olhares (pt2)

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1945

O Exército Vermelho e os Aliados derrotaram o Führer.

Os russos tomaram Berlim, os americanos derrotaram o Japão no Pacífico e a Itália também caiu, tomando a derrota iminente do Terceiro Reich um fato.

Ela viu os famosos tanques IS e Sherman derrubarem os Panzers alemães sem piedade. Os soldados do Reich largaram as armas enquanto as companhias vermelhas marchavam nas ruas. Sua mãe segurou sua mão com firmeza, elas foram camufladas entre os civis que marcharam com medo dos bolcheviques, que hostilmente espancaram e atacaram os soldados. Não muito longe dali, gritos de alívio foram ouvidos. Os portões de Dachau foram abertos, o que significava que a empresa de seu pai havia falido. Sua mãe apertou ainda mais sua mão e tentou abrir caminho no meio da multidão, mas um forte puxão em seu braço a impediu de avançar, ela havia sido arrancada das mãos de sua mãe e agora estava sob o aperto violento de um soldado Red.

- Esse lixo diz que você é filha do general, é verdade? - Márcia ouviu as palavras saindo da boca do homem, mas seus olhos estavam em Ulloa, sua aparência normalmente imaculada agora não era muito diferente da dos pobres judeus quem ele costumava desprezar.

- Não. - Márcia respondeu ao soldado russo que estava se dirigindo a ela, então sua mão apertou a da mulher que tremia ao seu lado.

- Ele é um soldado. - Os olhos da morena pousaram-se no menino que a olhava sem entender nada do que aquele homem dizia, sentindo que nada de bom poderia sair daquele olhar frio.

- Sim, é a mão direita do general. - A mulher respondeu sem a menor dúvida, ainda sentindo aquele ressentimento vivo depois de ouvir o tiro que a separou de Inês.

O primeiro golpe com a arma o derrubou no chão - Anda, seu lixo fedorento - O bolchevique berrava de desprezo, causando um olhar de terror naquele soldado que tanto mal havia causado.

- O que você fez Márcia?! - Rugiu o soldado com raiva. - Como é possível que você tenha me traído?

- Eu nunca fui fiel a você. - A mulher respondeu com raiva, apesar de sua mãe ter puxado sua mão para tentar mantê-la em silêncio. - É o que você ganha por ter me separado da única pessoa que eu amei.

- Maldita! - Ele rosnou desconfiado. - Bem, se eu queimar no inferno, vou te levar comigo. - Ele sentenciou, voltando o olhar para aquele homem no qual apontava a arma. - Ei Bolchevique!

O soldado soviético não teve compaixão em acertá-lo com a coronha da arma. - Cuidado com o que fala. - Rugiu de fúria ao ouvir aquele jovem irreverente.

- Ela é minha filha. - Disse ele com certa zombaria. Márcia olhou para ele com certo horror, porque seu pai tinha razão quando uma vez disse a ela, "Víboras agem perfeitamente quando se trata de trair", e agora fazia sentido. -  Márcia, filha única do general.

- Filho da puta.

- Eu posso ser um filho da puta, mas você está vinculada a mim, e isso inclui a viagem pelo inferno a que você acabou de nos condenar.

Logo, o gosto de sangue estava presente em sua boca, aquele homem havia batido nela.

-  Estúpida. - Ele cuspiu com desprezo aos seus pés, deixando claro que ela, neste jogo não passava de um simples peão, que todo o poder que envolvera o pai em seus dias de glória havia explodido em seus rostos e isso tinha se tornado seu pior pesadelo. -  Mexa-se, desgraçado - rugiu o homem, cravando furiosamente o canhão nas costas, marcando neste caso, como a última vez que iria desfrutar do ar puro das manhãs de inverno, seria a última vez que teria paz.

Memórias a assombravam cada vez que alguém a batia ou a tratava com desprezo. Pois a única coisa que vem a sua mente é que Inês sentiu isso em cada um dos dias em que esteve sob o controle de seu pai. Enojou-a saber que seu povo se considerava superior, e que em algum momento ela também se acreditava, até que seus olhos encontraram aquele chocolate macio que a olhava timidamente.

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