CAPÍTULO 2 | VOCÊ ESTÁ PRONTA?

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CHICAGO, IL. | INVERNO DE 1997

— Adiantada, cheirando a cigarro, valise... Alguém teve uma noite agitada.

Mal posso terminar de comemorar minha evidente (ou talvez nem tanto) vitória por escorregar pelo lobby movimentado da Sears Tower, quando uma linda loira de olhos verdes entra no mesmo elevador que eu, parecendo se divertir um bocado com a minha cara de decepção.

— Chelle, não. — Seguro o riso, como se realmente não adorasse a mulher à minha frente.

Michelle Portson é a nova secretária do meu pai. Tão inteligente e venenosa quanto sua antecessora, mas com a vantagem de que nos tornamos amigas quase de imediato.

Claro, teve o fato que eu me encontrei com ela de outras formas menos formais, pouco antes de sua contratação, mas ao passo que eu sabia exatamente o que queria, ela só tomou tequila demais e saiu de um divórcio fácil de menos, e nosso minúsculo casinho de balada se tornou a porta de entrada para uma amizade sincera.

Do tipo que frequentemente me pergunto porque não pode existir entre homens e mulheres.

Não me leve a mal, eu poderia ser amiga de um cara como Calvin, se ele não achasse que eu devia minha vida atrelada à declarações de amor e abraços na cama porque decidimos trepar uma vez, ou que sermos confidentes significaria que eu estaria disposta a abrir as pernas quando ele bem entendesse.

— Eu entendo, Kimmy, você teve um dia agitado ontem, com todos aqueles problemas da mídia interativa de Detroit... — Michelle continua me cutucando, enquanto eu só rezo para atingirmos o septuagésimo andar o mais rápido possível. Deus, preciso de um banho, urgente! — E hoje, a reunião...

As portas do elevador se abrem e atravessamos a porta de vidro jateado, as três letras imponentes dos dois lados da parede semitransparente, e majestosas palmeiras tropicais em vasos que devem custar mais do que o carro que eu ganhei aos dezesseis anos. No horizonte, a massa de prédios está coberta de neve, e o indefectível Lago Michigan cintila com suas ondas quase congeladas, a visão perfeita que circunda os dois mil e setecentos metros quadrados de escritório da PRC.

A vista do apartamento em que cresci não é de se jogar fora, mas qualquer janela acima do trigésimo andar da Sears Tower é de tirar o fôlego, e Deus, como eu amo Chicago.

— Nada me dá mais prazer do que ver essa cidade toda manhã, sabia? — Confidencio, sem saber se ela está me ouvindo. — Mesmo coberta de gelo.

— Você está me ignorando? — Michelle acusa, em um falsete cômico.

— Tenho meia hora para tomar banho, colocar uma roupa limpa e correr para a minha sala para ter a esperança de que algum diretor me chame para a reunião. Não considero isso te ignorar, apenas ter foco. — Balanço a valise, enquanto caminhamos para minha sala. — Você acha que estou sonhando alto?

— Você vai para essa reunião. Seu pai quer que você esteja lá. Por que acha que estou te seguindo, Price? — Michelle revira os olhos, abrindo a porta da minha salinha, um canto quase inacessível no centro do prédio, como se meu pai soubesse do meu apreço pela vista incrível da cidade, e quisesse me lembrar de que nada, nem mesmo aquela vista, estava ao meu alcance.

Um gosto amargo na boca é inevitável com o pensamento. Não sei porque meu pai insiste em me tratar como o cocô do cavalo do bandido, se pagou pela minha educação e permitiu que eu trabalhasse aqui por tanto tempo.

— Por que eu sou linda e você me acha sexy quando chego de ressaca? — Sorrio, maldosa, tirando-a do eixo por alguns momentos. Nós duas já tínhamos colocado em pratos limpos que nossa relação era apenas amizade.

O HOMEM DOS MEUS SONHOS // UM CAPÍTULO POR DIAOnde histórias criam vida. Descubra agora