Capítulo 1 - Não !

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Bernardo estava andando com uma pressa incomum, quase correndo. O nervosismo era grande, pois sabia que quando chegasse em casa iria escutar alguns sermões maternos sobre "não chegar tarde" ou "você deveria ter ligado!". Ele não tinha percebido como o tempo tinha passado e acabou ficando até tarde na casa de Tiago, seu amigo de infância. O problema se tornaria maior se ela visse a marca de vinho que acidentalmente Bernardo derramou na calça nova quando estava falando sobre a felicidade de ter concluído o colegial. Com toda aquela pressa, o garoto tira do bolso um pequeno recipiente contendo um pouco de perfume do qual começa a passar na blusa e na calça para disfarçar um pouco o cheiro do álcool do qual estava exalando em sua volta.
Logo avista sua casa e procura manter a postura de um dia normal, como se tivesse acabado de vir da casa do Tiago e tivesse somente comido sanduíche e bebido suco de laranja. Procura respirar fundo e devagar, para não suar muito, e então resolve abrir a porta da casa.
Ao entrar em casa encontra a luz da sala ainda ligada, sinal que sua mãe ainda não foi para o quarto dormir, ou pegou no sono no próprio sofá esperando o garoto. Então com passos leves o garoto tenta ir até a cozinha, mas quando chega na sala o garoto toma um susto ao ver sua mãe sentada, olhando fixamente para ele:
- Isso é hora de chegar em casa Bernardo? - A feição de Sofia, mãe de Bernardo, não era uma das melhores. - Eu sempre avisei para você chegar cedo em casa, ou ligar avisando que chegaria tarde, você quase me mata de preocupação.
- Calma mãe. Eu estava só na casa do Tiago.
- Mesmo assim é obrigação sua ligar, qual seu problema garoto?! - A mãe de Bernardo já estava preparada para dormir, se não fosse o barulho que o mesmo fez ao abrir a porta.
- Nenhum problema, a senhora que é exagerada. Sempre pensa que eu estou fazendo algo que você não saiba!
- Exagerada?! Como posso deixar você por aí sem ter notícias?! Semana passada fui inventar de deixar você sair com um colega e você chega em casa com um odor terrível de álcool. Tu ainda é uma criança! - Essas discussões não aconteciam sempre e quanto mais Bernardo falasse, mais Sofia iria questionar as atitudes do filho.
- Tá certo mãe. Agora vou para o meu quarto, tomar meu banho e dormir.
Bernardo virou as costas para sua mãe e antes que subisse o primeiro degrau para ir ao quarto, sua mãe ainda tinha algo pra dizer:
- Eu preciso conversar com você. - O tom frágil e a maneira delicada daquela frase interrompe os passos de Bernardo, que no mesmo instante se volta para sua mãe e pergunta:
- O que houve mãe?
- É sobre a imobiliária... - nesse momento Sofia caminha até uma poltrona ao lado da televisão e continua a fala, só que de uma forma abatida:
- Teremos que se mudar para outra casa.
- Como assim mãe? De novo?
- É. Seu pai não deu nenhuma notícia nesses últimos sete meses e nossas reservas estão se esgotando. Talvez iremos para alguma casa com o aluguel mais barato, ou então teremos que ir para casa da sua avó.
- Não. A casa da vovó é muito distante e lá não tem nada, eu não conheço ninguém.
- Mas meu filho nessa situação não da para sustentar você e o seu irmão, teremos que nos mudar ou passaremos fom... - Bernardo com medo de perder suas amizades e a vida cotidiana que leva na cidade acaba se exaltando um pouco:
- Não! Eu não vou! A gente tem que ficar aqui! - Então depois desses gritos o silêncio domina aquela casa. Sofia um pouco surpresa com tamanha rebeldia e mimo do filho aponta para seu quarto e ordena:
- Suba agora... - O garoto chateado dá as costas para a mãe e sobe a passos ligeiros como uma onça e pesados como um elefante, mostrando ali toda sua raiva com a futura possível atitude de sua mãe.
O garoto bate a porta com força, tira a roupa e fica se encarando no espelho, bufando ar pelo nariz como sedosas um touro prestes a atacar alguém. A raiva expressada naquele momento era por conta do seu pai não ter cumprido com o trato de enviar dinheiro para os filhos enquanto estava realizando pesquisas fora do país.
Bernardo vai para o banho se sentido culpado de ter jogado mais responsabilidades nas costas de sua mãe, ou de ter machucado os sentimentos dela por ter gritado, como se fosse uma criança mal educada.
Ao sair do banho o garoto ver duas mensagens que o Tiago enviou para seu celular, a primeira dizia:
"Ei ber! Esqueci de avisar. Hoje tem uma festa na casa da Juliana e ela tinha pedido para te chamar, não precisa levar nada".
- Mesmo assim eu não ia levar. Deixa ver a segunda mensagem...
"Ah! Estou passando na esquina da tua casa de bicicleta por volta da meia-noite, já que é caminho da casa dela, vou te esperar só cinco minutos na esquina"
Bernardo vê que ainda tem por volta de quinze minutos para se arrumar e sair, mas pensa que fez muita besteira ao ter gritado com a mãe dele e acaba ficando um tempo pensativo sobre suas atitudes.Então faltando dez minutos para meia-noite ele se decide:
- Vou para festa.
Veste a roupa as pressas e sai no corredor olhando quarto por quarto para saber se sua mãe e seu irmão estão dormindo. Então entra no seu quarto, tranca a porta e escala a parede pelo lado de fora da sua casa para sair, pega a bicicleta na entrada da casa e quase caindo junto com ela sai pedalando silenciosamente até a esquina, lugar onde Tiago já está esperando Bernardo, enquanto bebe uma garrafa de vodka com suco de limão que o próprio garoto fez na sua casa.
- Ah... Chegou o garoto Bernardo...
- Já tá bêbado macho?
- Que nada, comecei agora, quer um pouco?
- Me dá isso dai... - Então Bernardo bebe metade do que ainda restava naquela garrafa, e quando para de beber quase vomita, só que segurou bem forte aquele álcool que descia no seu estômago, enquanto duas lágrimas escorriam na sua cara vermelha por ter bebido muito álcool de uma só vez. Então Tiago começa a rir da cara do amigo e os dois vão pedalando em direção a casa de Juliana, enquanto conversam sobre os possíveis estereótipos dos convidados que estarão na festa.
Bernardo não sabe, mas será nessa festa que uma escolha mudará toda sua vida, todo seu conhecimento sobre mundo e todas as regras das quais a natureza rege.

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