carta 6

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Meu nome é "ninguém" em especial. Nunca fui a pessoa mais sofrida e tal, mas, tal como muitos, tive minhas lutas. Sempre estive no fundo do poço, me senti sozinho, mal amado, injustiçado, mutilado. Desde 2012 até 2019, tudo que podia dar errado deu errado. Fui um covarde, mas um covarde que resistiu a muito. Bem, vou vos contar meu 2020, ano em que realmente comecei a notar algo de diferente em mim.

2019 termina, novo ano, nova disciplina.
Comecei o ano tentando festejar;
até um banho de champanhe fui tomar.

Voltei a reconquistar e perder
Renata, a moça que me fez delirar.
A escola finalmente foi bem;
uma amiga na turma fiz,
me dava bem com alguém.
Já não me sentia refém...
Comecei a escrever as cartas para tudo gravar,
meus pensamentos mais profundos,
minha vida marcar.
Tudo parecia bem
até que não convém
uma pandemia chegar.

Acabou com minha rotina;
meu dia ficou suspenso.
Aulas online!
Um paraíso no inferno.

Acabei de assim "tvd".
Stefan era o personagem que mais me via.
Corridas pela manhã para me libertar;
quem diria que o mundo
iria a este estado chegar?
De máscara andar,
ver a rua deserta;
a cidade parecia floresta!
Só se ouvia os pássaros a palrear.

Comecei a me habituar.
Aqui, num breve resumo,
no momento mais alto fiz outra amiga que parece meu reflexo em assunto.

Chamei de "amizade fotocópia,
feita de papelão".
Achei alguém para me completar,
alguém igual a mim, com a mesma convicção!

Ana Karoline, ou Karol como lhe chamo;
mais um porto seguro, mais abrigo no escuro.

Decidi explorar as redes sociais.
Entrei na Twitch e achei demais.
Conheci Agathinha, Gio, May...
mais pessoas queridas que me aceitaram e por elas me apaixonei.

Achei o meu lugar.
Mesmo passando dificuldades, eu irei à luz achar.
Já estive mais enterrado na escuridão,
mas, felizmente, estou achando a salvação!

Em casa, nada tende a mudar;
sempre os mesmos problemas,
cada um por andar.
Meus pais continuam retrógrados;
minha família continua na margem dos insólitos,
mórbidos e impróprios.
Até parece que o tempo não favorece,
que a vida só escurece.

Esta é a última carta. Desde 2012, minha vida foi um inferno amarrado à minha saúde mental. Mesmo assim, acredito que não fui a pessoa mais sofrida, mas tenho meus pontos. Ainda hoje, eu tenho quedas, mas estou aprendendo a lidar com isso. A arte me salvou, o desporto, a Twitch, a poesia. Mas, no fundo, foram as pessoas em que me rodeei, desde o Igor, Karol, até a Teresa, Gio, May e a Agatha. Algumas podem estar longe, mas uma simples palavra pode mudar mundos. E, mesmo distantes, essas pessoas são tão valiosas como as que estão perto. Então, obrigado a todos que nunca me abandonaram e sempre estiveram aqui. Vocês são a minha verdadeira família, desde aqueles que estão comigo há anos até os que chegaram agora na minha vida e tendem a ficar. Obrigado! Vocês são aqueles que me ajudaram a sobreviver e a ser o que sou hoje.

Assinado,
Hugo Castro - "Ninguém"




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