capítulo dois

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"Carrego a glória e a dor de viver do meu jeito
Meu amor, eu sou o chefe do crime perfeito"

Rafaela encarou a cartela em suas mãos enquanto sentia as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Seus olhos doíam, seu peito doía, sua alma doía. A dor que ela sentia não podia ser descrita, nunca em toda sua vida havia sentido algo como aquilo. Era como levar uma facada diretamente no coração.

Ela era burra demais. Inocente demais.

Como foi capaz de acreditar que ele a amava de verdade? Como foi capaz de se entregar daquele jeito depois de meia dúzia de palavras bonitas? Ela achou que era de verdade. Pelo menos para ela era.

Contar a Douglas sobre a gravidez foi difícil, mas mais difícil ainda foi ouvir os xingamentos dele depois.

Disse que ela era uma vadia enganadora, que só queria o dinheiro dele, que aquela criança só podia ser de algum dos favelados com quem ela convivia.

Que ela era um erro que ele nunca mais queria ver.

Nunca havia visto alguém mudar da água pro vinho tão rápido.

E foi naquele momento que seu vislumbre de príncipe encantado morreu, junto a todas as promessas que ele havia feito para ela.

Ela só queria gritar.

Tinha tanta raiva dele, mas principalmente raiva de si mesma. Seu irmão tinha razão afinal, ela era uma garota burra demais.

Apertou seu travesseiro com tanta força que sentiu a unha machucar a palma de sua mão. Sua vontade era de gritar até perder a voz, mas sua tia infelizmente estava em casa.

Seu olhar foi para a sua outra mão.

A cartela.

Conseguir o remédio foi a parte mais fácil. Ela falou com Ruan, o “traficante” da escola. Ele se achava um máximo por conseguir as paradas ilegais, mas era apenas o filho de uma farmacêutica. Imagina se ele soubesse de quem ela era irmã.

Ela deu uma risada.

Só queria ser uma garota normal.

Sua vida era uma desgraça mesmo.

Segundo o que leu, precisava tomar a cartela inteira para fazer efeito.

Ela tinha coragem para aquilo?

Chorou mais.

Pensou em ligar para Fabiana, foi o que ela tinha dito que faria se acontecesse alguma coisa. Mas o que a médica diria que mudaria aquela situação? Havia gostado muito da mulher, mas quem ela estava querendo enganar? Nada que a médica dissesse iria lhe fazer mudar de opinião.

Ela não ia conseguir sobreviver aquilo. Na verdade, ela já se sentia morta por dentro.

E foi com esse pensamento, naquele momento de desespero, que ela colocou os comprimidos na boca e os engoliu.


***

- Pô, tô falando sério irmão, pela vida da minha coroa ai na moral... Isso não vai acontecer mais não.

domun colou [ Filipe Ret ]Onde histórias criam vida. Descubra agora