Destino cruzado

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 O sol brilhava um amarelo forte, tão forte que Carla comprimia os olhos para conseguir ver aquele Horizonte maravilhoso, o rio Amazonas preto e límpido se mesclava completamente com o astro imenso e quente que embelezava toda a costa de Iquitos. Ela é uma jovem pescadora que vive sozinha e se sustenta com seu trabalho braçal, ela arrasta muitos quilos de peixe com uma graciosidade estranha enquanto anseia pelo fim de seu turno e descansar merecidamente. Mas Carla é uma jovem muito curiosa e tem uma personalidade muito explosiva e essas duas qualidades ainda iria lhe trazer muitos problemas. Ao terminar de carregar todos os peixes em sua carroça, acende um cigarro de ervas e traga a fumaça com muito gosto e imaginando onde aquele rio imenso desemboca.

-Será que existem outras civilizações como a nossa? será que rio desemboca em um buraco sem fundo que leva para os confins do mundo? Será que ele vai pro céu? - Pensou Carla em voz alta, mas não tão alta assim.

Ao se preparar para ir embora ela avista de longe uma forma estranha do outro lado da margem do rio e como o sol do fim de tarde ardia forte e o cigarro de ervas começava a fazer efeito, Carla pensou estar com a vista borrada ou muito afetada com a paz que o fim de um turno pesado e lucrativo de trabalho termina. Com seu cigarro ainda pela metade decidiu usar sua pequena jangada para ir em direção daquela miragem e ao descer de sua jangada perto da margem, ela tropeçou em algo rígido e inchado que a fez cair como um bebê aprendendo a andar. Seu cigarro caiu na água sem nenhuma escala e engolir muita água foram gatilhos de que seu dia estava indo por água a baixo.

Carla apalpou o que a fez tropeçar e ao puxar para fora da água ela viu uma mão pálida e enrugada, cansada do fim de seu turno ela teve muita dificuldade para conseguir arrastar aquele corpo estranho para fora. Um chapéu estranho, roupas desconfortáveis e quentes, uma adaga em um coldre cheio de detalhes dos quais ela nunca viu na vida e o que mais chocou, os traços daquele homem eram muito diferentes e ela nunca viu ninguém com tais feições na sua vida nem ouviu histórias de alguém parecido da boca das velhas senhoras da cidade. Carla deixou aquele corpo falecido fora da água e foi em direção do que lhe chamara a atenção de primeira, um montado de madeira estraçalhada, Carla com muito cuidado começou desmontar a pilha de lixo e logo concluiu que aquilo era uma espécie de jangada, não como a sua que era apenas alguns troncos amarrados, estava destruído mas ela teve certeza que aquilo era coisa de outro mundo.

No meio dos destroços Carla avista o que parece ser outro cadáver, só que este bem diferente do primeiro que ela já havia encontrado. Este homem se parecia mais com os homens que ela conhece, mas ele estava completamente nu, no seu pulso havia uma corda de palha amarrada a uma ponta de lança afiadíssima e seus músculos. -Por Deus ele parece um monstro- disse Carla puxando aquele corpo imenso, com músculos estridentes, fibrados e desproporcionais.

-Mortos não precisam de nada -pensou Carla.

Ela retirou toda a roupa e todas as posses do primeiro cadáver no intuito de tentar vender na capital Cusco pois todos precisavam trabalhar e pagar imposto ao imperador, e como precisava de um novo amolador e uma cela para sua lhama, e lá essas coisas tinham mais valor do que em Iquitos, talvez ela conseguiria ate alguns mantimentos a mais. Ao tirar as botas ornamentadas com um cheiro horroroso ela percebe uma sombra imensa a sua frente e seu coração logo dispara, uma garota jovem e inteligente que não se entrega sem antes lutar pela sua vida estava diante do desafio que lhe foi destinado a vida inteira, pois seu povo a ensinou desde cedo a lutar e se defender. Carla soltou a bota bem próxima a adaga que já havia tirado do coldre e separado para analisar de onde este homem estranho veio e calculando todas as hipóteses em apenas um pensamento, ela pegou a adaga e em apenas um rápido movimento ela empurrou com toda sua força a adaga de cabo ornamentado na direção do abdômen do seu agressor. Ela olhou pra cima na direção dos olhos do homem que a atacou e continuou empurrando a adaga com muita força, em questão de segundos ela olha para o chão e vê algumas gotas de sangue caindo, ela então pensa em tirar a adaga para golpear o pescoço do homem. - Será que estou fraca? Perdi as forças pra tirar uma faca de carne rasgada? E ao retornar a si ela percebe que homem segurou a lâmina com as mãos nuas e com um olhar brilhante e a íris amarela da cor daquele fim de tarde o homem disse. - Você me entende?

A lenda de RaoniOnde histórias criam vida. Descubra agora