olhares

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Antes de chegar a esta casa eu era uma garota normal, tinha alguns benefícios, tinha uma amiga incrível, eu era a caçula de três irmãos e, portanto a mais mimada, minha mãe era muito carinhosa e condescendente, eu vivia bem até que um dia apareceu meu pai.

- Vamos embora.

- Pra onde? - perguntou minha mãe um tanto distraída.

- Fui promovido, vamos para uma casa nos arredores de Berlim - Meu pai sempre teve um rosto impassível, nada o incomodava, por isso ele conseguiu chegar tão longe.

- O que?! Mas pai, aqui estão todos os meus amigos, minha vida! Eu não posso ir! Não posso! - exclamei, sabendo que sempre obteria a mesma resposta. Ele ergueu a mão.

- Cale a boca Márcia, não estou perguntando, estou informando. - Como sempre, ele me olhou rudemente.

- Inclusive - Ele olhou para mim novamente com uma cara um tanto crítica.

- Não estou pedindo sua opinião, apenas estou informando que até terça-feira você deverá estar com suas coisas embaladas, caso contrário, direi a Alexander que faça as malas no seu lugar.

- Sim "Senhor Comandante" – Digo fazendo ênfase irônica em seu novo título.

Aquele dia eu nem desci para jantar, apenas fiquei no meu quarto, como eu diria a minha melhor amiga que iria embora? Que a abandonaria e que não terminaríamos o colégio, que depois de uma vida juntas agora deveríamos nos separar. Não havia dito absolutamente nada até domingo da mesma semana, estávamos passeando pela cidade quando disse com franqueza:

- Camila eu vou embora

Ela largou meu braço e começou a olhar para mim, parecia que seus olhos tinham sido manchados e seu queixo começou a tremer.

- Quando?

- Terça-feira, meu pai foi promovido, ele apenas nos informou que partiríamos e eu só tenho que obedecer - Não quero olhá-la nos olhos, sei que vou partir o meu coração de muitas maneiras se a vir chorar.

- Por que você não me contou antes?

- Porque não quero ir, quero estar aqui, quero estar com meus amigos, quero terminar os estudos aqui, não quero me perder num lugar onde eu nem sei o que vai ser assim.

Nos abraçamos com aquela promessa de que eu voltaria para visitá-la, e outras muitas que eu não sabia se poderia cumprir, mas que eu definitivamente lutaria para conseguir.

Antes que eu pudesse perceber já era terça-feira, estava em uma caravana de carros que nos levaria para a nossa nova "casa", minha posição não era das melhores, fui com a cabeça colada no vidro, imaginando de milhares maneiras que ficaria entediada naquele lugar, até que meus olhos simplesmente cederam à pressão do sono e eu adormeci.

Sinto alguém tocar meu ombro, me fazendo acordar com um pouco de preguiça.

- Estamos aqui meu amor, vamos, temos que desfazer as malas.

Olho para ela um pouco desorientada, talvez um pouco irritada, embora saiba que não é culpa dela.

- Ok, já que não tenho outra escolha.

- Filha, por favor... - Ela me olha com olhos suplicantes, eu sei que ela não quer que eu tenha problemas com meu pai.

- Tente fazer isso funcionar, ele só tem que seguir ordens.

- Eu sei mãe, mas não significa que eu goste disso.

- Eu sei filha, mas ele precisa do nosso apoio agora. Bufei com um pouco de raiva.

olhares // marinêsOnde histórias criam vida. Descubra agora