Tentativa

4 2 0
                                    


Eu notei que ela ainda não havia raspado a cabeça, sua juba de leão como eu costumava chamar os cachos dela, ainda estavam lá, mesmo que com falhas ainda estava lá. Ela queria fazer isso comigo... Eu vou dar um jeito nisso! Deve haver alguma forma de voltar ou fazer contato.

(...)

14:30 do dia seguinte

Passei o dia todo tentando entrar no meu corpo mas tudo em vão. Não é tão fácil como parecia nos filmes e novelas, algo estava me bloqueando, era como uma muralha ou escudo.

Estava complemente entediado, jogado em frente a lanchonete do hospital. Caso queira saber eu não sentia fome, frio, essas necessidades normais do corpo humano. Apenas saudades de sentir o gosto dos alimentos, os toques calorosos das pessoas. Enquanto a gente é "vivo", não se dá valor a essas coisas pequenas. No cotidiano do ser humano, um abraço, uma refeição quente, até mesmo o sorriso de alguém que você gosta, se tornam coisas banais.

Estava preso em meus desvaneios e nem tinha notado a presença de um cara sentado ao meu lado. Ele vestia um sobretudo cinza, calças com suspensórios, uma camisa branca e boina. Um tanto antiquado para nosso século, parecia que ele tinha fugido da uma festa temática ou um ensaio fotográfico.

-O senhor está a se sentindo perdido?.- O homem falou quebrando o silêncio, mas eu nem liguei provavelmente ele também não me via.

- O gato comeu a língua do moço?.- Ele toca em meu ombro me chacoalhando, e eu arregalo os olhos para o mesmo que me encarava gentilmente.

- Tá me vendo? V-você tá me enxergando?.- Até gaguejei de nervoso.

- Mas é claro que estou a te ver, não sou cegueta!.- Ele gargalhou e eu entrei na onda dele.

- Mas você é uma alma penada?.- Perguntei me afastando com medo.

-Bah, estou a esperar minha noiva. Desde de 1960...- Hoje ela completa seus 81 anos.- completou sorrindo largo.- E continua linda!

- Você tá esperando ela há 60 anos?.- Nossa que coisa mais emocionante.

- Sabe rapaz, quando você ama o tempo para e anda só para você e seu amor.

- Nem perguntei seu nome... Prazer sou Park jinyoung.- falei estendendo minha mão em cumprimento.

- O prazer é meu, sou Jackson Wang.- ele aperta minha mão, e continua falando.- Não devia estar vagando, o senhor não morreu, não faz sentido algum estar aqui.

- Não sei o que está acontecendo também. Mas o senhor não sabe algo que eu possa fazer pra voltar?.- Estava esperançoso que aquele cara poderia me ajudar, na verdade eu sentia isso.

- Oh já sei!.- ele estalou a língua balançando a cabeça positivamente.- Você deve ter alguma missão, antes de voltar para seu corpo!.

- Como eu posso fazer algo? Além de você ninguém me vê, ninguém me ouve...- Coloquei meu rosto entre os joelhos bufando já cansado dessa situação.

-Oh, sabe as vezes quando batia uma saudade muito forte da minha noiva eu possuía alguma pessoa próxima dela para fazer contato.- me olhou com um sorriso sacana nos lábios, me deixando curioso.

- Me fale mais sobre isso!.- ergui meu rosto, meio desconfiado, analisando sua expressão, a palavra "possuía" dessa forma como ele colocou não me cheirava bem, vai que ele era um demônio tentando me levar pro tinhoso... Ah não.

- Então, quando sua alma fica vagando é porque você tem pendências. A única maneira de resolvê-las na nossa situação é a possessão. Você literalmente consegue entrar no corpo de outra pessoa e controla-lo, é incrível, mas a pessoa tem que ser fraca de espírito se não, não dá certo.- Sendo boa ou não a ideia dele, pelo visto era meu único caminho. Jackson mantinha um sorriso genuíno nos lábios, ele parecia ser bom, e me olhava aguardando uma resposta.

- Esse negócio de possessão é meio pesado pra mim, não sei se consigo invadir o corpo de uma pessoa com essa naturalidade...

- Mas não é qualquer pessoa. Eu sempre fazia isso com bêbedos, viciados, suicidas. Pessoas que não querem viver. As vezes eu concertava as vidas delas. Posso dizer que já mudei a vida de muitas pessoas para melhor. Agora você...- Parou o que ia dizer e me encarou de rabo de olho.- Você escolhe como vai usar isso, se para o bem ou para o mal.

- Pensando por esse lado você tem razão...- sorri e ele colocou a mão em meu ombro sorrindo de volta.- Pode me ajudar com isso?

- Claro, não tenho nada a perder.

(...)

22:45 do mesmo dia

Nós saímos por Seol, em busca da "casca", isso é horrível eu sei. Mas eu tinha em mente ajudar uma pessoa que estivesse tanto na merda como eu. Eu te ajudo e você me ajuda. As ruas eram iluminadas por postes e outdoors, fortemente movimentadas por carros e pessoas. Jack e eu passamos a tarde toda até agora na procura desse "alguém". Resolvemos sair daquela parte mais nobre e entrar num beco escuro e úmido, na espectativa de achar algum infeliz. Mas a frente vi algo que parecia ser um corpo jogado no chão, eu e meu parceiro nos olhamos concordando em chegar mais perto do homem. Jack se abaixou e observou o cara.

- Parece que ainda tá respirando, não tem ferimentos visíveis também. Tenta entrar nele Park!.- Jack pega minha mão me aproximando do homem, eu neguei com a cabeça me desvencilhando do mesmo.

- Mas já? Eu nem sei nada sobre a vida dele e se ele tiver família? Ou filhos sei lá.- Eu estava nervoso demais, passava os dedos entre meus fios de cabelo e respirava ofegante.

- Não vai amarelar agora né?.- ele riu debochando da minha cara.- Só tenta, vai!

Meio exitante, me aproximei lentamente do homem, Jackson ria muito da minha cara, como se eu estivesse agindo como um bobo. Ouvi ele cochichar "se joga de uma vez...". Assim eu fiz.

Senti minha cabeça girando, e a voz do meu parceiro longe me chamando. Os cabelos longos do cara embaçavam minha visão, e seu cheiro de pinga estava em mim, fazendo com que meu estômago revirasse. Vomitei.

- Park Jinyoung, você conseguiu! Tá tudo bem?.- o mais velho me ajudou a levantar como um espírito velho ele conseguia tocar as pessoas e objetos, imaginei. Eu sentia todo o efeito da bebida que aquele homem ingeriu.

Jackson me ajudou a andar até uma praça próxima dali, me sentou em um baco. Com certeza quem viu a cena saiu correndo hahaha. O Hyung começou a futricar nos bolsos do bêbado, de lá arrancou uma carteira, abrindo-a e puxando a suposta identidade do cara.

- Caralho! Nem parece o mesmo cara...- Jackson falou tirando os cabelos do desconhecido descobrindo seu rosto que agora é meu também.- Vamos lá o nome dele é... Im Jaeboem. Você teve sorte ele é bonitão. Só vai ter que tirar essa barba e desembaraçar esse cabelo dele.

- Im Jaeboem... Esse meu nome agora...- falei quase desmaiando, o misto da catinga de soju, com tempero e uns 5 dias sem banho, fizeram minha pressão cair.

- Nossa você tá péssimo. Vou te dar um conselho: saia do corpo dele e o observe por uma semana. Acho que nesse tempo da para você ver se ele tem família, se tiver você pode decorar alguns nomes, se não vão desconfiar de ti.

- Ah... O que?.- Meu Deus o cara tava pior do que eu em coma mano.

- SAIA DO CORPO DELE, acho que agora você me ouviu.- Alcançou o pulso do cara deixando a vista um relógio.- Uau esse relógio do braço dele é um Rolex da última coleção, é muito caro... Uns 130 mil dólares...- foi o tempo do Jackson terminar sua frase, eu saí do corpo do cara.

- Wow meu Deus isso foi... Foi realmente meu Deus véi!.- falei caindo no chão, ainda chocado com o que aconteceu.

- Eu sei é mó brisa né.- Jackson riu afagando meu cabelo.- Minha primeira vez também foi assim. Se lembra sobre o que te disse para vigiá-lo por uma semana?

- Me lembro sim, farei exatamente como me instruir!

🍑//////////////////////////🍑

Olá Peachys segundo capítulo pra vocês. De agora em diante o pau vai tora kkkkk. Deixem votos.

Sempre ao seu ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora