capítulo três

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"Debochado, cínico, à milhão
Sem padrinho, rá, sem patrocínio
Louco, esse é o rótulo que eles me dão
Quando não conseguem mais acompanhar meu raciocínio"




Fabiana tinha apenas uma certeza naquele momento: sua cabeça iria explodir.

Com o passar dos longos minutos podia sentir os últimos sinais da adrenalina abandonarem seu corpo para dar lugar ao extremo cansaço. Se sentia extremamente fraca e talvez até um pouco envergonhada.

Fazia tempo que não passava por aquilo, muito tempo mesmo; o que a fez lembrar de anos passados, de todas aquelas vezes que havia vomitado antes de entrar em quadra, para jogar um jogo importante.

Ela tinha um grande defeito de fábrica.

Toda vez que se sentia nervosa demais, a um extremo, seu estômago sempre lhe traia, e ela vomitava.

Aquilo era extremamente humilhante.

Depois de anos de tratamento ela tinha finalmente aprendido a lidar com aquele problema, exceto em algumas raras ocasiões.

E essa era uma delas.

O fato era que quando viu a menina Rafaela entrando naquela sala deitada naquela maca, convulsionando e sangrando, ela só quis vomitar.

Era culpa dela.

Sentiu algo que ela compararia a uma facada direta no estômago, pois sabia que era culpa sua. Devia ter lidado com aquela situação com maturidade de uma profissional, mas não, se deixou levar pelo coração, de novo.

Se tivesse feito o certo, talvez aquilo não estaria acontecendo.

Fez o possível e o impossível para salva-la, foi exaustivo. Houve até um momento que achou que iria perde-la, mas no final, perdeu apenas o bebê.

Bom, pelo menos ela estava estável, por enquanto.

A primeira coisa que fez ao sair daquela sala foi fugir direto para o banheiro. Agora estava ali, jogada ao lado do vaso, tendo que lidar com a sua própria fraqueza.

Fechou a tampa e puxou a descarga.

Passou a mão no rosto. Queria gritar.

Notou que seu jaleco estava sujo de sangue. Sangue de Rafaela.

Deu um longo suspiro, a coisa havia sido feia demais. Rafaela tinha tentado abortar, na verdade, naquele momento, ela tinha conseguido.

Aquilo não parava de martelar em sua cabeça, se ela tivesse feito diferente, se tivesse ido por outro caminho, talvez a garota e o bebê estariam bem agora.

Grande merda.

Era tudo culpa dela, afinal.

- Doutora... – ela ouviu uma voz a chamar.

A médica respirou fundo tentando se recompor. Em um movimento rápido, ficou de pé, passando a mão nos cabelos bagunçados.

- Eu estou aqui.

Um homem alto, de olhos castanhos e cabelos pretos entrou no ambiente, era Raul, um dos enfermeiros, com quem ela já tinha construído certa amizade.

Ele a analisou e pareceu ponderar por alguns instantes.

- Você está bem, Fabi? – perguntou, parecia preocupado.

- Estou. – ela respondeu – Como está a garota?

Ele continuou observando a médica por alguns segundos, não levando muita fé na resposta da mulher.

- Ela está estável... Você salvou a vida dela.

domun colou [ Filipe Ret ]Onde histórias criam vida. Descubra agora