"Achei que cê fosse mais uma
Mas cê não é mais uma, não"Fabiana Andrade agarrou o volante de sua SUV com força e desviou o olhar para os lados enquanto observava o local. A loira com certeza não era o tipo de pessoa que acreditava em destino, sempre acreditou que era total responsável pelas suas ações, essas sim eram culpadas pelo que acontecia ou deixava de acontecer em sua vida, e certamente eram por essas ações que ela estava ali agora. Por sua plena e total responsabilidade.
Ela se arrependia?
Provavelmente não.
Sua atenção foi desviada para o celular no banco do passageiro, que não parava de tocar. O nome "Mãe" piscava no leitor.
Fabiana suspirou. Mais tarde ligaria para Dona Ângela, mas agora não conseguiria mentir para sua mãe. Imaginou o que a mulher diria quando descobrisse que sua filha havia sido demitida e ainda por cima o único lugar que havia aceitado seus serviços ficava no alto de uma favela.
Não a levem a mal, seu maior sonho desde criança era salvar vidas. Depois de anos estudando dia e noite em uma das faculdades mais renomadas de São Paulo, ela finalmente podia afirmar que ela era muito boa naquilo. Ela não se importava com classe social, cor da pele, nem nada disso, mas não podia deixar de pensar em como sua mãe ficaria decepcionada.
Mas aquilo era culpa dela afinal, não era? Ações que provavelmente iam lhe assombrar pelo resto da vida. Mas pelo menos não haviam lhe tirado o direito de exercer a sua profissão e nem haviam lhe jogado na prisão, isso já era uma grande vitória. Mesmo sendo jogada no fundo do poço, ela havia botado em sua cabeça que faria diferença na vida daquelas pessoas.
Observou as pessoas ao redor, alheias em seus próprios mundos. A loira deu partida no carro, pois era mais um dia de correria no Rio de Janeiro.
Diminuiu a velocidade quando observou um rapaz com um semblante sério se aproximando do carro, algo que ela já imaginava que iria acontecer.
Ele estava sem camisa, boné para trás e uma calça que estava quase na bunda, não devia ter nem 20 anos na cara. Carregava o que parecia ser um rádio comunicador em uma das mãos.
Ela abaixou o vidro do carro e o rapaz pareceu um pouco admirado quando lhe viu, provavelmente esperava outra coisa.
- Qualé dona, firmeza? - ele disse, enquanto dava uma olhada pelo interior do carro. Fabiana ergueu a sobrancelha - Nunca vi tu por aqui não tá ligada, qual foi?
- Não viu mesmo. Sou Fabiana, a nova médica. - ela estendeu a mão em direção ao rapaz.
- Ah eu tô ligado, a gente tava esperando tu... Eu sou o Fuzil. - ele apertou a mão da loira, parecendo muito mais simpático do que antes -Tava esperando uma tiazona ai na moral.
Fabiana deu um sorriso de lado, achando graça do jeito do rapaz.
- É um prazer te conhecer, Fuzil - ela falou, não pode deixar de pensar o quanto ele era novo pra estar fazendo aquele tipo de coisa - Eu posso subir? Preciso dar um conferida em tudo e começar a trabalhar.
Fuzil abriu um sorriso, nem parecia o mesmo mal encarado de antes.
- Claro, claro... Eu já vou liberar pra tu.
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domun colou [ Filipe Ret ]
Romance" Apertou, acendeu, mandou pro vento Tudo já aconteceu é só questão de tempo. " A junção de dois mundos tão diferentes mas ao mesmo tempo de essências tão iguais. Pois às vezes, apenas um tipo de amor é capaz de curar certas feridas.