Prólogo

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Minas Gerais – Brasil
Outono – 20. 06.2018

- Eu te avisei, disse que não nem uma ou duas vezes, mas várias Luna! – A voz elevada de Heitor fez meu coração saltar, gritar por libertação, buscando o homem que sempre arranjava um jeito e me salvar, mas que no momento parecia carregar um enorme desprezo por algo que eu nunca faria.

- Amor... – Tentei chamar sua atenção enquanto tentava sair do aperto de Gustav, mas ele não me soltava.

- Ahh, Heitor, vamos lá primo, já dividimos antes, porque evitar dessa vez? – Não consegui esconder a incredulidade em ouvir tamanho absurdo. Tudo estava bem, Heitor e eu finalmente tínhamos conseguindo nos equilibrar em meio aos últimos tornados pra que Gustav fizesse o favor de incitar o que Heitor sempre pontuou.

- Amor, me escuta... – Novamente puxei o pouco de fôlego que existia dentro de mim e me soltei de Gustav tentando alcançar Heitor, mas ele não permitiu. O olhar ferido lá, o desprezo me envolvendo por inteira fazendo meu corpo se arrepiar.

- Você nunca mais dirija a palavra pra mim. Eu dei tudo o que tinha de bom e acredito que não era muito, porém era o mais verdadeiro possível e você fez questão de jogar tudo no lixo com a pessoa que eu mais desprezo depois dos meus pais. Faca, bom proveito da vida de puta que terá. Eu não consegui responder, meu corpo tinha entrado em um estado letárgico, o coração galopando no peito como nunca antes. A dor conseguindo destruir o pouco de esperança que existia dentro do meu peito.

- Que exagero, Heitor, vamos. A Laila vale a pena ser dividida, admito que ela é geniosa, mas primo, se a boceta for tão boa quanto a boca macia... Gustav não conseguiu terminar, Heitor cortou o espaço existente entre eles e agarrou o corpo de Gustav, jogando o mesmo no chão. As cenas seguintes ficariam na memória por muito tempo. Heitor era muito mais alto, forte e bem treinado que Gustav. Ele nem ao menor conseguia se defender o ataque de Heitor. Eu ainda tentei pará-lo, mas o empurrão que recebi de Heitor foi tão forte que fui parar no outro lado da sala batendo a cabeça na parede.

- Você vai aprender seu merda, vai, o que é meu ninguém pode tirar. – Cada palavra sua era um soco no rosto de Gustav que agora parecia não conseguir respirar, engolindo seu próprio sangue.

- HEITOR, HEITOR, MEU DEUS, ASSIM VOCE VAI MATAR ELE. – Consegui me erguer cambaleando, gritando, tentando tirar o mínimo de razão daquele homem.

- Ouça bem o que eu vou te dizer seu merdinha. – Heitor parou, agarrando a camisa de Gustav, fazendo com que sua cabeça fosse direcionada pra mim, enquanto sussurrava audível o suficiente para que eu pudesse ouvir, encarando a mim com o maior nojo que um dia consegui receber. Naquele momento eu solucei, sentindo o choro começar a querer vir de maneira tremenda. – Você pode até ter tocado nela, mas nada nunca será seu. Tudo o que envolve ela já foi meu primeiro, tudo da família sempre estará sob meu domínio, absolutamente tudo que um dia pensou que poderia conquistar é meu muito antes de você ter ciência da existência. Antes eu até relevaria a sua estupidez, mas você ousou tocar na única coisa que eu sempre deixei claro que seria só minha, então aproveite os seus anos de pura miséria daqui pra frente, farei questão de que conheça quem de fato é Heitor Adamovich.

Eu sabia que as palavras não eram só para Gustav, mas para mim também, eu sentia meu corpo adoecer com toda essa situação. Queria ir ao seu encontro, alcançar seu abraço e ouvir da sua boca que tudo não passa de um pesadelo.

Heitor ao terminar de deixar claro as suas intenções, largou o corpo de Gustav que parecia ter desmaiado e começou a deixar a casa da minha mãe, não consegui ficar parada, correndo em sua direção segurei seu braço.

- Heitor, amor, você precisa me escutar. Eu não fiz nada, por favor.....

- Calada, porra. – Ele nunca falava comigo dessa forma, o homem que eu amava nunca se deixava ser tomado pela ira quando estava comigo, porém agora é como se eu não fosse nada. Retirando minha mão do seu braço saiu em disparada para o seu carro, saindo em disparada da fazenda.

Eu sentia meu corpo tremer, minha visão nublar e a sensação de perda começar a me assolar. Não pensei muito e corri em direção a sala de estar, vendo Gustav ainda desmaiado no chão, ignorei a presença desse homem agarrando minha bolsa onde a chave do meu carro estava. Com as chaves na mão corri em direção ao meu carro, saindo em disparada, procurando Heitor. Ele precisava me ouvir, eu era inocente, nunca, jamais trairia o único home que amei e vou amar o fim dos meus dias.

- Amor, por favor, vamos, me espera. Deus, faça com que ele me esculte. – Eu não conseguia ver muito bem, tentava conter as lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos, mas não funcionava, meu corpo lutava contra mim.

A visão da estrada estava péssima, a noite deixava tudo muito ruim de se ver, a chuva que tinha começado forte demais exigia um cuidado que eu não estava tão disposta a ter. Heitor não aparecia e eu conseguia entender, ele era ótimo com carros, o mais rápido que já vi pilotando. Desesperada tentei alcançar o celular no banco do carro como forma de conseguir me comunicar com ele, mas não deu tempo, o carro deslizou na pista molhada me fazendo voltar a minha atenção pra estrada, contudo não rápido o suficiente pra conseguir desviar do caminhão.

Eu senti tudo, a batida me tirando o fôlego, o carro capotando o barranco, a água me engolindo e por fim, a escuridão que eu comecei a sentir no momento que ele me deixou.

SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora