CAPÍTULO 14 | O QUE É ISSO?

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Hakan não estende as carícias e, quando nota que a chuva parou, magicamente, durante sua sessão de tortura erótica, decide que é hora de me levar de volta para o meu lugar.

Não que eu queira, mas concordo que é necessário. Durante a caminhada por longos vinte minutos, dificultada pela areia fofa, é verdade, falamos sobre tantas coisas, brincamos, e fazemos piadas que eu poderia acreditar piamente que estávamos mesmo de férias.

E claro, Hakan me questionou tantos pontos sobre minha jornada de tomada ao poder ao longo do dia que, por um momento, me divido em querer agradecê-lo e matá-lo na mesma proporção, por querer enfiar o nariz dele onde não é chamado.

Tantas partes mais interessantes para enfiar em mim, e logo isso? Deus, eu só quero um pouquinho de sorte.

— Então já sabemos que, mesmo que você encontre um crime ou algo muito errado, você não quer utilizar isso a seu favor. — Hakan pondera. — Porque, para todos os efeitos, você é filha dele.

— Sim, ninguém acreditaria. Usar a minha mãe ao meu favor também está fora de cogitação. Acho que ela já passou por muita coisa nessa vida, não vou transformá-la em uma peça de xadrez.

— Exames de sanidade mental?

— Claro, amarrar o velho numa cadeira e obrigá-lo a dizer as groselhas dele em frente a um médico, parece que vai acontecer mesmo. — Reclamo. — Desculpa, sei que você está tentando ajudar, mas tudo isso já passou pela minha cabeça.

— Se tudo já passou, talvez você precise olhar uma segunda vez. — Hakan segura minha mão, e não a solta. Nosso percurso agora se torna uma caminhada romântica, e se não estivéssemos em uma ilha quase deserta e provavelmente artificial, pareceríamos um casal lindo aproveitando a lua-de-mel.

Foco, Kimberly Ann Zadrozny-Price. Foco na porra do seu império. Sexo você pode conseguir depois.

Mas quem disse que é só sexo?

— Não posso matá-lo, não posso provar que ele cometeu um crime, não posso ferver seu corpo em óleo cósmico, não posso fazer nada! — Abro os braços, me desvencilhando do suave toque dele. O desespero é latente. — Mesmo que eu mostre minha boca machucada, é capaz dele dizer que eu pedi por isso em uma sarjeta enquanto transava com um viciado em heroína num beco sujo, porque para ele, eu sempre vou ser a adolescente revoltada que sugou seu dinheiro todo em droga e sexo!

— Isso foi perturbadoramente visual, Kim. — Hakan parece querer transformar minha metáfora em uma piada bem-humorada para descontrair, mas falha de maneira miserável. — Olha, quem sabe, tudo o que você precisa fazer, é ser você mesma. Mas algo me diz que, antes mesmo de você decidir como vai chegar naquela empresa com os dois pés no peito do seu velho, e o que falará para convencer a diretoria, você precisa de apoio.

— Apoio? Mas não é isso que você está fazendo?

— Sim, Kim, mas quero dizer um apoio real, que esteja em Chicago nesse momento. Infelizmente, quando eu sair daqui, vai ser sem aviso e sem chances de atrasar o cronograma, e não posso te ajudar muito mais do que emprestar minha orelha e meu inegável bom senso. — Ele assente. — Você precisa de alguém que possa mexer os pauzinhos, te tirar daqui e deixar o campo de batalha pronto para você chegar atirando.

— Vamos falar sobre outra coisa? Eu realmente não quero falar sobre isso. — Suspiro. — Ou melhor, prefiro entrar em qualquer outro assunto com você. Não sei quanto tempo temos juntos, e não quero gastar ele falando sobre meus problemas. Como se apaixonou pela arte? Como é sua arte, afinal?

— Assim você acaba me conquistando, Kim. Colagens. Fotografias, e tinta, e papéis, texturas. Tudo e nada. Essa é minha arte, pegar o belo e transformá-lo. Não tenho achado muita beleza nas coisas ultimamente, mas é isso. — Ele ri, e volta a segurar a minha mão. Dessa vez, não a solto. — Quero dizer, não até agora.

O HOMEM DOS MEUS SONHOS // UM CAPÍTULO POR DIAOnde histórias criam vida. Descubra agora