III

31 7 14
                                    

Entendi a pressa que o Gilberto mencionou. Era dia 20 de maio e se aquele diário não fosse uma brincadeira de mau gosto, teria pouco tempo para encontrar Armandico.

Um telefonema do meu colega me apressou mais ainda.

*As digitais conferem com o marido sumido. Ele consta no sistema, foi fichado em 2005 por uma briga em bar que resultou em lesão corporal. Agora é contigo, Milton, o que pretende fazer?

*Chame o delegado, precisamos agir.

*E a esposa?

*Vou visitá-la agora mesmo, encontro vocês lá.

Saí do meu escritório no centro e em 10 minutos já estava batendo palmas na casa da dona Geralda.

*Não tem ninguém aí não, moço - me alertou um senhor, da casa em frente.

Atravessei a rua e o cumprimentei.

*Boa tarde! Sou o detetive Jaime. Conhece o casal que mora na casa? É urgente.

Pra confirmar minha pressa, uma viatura da polícia civil estacionou próxima a nós.

O delegado, dr. Raul, saiu da viatura com seus 2 metros de altura e se colocou do nosso lado.

*Milton, como é que tu arranja estas encrencas, mano?

Dei um abraço nele e o apresentei para o vizinho, que contou tudo que sabia.

*Só vi a senhora nos últimos tempos. O marido só saía para o bar e voltava a noite, quando voltava. Vi a dona saindo ontem a tarde num carro preto, com várias malas. Acho que foi viajar.

Deixei o vizinho aos cuidados do delegado e rumei para a casa, cujo portão estava sendo aberto pelo Gilberto.

*O doutor já ligou para o juiz, que enviou o mandado de busca pra delegacia pela rede. Vamos entrar?

Fui logo atrás dele.

A casa era simples e antiga, com um quintal amplo e uma edícula no fundo. Gilberto colocou luvas, eu imitei seu gesto, depois ele abriu a porta da frente da residência.

Olhamos todos os cômodos, investigando principalmente o assoalho, buscando algum acesso para algum tipo de porão, seguindo uma interpretação do descrito no diário, a única pista que tínhamos.

Ao terminarmos a busca, dr. Raul nos encontrou no corredor do lado de fora.

*Pressionei o vizinho, Mário. Parece que ele teve ou queria ter algum rolo com dona Geralda.

Gravei aquela informação e seguimos para o fundo da casa.

*Segundo o Mário - continuou o delegado - esta edícula serve como depósito de ferramentas do Armandico. Ele era pedreiro, dos bons, antes de se aposentar.

Aguardamos o Gilberto, que com suas habilidades na micha, em instantes destrancou a porta.

O depósito estava muito bagunçado, como se houvesse movimentação recente no local. Dr. Raul confirmou o fato com um olhar astuto para mim e começamos a vasculhar.

Em pouco tempo, já que o local era pequeno, encontramos uma falha no assoalho. Se revelou uma porta quadrada, pela qual poderia passar uma pessoa e estava trancada.

Reparei que a fechadura era do tipo usado em portas de segurança, que travavam sem a necessidade de chave. Devido ao tipo de tranca, Gilberto demorou quase um minuto para abrir.

Minha adrenalina foi a mil na hora em que ele levantou a porta. Um cheiro horrível de morte saiu do buraco. Tinha uma escada lateral e devia ter uns três metros de profundidade.

O delegado iluminou o fundo do buraco e lá estava um corpo inerte, deitado de lado.

Imediatamente ele acionou o resgate e fez mais uma ligação para a delegacia.

Em alguns minutos os bombeiros apareceram e retiraram Armandico numa maca. Ele estava numa situação lamentável, imundo, mas, milagrosamente, vivo.

Neste instante eu pensei que tinha finalmente conhecido o limite da maldade humana.

Estava enganado...

Vingança DiabólicaOnde histórias criam vida. Descubra agora