essa situação. Nunca mais a deixo pegar nas vidrarias!

— Você é um desastre, Olívia. — Sorri, infelizmente olhando para o retrovisor novamente.

— Essa habilidade ela herdou da mãe. — Lauren murmurou — Eu odiava o fato de ter esses tipos de aula no ensino médio.

— Mãe, você só servia para jogar bola e paquerar as garotas! — Olívia soltou essa e eu quase engasguei, mesmo sem saber por que merda eu estava me sentindo tão deslocada. Tão reclusa. Inquieta.

— Não me faça passar vergonha, Olívia Jauregui. — Lauren disse um pouco irritada. — Sua amiga não merece ouvir isso. — O sinal fechou, droga. Ela vai olhar para mim novamente.

— T-tudo bem. — Tentei dizer sem expressar meu nervosismo.

— Desculpe, mãe. — Olívia murmurou sentida. Ela estava apenas brincando, como qualquer garota de 16 anos. Não sei porque Lauren reagiu desse jeito.

E assim, o silêncio reinou no carro, para o meu desespero. E como sempre, o olhar de Lauren pairou sobre meu rosto, antes do sinal abrir e continuarmos o trajeto.

Bom, eu precisava me acostumar. Era a oitava vez que, eu pegava carona com a garota que mais me aproximei, ao mudar de escola nesse ano. Mesmo ela sendo, digamos, mais ingênua do que as outras garotas, a achei engraçada desde a primeira vez que a vi entrando na sala de matemática, com os livros quase caindo de seus braços longos e magros. Mesmo não querendo estar ali, me levantei e fui ajudá-la e nossa amizade começou, durando até hoje, cinco meses após o acontecimento. Fiquei muito feliz, pois realmente fiquei com receio de ficar sozinha aqui em Missouri. Se mudar era horrível.

— Temos uma pesquisa de história para fazer, né? — Quebrei aquele maldito silêncio, que já estava me deixando louca.

— Oh! Ainda bem que arrumei uma amiga responsável. — Olívia sorriu, me fazendo rir novamente. — Camila eu te amo.

— Ainda bem. — Lauren finalmente falou, enquanto virava a rua de minha casa. Eu morava á oito ruas delas. Olívia morava na parte mais sofisticada do bairro. Já eu, morava na parte mais simples.

— Vida de estudante é um saco. — Protestei, enquanto pegava a chave no bolso esquerdo da mochila.

— Vocês ainda não sabem de nada, mocinhas. — Lauren estacionou com agilidade, ao lado do portão de minha casa. — Está entregue, Camila. — Sorriu novamente, aumentando minha apreensão.

— Obrigada, senhora Jauregui. — Lauren era só em meus pensamentos. Agradeci enquanto puxava a barra da minha saia, que teimava em subir, enquanto saía do carro, um tanto envergonhada.

— Até mais Olívia. Amanhã eu passo aqui, para fazer o trabalho.

— Sem problemas. Até mais! — Ganhei um beijo na bochecha antes de fechar a porta e atravessei a frente do carro, evitando ao máximo de olhar para dentro dele.

Enquanto o carro ia embora, suspirei ao ver que o desconforto havia passado. Passei a mão no rosto e entrei, admirando a casa em completo silêncio. Minha mãe só chegava bem tarde, portanto, tinha aquele tempo de sobra para pensar sobre minha vida.

Sobre meu desconforto.

A imagem de Lauren invadiu minha mente, reforçando a ideia de que algo estava errado, como que se eu tivesse hipnotizada por ela. O que eu estava fazendo?

Lembrei de Olívia falando sobre Nicholas, o garoto da escola que ela gosta. Lembro de prestar atenção nos detalhes que ela me dizia, quando Nicholas passava perto dela. Olhos vidrados, boca seca, estômago borbulhando com se estivesse entrando em erupção. Droga.

Era quase as mesmas coisas que sentia, quando sua mãe olhava para mim.

Balancei a cabeça, atônita com a informação. Que merda estou pensando para tirar esse tipo de conclusão? Lauren tem idade para ser minha mãe. É mãe de Olívia, minha amiga. Eu só tenho malditos 16 anos! Uma criança idiota!

— Malditos hormônios adolescentes. — Resmunguei, culpando meu próprio instinto de me querer levar para aquela escuridão de traços latinos.

Eu só posso estar ficando louca. Isso.

Eu não estava apaixonada pelo mãe de minha amiga. Era apenas algo do momento, iria passar.

Eu realmente espero que passe, para que esse desconforto saia logo de minha vida e que meu estômago finalmente volte ao normal.

Assim como a minha vida.

-

Até a próxima, beijos!

There Is No Salvation [Short fic]Onde histórias criam vida. Descubra agora