Capítulo 02

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Acordei no dia seguinte mais cedo do que eu deveria, meu corpo não desligava ao ponto de relaxar por completo e fiquei um bom tempo olhando o teto branco, ouvindo o vento e vendo a luz do sol adentrando o quarto conforme o dia ia evoluindo.

Pensei nos possíveis por quês de estar naquele lugar, avaliei fugas, me culpei por ter sido tão descuidada, tão solitária, acabei percebendo que ninguém vai sentir a minha falta tão cedo, então, minhas esperanças são praticamente nulas. Sinto como se meus sonhos fossem roubados de mim da forma mais desumana possível. Lutei tanto pra chegar aqui e no final é como se não valesse nada.

Levantei da cama indo em direção ao banheiro, eu precisava tomar um banho, tentar de alguma forma retirar toda aquela angústia do meu corpo. Retirei as roupas calmamente me permitindo avaliar os roxos esverdeados que agora surgiam nas minhas costelas, braços e pernas. Aquele imundo não bateu no rosto, bem pra minimizar o estrago no produto aqui. Respirei fundo, tentando segurar o choro, caminhei pro chuveiro, evitando o espelho enorme, não queria chorar ainda mais.

A água estava quentinha, lavava, arrepiava e me deixava liberar toda e qualquer frustação que tinha no peito, lavei os cabelos com os produtos acoplados na parede, o sabonete cheiroso, tudo perfeito demais pra situação. Quando terminei sentia o meu corpo pesado, cansado demais para se manter de pé, não queria me mover, então me encostei na parede deslizando até o chão, sentindo a água continuar fluindo por meu corpo, perdendo a noção de tempo até perceber meus dedos enrugarem. Encarando minhas mãos suspirei me pondo de pé, enxuguei o corpo, não ligando pra como meus cabelos iriam ficar, tinha certeza que deviam estar um ninho, mas sinceramente, importava? Não, não importava. Vestindo uma muda de roupa que deixei preparada em cima do armário, engoli a agonia da curiosidade, o armário presente no quarto era algo absurdo, estava completamente abarrotado de roupas diversas, peguei o primeiro conjunto de vestido que vi e fechei rapidamente a porta, tentando minimizar a sensação de confusão que o meu peito sentia, deixei pronto na bancada no banheiro, coloquei minha roupa antiga num cesto ao lado do armário. O conjunto era um vestido simples, casaco de lã quentinho e tão delicado quanto o vestido e um par de tênis que cabiam perfeitamente nos meus pés. Sequei meus cabelos da melhor forma que podia, passei um creme de petear e tentei quase em vão desfazer os nós causados pelos últimos acontecimentos. Quando terminei comecei a me direcionar para a saída do banheiro encontrando a senhora com feições gentis me esperando.

- Bom dia, menina. – A senhora que me contou um pouco do que é essa merda toda tinha o passo silencioso, entrava no quarto quase que na surdina e só era entregue pelo pequeno barulhinho da maçaneta.

- Bom dia. Não tinha animo pra tentar muitas coisas já que ela foi bem enfática sobre o que poderia me acontecer, fora que eu não estava afim de testar as ameaças daquele demônio que me espancou, pensei muito e decidi seguir os passos conforme a música até o momento de eu conseguir alguma brecha, alguma explicação, nunca, jamais iria ser a prostituta de um homem, ainda mais de um que se presta a comprar um ser humano pra qualquer fim, ainda mais contra a vontade da pessoa. Terei de ser inteligente e silenciosa, ainda mais do que sou.

- Trouxe seu café da manhã. Fui informada que hoje a senhorita será deslocada para a área de beleza da casa.

- E o que seria isso? - É onde as moças vão para mudar, melhorar algo no visual e serem ensinadas coisas básicas comportamentais. Não vi isso acontecer muito aqui, mas pelo que puder perceber isso só é feito com algumas. - Por que?

- Brasileiras, as brasileiras nesse período em que estou aqui ficam poucos dias na casa e rapidamente são vendidas, sempre, era um dia no salão, no outro, aula de etiqueta e por fim alguma venda direta, mas pelo que vejo tem leilões também. Aparentemente estão preparando um, por isso, todos esses cuidados. Moça eu não sei se fico feliz por estar sendo rápido, mas, eu peço que sim, por favor, seja inteligente. A maioria das brasileiras mostram muita relutância e isso gera consequências que nem sempre são reversíveis.

SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora