Único

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Eu tirei minha carteira de motorista semana passada.

Meus pais insistiram muito que eu fizesse isso, e eu fiz. Pensei em você durante todo o teste, Neil.

Lembrei do quanto você estava empolgado para tirar a sua própria carteira, para que você finalmente dirigisse pelas ruas vazias da cidade, sentindo o vento em seu rosto, e uma sensação de liberdade.

Mas hoje eu dirigi pelos subúrbios, chorando porque você não estava comigo. Chorando porque você me disse incontáveis vezes que queria dirigir comigo e me levar a inúmeros lugares. Chorando porque você me contou que sonhava em estar comigo em um carro, cantando as músicas que costumávamos ouvir no rádio do Meeks e do Pitts. Chorando porque me imaginei dirigindo com você pelas ruas que tu tanto me contava sobre no nosso dormitório.

Porque eu ainda vejo seu rosto em cada mísero pedacinho daquela escola e dessa cidade, e não consigo passar pelos lugares que costumávamos ir sem que as lembranças invadissem meu coração e nublassem a minha mente. Calçadas que atravessamos, salas nas quais estudamos... Eu ainda escuto sua voz no meio da gritaria da escola, nós dois rindo por cima de todo aquele barulho e conversas sem fim.

Nossos amigos estão cansados de me ouvir falando sobre o quanto eu sinto sua falta, ou de como eu penso em você em cada momento da minha vida. Eles me dizem que eu preciso sair, conhecer novas pessoas... Mas eu não quero, Neil, não quero conhecer ninguém da mesma forma que conheci você. Não quero sugar a essência de nenhum outro ser, muito menos viver deliberadamente com outro alguém.

Porque eu ainda te amo.

E eu sei que não éramos perfeitos, mas eu nunca me senti assim por ninguém. Nunca, amei alguém tão intensamente como amei você, e nunca vou amar. Ninguém me fez sentir o que eu sentia quando estava contigo e duvido que alguém vá, pois você era único Neil, com uma essência tão pura que me cativou.

Sim, hoje eu dirigi pelos subúrbios. Porque como eu poderia amar outra pessoa? Como eu poderia ousar amar alguém que não fosse você?

E se você quer saber, eu acredito que não estávamos falando a verdade naqueles poemas que escrevemos sobre nós.

Porque nós dizíamos ser para sempre, e agora eu dirijo sozinho pela sua rua.

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