2. Estagiária

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Coloco os fones de ouvido e sigo apressada para o ponto de ônibus. Devo chegar mais de uma hora atrasada, e isso vai me meter em uma enrascada dos infernos. Mas, não, tive que me masturbar por conta de uma mulher maravilhosa, do qual muito provavelmente nunca mais irei ver. Eu parecia uma adolescente cheia de hormônios dentro de mim. Santo Cristo, o que eu tinha na cabeça? Dou sinal para o ônibus, amaldiçoando Danilo por isso. Não que ele tenha obrigação de me dar carona todos os dias para chegar ao estágio. Ele havia saído do grupo do grupo dos estagiários. E sim, tem um grupo do grupo. Tem o grupo oficial dos estagiários da revista e tem o grupo das minhas amigas com o Danilo junto. Não sei muito bem, se é felizmente ou não, mas ele saiu do nosso grupinho do whatsapp depois da festa de ontem. Ele simplesmente sumiu depois que nos deixou em casa. Às vezes, ele cansa, mas a carona é muito boa.

Subo no ônibus, e já começa o meu videoclipe interno. Eu amo me sentar perto da janela e sentir que o mundo lá fora vai ser muito melhor do que a realidade, não que a minha vida seja ruim, por enquanto está sendo muito boa. Exceto algumas matérias que não entram na minha cabeça, mas tudo bem. Encaro o celular e não tem sequer uma mensagem. Sempre bate um vazio quando não recebo nenhuma atenção logo de manhã. Seria realmente incrível receber uma mensagem amorzinho logo cedinho e logo pela noite, uma mensagem dizendo que é para eu me preparar pois vou ser comida. A vida seria realmente esplendida.

Encosto a têmpora na janela do ônibus adormecendo aos poucos. Eu estava realmente muito cansada. Mal havia dormido pela festa e pela madrugada regada a masturbação. Deveria me lembrar muito bem que durante a semana seria realmente melhor evitar qualquer badalação. Eu não estava acostumada a tamanha agitação.

Com um solavanco do ônibus bato a cabeça em cheio na janela, sinto a pressão me golpear em cheio. Com a mão na cabeça, segurando firme, como se houvesse uma possibilidade de cair do meu pescoço, eu desço no meu ponto.

Tiro o cartão da mochila as pressas para passar pela catraca metálica. A sorte está tão minha amiga que fez o favor de enrolar a alça da minha mochila na bendita da catraca. La vai eu ficar presa naquela porcaria. Solto a alça e passo mais uma vez meu cartão, então eu giro a catraca passando por ela. A porta do elevador está quase se fechando. Aceno para pessoas que eu mal vejo, para segurar o elevador. Coloco o crachá no pescoço, enquanto equilibro a mochila num ombro só.

- Segura! - falo alto.

Eu devia estar com uma careta horrorosa no rosto suado. Minha boca estava escancarada pela surpresa de ter visto alguém que faria toda a diferença em minha vida. Na verdade, eu levei um belo sacolejo do destino. Não é possível. Ou seria? O coração ribombou dentro de meu peito batendo com força. Eu quase cai para trás.

A porta do elevador fechou bem a minha frente.

Eu havia visto a desconhecida da festa de ontem no elevador do prédio onde eu estagio. O último andar se encontra a revista. Não tem como eu saber se ela vai estar justamente naquele andar. Até porque, havia muitas pessoas no elevador com ela.

Mas...

Eu não sei se meus olhos pregaram uma bela de uma peça ou se de fato eu a havia visto. Tão real e perfeita. E tão acessível e distante ao mesmo tempo. Eu não aguento a confusão de sensações que essa mulher trás para dentro de mim.

Caramba! Eu sou apenas uma garota de vinte e um anos que mal começou a vida já arrasta uma dívida com o Fies, e nem sei se tenho certeza de que escolhi o curso certo. O jornalismo parece tão longe do que eu quero hoje... Aliás, eu nem sei o que eu quero. Eu moro com os meus pais (mãe e padrasto), e por mais que eu saiba que me amam (talvez meu padrasto nem tanto), sei muito bem que não veem a hora de me ver dando o pé da casa deles. Eu também não vejo a hora de ter meu próprio canto. Mas com míseros seiscentos reais, eu vou morar onde? Sem condições.

Degradação - Uma História De Inverno Russo - Vivian AngelovOnde histórias criam vida. Descubra agora