CAPÍTULO 9 | DE ONDE VOCÊ VEIO?

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A ressaca com que eu acordei faz o efeito pós-rupinol parecer brincadeira de criança. Nunca na minha vida senti tanta dor de cabeça e gosto de guarda-chuva molhado na boca! Pelo menos, estou linda e no meu quarto, com o mesmo vestido perolado que usei ontem, e ainda coberta nos lençóis brancos com um cuidado que talvez só minha mãe tivesse.

Como eu voltei para o quarto? O que aconteceu? Lembranças nunca mais encontradas na minha singela cabecinha de vento. Crystal apareceu, é verdade, e sonhei com o bonitão da praia.

Ele tinha até um nome, não tinha?

Vou me lembrar, uma hora ou outra.

Saio da cama aos gemidos desconfortáveis e me arrasto até o banheiro da suíte, mergulhando em um banho morno e engolindo duas aspirinas que encontro na pia, como se esperassem por mim. Laura devia saber que eu teria uma longa noite e foi muito atenciosa, mas a invasão me deixa um pouco constrangida.

O telefone do quarto toca para a minha alegria, havia uma extensão do mesmo bem ao lado da banheira, exigindo pouco esforço meu ao atender.

— Alô?

Bom dia, senhorita Price. — A voz melodiosa e prestativa de Laura ecoa. — Desculpe acordá-la, mas gostaria de saber se posso colocar o café da manhã no salão junto a sua mãe, ou se prefere que eu o leve no quarto.

Bom dia, Laura. Mas, lá fora não...

Desculpe, está uma chuva e tanto lá fora. Não deve durar muito, mas não recomendo comer na área da piscina.

Sem problemas. Vou comer com a minha mãe. E obrigada pelas aspirinas.

Como?

As aspirinas, no meu banheiro. — Repito, sem entender. — Você as deixou aqui ontem à noite?

Não temos aspirinas, só temos ibuprofeno no nosso armário de remédios. Está tudo bem, senhorita Price?

Ah, não... eu devo... deve ser da minha... do meu kit de primeiros-socorros. — Minto, muito embora se a concierge souber somar dois e dois, saberia disso. Ela, no entanto, me dá a cortesia de concordar e avisar que o café será servido em meia hora, deixando-me com meus pensamentos e o barulho de ocupado do telefone.

Saio da banheira, encucada. Eu não tinha aspirinas na minha mala, tinha?

Reviro o conteúdo da necessaire fechada no armário e encontro um potinho com o nome do analgésico. Bem, pelo menos não estou ficando louca, e já deveria saber que estaria completamente mal na manhã seguinte quando voltei para o quarto. Kimmie bêbada é Kimmie consciente. Olho para fora, a chuva torrencial deixando o lugar um pouco menos perfeito, e começo a me vestir, distraída, até que algo me faz parar de súbito. Mesmo sendo nada específico, me fez recordar de algo muito engraçado, um sonho:

Eu sou muito menos interessante do que você, Kim, mas pode me chamar de Hakan.

Que loucura! Sonhei mesmo com o bonitão misterioso da praia, e ainda lhe dei um nome!

— Hakan Sahin. — Repito em voz alta, saindo do quarto com aquilo na cabeça.

Talvez Laura possa me dizer sobre outro hóspede, se ele realmente existir, porque tenho absoluta convicção de que não sou louca, muito menos sonharia com algo tão aleatório. Se bem que sonhar com um belo homem que vi na praia, não é bem o que eu considere aleatório. Talvez eu só esteja criando um amigo imaginário.

Só Deus sabe como preciso de um.

***

— Parece que alguém teve uma noite agitada. — Minha mãe crispa os lábios, parecendo não gostar da minha apresentação nessa manhã. Não dá para culpá-la, minhas calças largadas e o bagunçado rabo-de-cavalo torto destoam violentamente do conjunto elegante em tons terrosos e o cabelo perfeitamente montado em uma trança embutida que faz minha cabeça dar um nó imaginando como ela montou o penteado.

O HOMEM DOS MEUS SONHOS // UM CAPÍTULO POR DIAOnde histórias criam vida. Descubra agora