A lenda de Raoni

SONHO

Acordando na copa de uma árvore não tão alta, Carla tenta lembrar como ela foi parar ali mas logo esse pensamento se dissipa pois ela tem a sensação de estar com muita energia e com a cabeça totalmente descansada. Ela lembra que quase foi enforcada e que aquele velho morcego a salvou e sua memória só chegava até o ponto que ela desmaiou nas costas do velho, enquanto Raoni gritava desesperadamente de dor.

Descendo em apenas um movimento de uma altura de mais ou menos 4 metros, Carla tem um vislumbre de várias lembranças do sonho que teve enquanto estava desacordada. Ela viu várias imagens que não faziam sentido para ela.

- Eu era uma criança sendo arrastada pela floresta por um adulto ensanguentado, um breu nauseante que eu apenas sentia o balanço forte e sufocante, eu andando em direção a um lago com o fundo brilhando um tom avermelhado, e lembro de ouvir uma voz calma e reconfortante, mas não lembro o que ela me disse – disse em voz alta para si mesma enquanto andava em direção de uma lagoa com a água extremamente cristalina.

Sentindo muita sede, Carla se perguntava por quanto tempo tinha dormido, pois ela não sentia fome e nenhum tipo de cansaço. Carla estava com o rosto sujo e ela gostaria de ver seu reflexo naquela água límpida e enquanto ela se aproximava da água, um brilho vermelho começa a vir do fundo do lago e Carla assimilou na hora com o sonho que ela teve e deu um mergulho em direção a luz. Quanto mais ela se aproximava da luz, menos vermelha e mais clara ela ficava até que clareou tanto que ela sentiu que estava em queda livre e não nadando. Seus olhos se arregalaram e o coração quase pulou fora de seu peito.

-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa – saia um grito desesperado de sua garganta

-Eu sabia que você viria, você é muito curiosa garota – disse uma voz sem gênero e sem direção, parecia que vinha de todos os lugares

E com um solavanco bruto, Carla para a sua queda livre

- Muito bem minha filha, eu sei o que você procura na sua vida e sei do que você foge.

Assim que a voz terminou, Carla vomita tudo que tinha em sua barriga, ela nem lembrava que tinha comido tanto e se surpreendeu com o atraso na digestão da sua comida.

- Como você sabe de tudo isso? Voz, você precisa mesmo falar comigo por enigmas? – perguntou Carla enquanto limpava sua boca com a cana do braço e parecia que procurava a voz com os olhos e não com os ouvidos.

- Eu sei que você acha que sonhou e sua curiosidade me trouxe até aqui para te fazer uma proposta. Eu sou um ser tão antigo quanto qualquer outro, estive por aqui com vários outros por eras. Mas a nossa convivência foi influenciada por vocês, meras formiguinhas mas que atrapalharam completamente o curso das coisas - disse a voz sem demonstrar nenhuma emoção.

- Então você, ó ser todo poderoso, coloca lembrancinhas na cabeça de formiguinhas apenas para se divertir? - retrucou Carla.

- Não é nada disso, o meu poder no mundo físico é muito limitado, mas não vou lhe contar minhas fraquezas, quero te propor uma troca e vou direto ao assunto. Eu lhe dou todo o meu poder e você pode usar ele do jeito que você quiser, mas um dia eu vou lhe pedir seu corpo emprestado, e não é para sacrificar você nem nada do tipo, é que a minha situação está ficando cada vez mais difícil e se um dia me tirarem deste plano e me levarem para o mundo físico eu preciso de força bruta, e você minha cara tem tudo que eu preciso para não sumir de toda existência. – Contou a voz ainda sem emoção.

- Uma vida de poder por um dia sem consciência? E o que me garante que você não vai se apropriar de mim e viver eternamente no mundo físico?

- Primeiro porque eu não gosto do mundo físico e aqui eu não preciso de sua ajuda, e segundo porque pra uma formiguinha você suspeita demais de um contrato divino, estou dando a minha palavra de DEUS e você aceita se quiser. O livre arbítrio não é algo que lute contra.

- Manda ver ser divino, eu não tenho nada a perder, sou carne e vontade se você não me privar dessas duas coisas eu aceito seu contrato.

E em um flash Carla sente sua existência sendo puxada para os céus, em uma força incrível, tão incrível que ela sentiu seu corpo virando luz e a única coisa que ela conseguia ver era algo parecido com o fundo de um lago iluminado pelo sol da tarde totalmente distorcido e desfocado. Como uma flecha e em um espaço de tempo que parecia décadas para Carla e segundos para nosso mundo, ela sai do lago criando um jato d'água e ficando acima das árvores, praticamente parando no ar Carla lembra outra vez do escuro inebriante de suas lembranças e compara com a imagem que ela está vendo agora um arco íris lindo se formando em sua frente e com a fauna e flora exuberante do lugar que ela estava passando em sua vista.

-Esse mundo é maravilhoso! – gritou para ninguém enquanto ela sorria para o horizonte.